Pecados Não Podem Ser Esquecidos - Parte II

— É um prazer, Chloe.

Estendi a mão para um aperto formal e ela retribuiu, parecendo muito gentil.

Aproveitei para cumprimentar Lily também, com outro aperto de mão, e Corey não se contentou apenas com esse mesmo cumprimento que fui lhe dar, ele teve que me puxar pela cintura ignorando todas as pessoas ali, tocando minhas costas com a pele exposta pelo decote, e beijando meu rosto com uma demora perceptível e quase incômoda.

Então, bem a contragosto, me desvencilhei dele para beijar Paul e Jason, meu pai adotivo e meu irmão do meio. Todos devidamente cumprimentados, e eu deixando bem destacado o meu papel ali.

Se Lily achava que eu era só uma funcionária da Hayans e melhor amiga do seu noivo, percebeu que tinha se enganado.

— Bom, todos estão no jardim. Vamos nos juntar a eles já que as majestades chegaram — Jason se referiu a mim e a mãe, saindo da cozinha acompanhado de Paul sem mais esperar.

Fiquei intacta ao lado de Marisa enquanto um silêncio reinou por alguns segundos.

A noiva do meu melhor amigo me olhava de um jeito estranho. Não parecia ter raiva ou coisa assim, mas foi um olhar que eu nunca havia recebido antes e não poderia explicar ao certo do que se tratava.

— Então, você pode ir até o escritório resolver aquele pequeno assunto que eu te pedi, meu amor? — Marisa se virou para mim e perguntou gentil, quase me fazendo ficar confusa, não fosse pelo sorriso falso me lançado.

Eu conhecia cada feição da mulher, e sabia que tinha coisa.

Aham, claro que sim — concordei, tentando entender o porquê de ela ter mudado de ideia. Não me queria longe dela e agora pediu para que eu me afastasse.

— Corey, amor, acompanhe a Chloe, por favor. Ela precisará de uma ajudinha — disse sorridente ao filho que assentiu rapidamente. — Eu cuido de Lily e Jasmine por enquanto. Você não se importa, não é, Lily?

— N-não. Claro que não. — Se virou para Corey e lhe deu um selinho. — Vai lá, meu amor.

Eca. Não sabia que era nojento ver Corey beijando alguém até que vi.

Marisa tinha razão, os dois não combinavam, isso porque era visível que o homem nem feliz de verdade estava. Tinha alguma coisa muito errada.

Ainda sem entender, saí da cozinha em passos rápidos e meio desajeitados por causa dos saltos, pensando que talvez tivesse mesmo alguma coisa para ser resolvida no escritório de Marisa, então andei até chegar na escada pronta para subir os degraus mas fui parada antes de pisar no primeiro.

— O que você está fazendo? — Corey rodeou minha cintura com um braço e me puxou tão rápido contra seu corpo que só percebi o ato quando minhas costas tocaram o peito largo do homem.

— O que você está fazendo? — repeti a pergunta tentando me soltar dele. Em vão. — Desgruda, Corey!

— Chloe, que vestido é esse? Você quer deixar todo mundo maluco hoje?

Ainda me debatendo entre seus braços, formulei alguns palavrões para dizer a ele, mas não disse. Tinha que manter a postura e a sanidade, ou então ia gritar como uma louca.

— Corey Legard, me solta agora! — ordenei em bom som e enfim ele largou meu corpo.

Me virei para olhá-lo com as mãos na cintura e encontrei um Corey bravo de braços cruzados.

— Que caralho de roupa é essa, Chloe?

Franzi as sobrancelhas e fiz minha melhor cara de desentendida. Se Mia queria que eu usasse aquela roupa para provocar Corey Legard, ela poderia comemorar pois saiu triunfante no plano.

Meu melhor amigo estava terrivelmente incomodado, assim como eu.

— O vestido? Ah, nossa, você gostou? Foi eu quem escolhi, achei que hoje seria uma boa noite para usar algo especial. — Me fiz de ingênua, recebendo uma feição de reprovação vindo do homem à minha frente.

— Deixa de ser sínica, Chloe. Como é que você coloca uma coisa assim depois de eu dizer que sua bunda está dez vezes maior?

— Você não disse isso, só disse que ela está grande. E qual é o problema nisso afinal?

— O problema é que todos os outros homens desse lugar, menos o papai, vão ficar assim... — Olhou para baixo como se apontasse para algo.

Desci o olhar para a calça social de Corey e tenho certeza que fiquei vermelha quando entendi a merda que estava acontecendo.

Mas que porra.

— Corey Legard, você só pode estar brincando com a minha cara! — disse entredentes.

— Quem está brincando com a minha é você! — Se aproximou dois passos e me encurralou no corrimão da escada. — Vai subir até o quarto agora e procurar alguma roupa sua que dê pra usar no jantar, mas desse jeito você não aparece lá fora. Eles vão querer te devorar, Chloe.

— Deixa de ser idiota. Eu sou a irmãzinha deles. Ninguém vai querer me comer com os olhos, só o Jason, mas ele não é nenhuma surpresa, dá pra ignorar facilmente.

— Ok — passou a mão pelo rosto em um ato de frustração —, você não está querendo me ajudar. É tão simples não me fornecer dor de cabeça hoje.

— Ah claro, é isso que eu faço afinal. Forneço dor de cabeça pra você. É sempre assim, não é?

— Quando você resolve usar camisola de alcinhas e andar com vestidos que marcam cada curva do seu corpo, sim, você me proporciona uma dor de cabeça bem dolorida. Porque acredite em mim, é um saco conseguir aliviar.

Quando entendi para que lado Corey havia levado a conversa e sobre o que ele estava falando, ponderei responder alguma coisa mas nada foi formulado em minha mente.

Não que nunca tivéssemos falado sobre o assunto "sentir tesão um pelo outro", mas era sim um assunto que se tornou proibido com o tempo e que só podia ficar entalado em nossas gargantas assim como tínhamos que engolir o tesão.

Então, Corey não poderia ter confessado, nem de um modo informal, que seu pau ficava duro por minha causa.

Éramos "irmãos".

— Corey... — resmunguei em tom de alerta.

— Só confesso que não vou conseguir te ver assim a noite toda, pensando que na mente de cada um deles cenas perversas são criadas. Eu não quero que eles imaginem, Chloe. Quero que eles nunca pensem em te tocar e acabar te machucando.

— Você tem uma necessidade enorme de deixar o passado para trás, precisa fazer isso. Ninguém vai me machucar, Corey, muito menos os seus irmãos. Faça-me o favor!

Não permiti que a discussão continuasse. Comecei a subir os degraus da escada indo para o primeiro andar.

Tinha certeza de que Corey secou minha bunda enquanto eu rebolei a cada nível mais alto, no entanto, me movimentei ainda mais ousada, por pura birra.

— À propósito, você está magnífica essa noite. Completamente maravilhosa — constatou quando eu já estava nos últimos degraus.

— Vá se foder, Legard! — Levantei a mão e mostrei um dedo do meio para ele.

Continuei subindo até chegar no extenso corredor onde ficavam os quartos dos filhos de Marisa e Paul Legard. Andei um pouco mais até parar na terceira porta do lado esquerdo, a porta do meu antigo quarto.

Foi ali que dormi durante muitos anos, desde que minha mãe faleceu em um acidente no mar e sua patroa decidiu cuidar de mim, visto que meu pai não quis me criar.

Era isso, eu nasci filha da babá dos Legards. Minha mãe, Coral Clinton, foi contratada aos dezesseis anos para cuidar do primeiro filho, Scott Legard. Os próximos vieram e ela permaneceu como babá e membro fiel da família.

E então eu apareci em seu ventre.

Me contaram que quando Marisa descobriu que seria uma menina, ela vibrou mais que minha própria mãe. Seria uma garota no meio de três meninos. Uma menina para alegrar os dias deles. E então eu nasci, e fui criada junto a Scott, Jason e Corey.

Marisa foi quem mais me teve como sua, e aos quatro anos, quando minha mãe sumiu em uma tempestade no meio do mar que fez o barco virar, eu ganhei um quarto só para mim na mansão e fui apresentada ao mundo como filha dos Legards. Foi me dado o sobrenome deles já que nunca tive o do meu pai biológico e eu me tornei a garotinha de Marisa e Paul, a única, pois o caçula e último filho foi Buck.

Depois de muitos anos, sentindo o peso do sobrenome e sabendo quais os fardos de fazer parte da Família, eu fiz questão de não usar o sobrenome Legard, e garanti que ninguém na universidade saberia que eu era a garota que uma das famílias mais poderosas do país adotaram.

Foi assim até os dias atuais, principalmente quando entrei na Hayans para exercer minha profissão, fiz o possível e o impossível para que me vissem apenas como a melhor amiga de Corey e uma pessoa próxima dos outros.

As descobertas que fiz me levaram a isso, e meus pais adotivos não tiveram escolhas ao aceitar minhas condições para ainda ter contato com eles.

Respirando fundo, toquei a maçaneta gelada e a girei mesmo imaginando que estaria trancada. Marisa não permitia que ninguém entrasse lá senão eu e ela.

Contudo, quando empurrei a porta, ela se abriu e um vento gelado tocou meu corpo quando dei um passo para adentrar o quarto.

A janela do cômodo estava escancarada. As cortinas azuis claro balançavam forte e por um momento senti um cheiro que a muito, muito tempo não sentia.

Não foi nada bom.

Entrei em pânico. Um medo absurdo me dominou e um arrepio correu por todo o meu corpo, dos dedos dos pés até meu último fio de cabelo.

Meu estômago embrulhou, meu coração acelerou e por um momento senti minhas pernas falharem.

Era como se o ar do mundo inteiro tivesse sido sugado, e ainda assim, eu sentia aquele maldito cheiro, mesmo que as vias respiratórias pareciam não funcionar.

Não era possível. Não. Eu estava só fantasiando. Por algum motivo idiota fantasiei.

Não tinha como ser real.

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