CAPÍTULO 04 - Pecados Não Podem Ser Esquecidos

O sol majestoso já estava se pondo quando cheguei na casa de Marisa Legard, ou melhor dizendo, na mansão Legard tão bem conhecida por mim.

Havia muitos carros no estacionamento e um em especial me chamou a atenção. Era na cor rosa bebê, bem a cara da tal Lily.

Conversei com a mulher uma única vez desde que Corey a apresentou. A loira me tratou como uma mera funcionária, e hoje, para sua surpresa, ela entenderia qual o meu posto na Família e qual o lugar que eu ocupava na mesa de jantar.

Sim, isso era de grande importância, ela veria que sim.

Não demorei para sair do táxi e caminhar em direção à escada, subindo lentamente cada degrau bem pintado para chegar até a porta de uns quatro metros, pesada e linda.

A empurrei e adentrei o salão de entrada, avistando a imensa escada de mármore branco e os sofás chiquérrimos que adornavam o cômodo.

Marisa tinha um dom incrível para decorar ambientes, não era atoa que iniciou sua carreira na Hayans como a designer de interiores que comandava todo o seu setor, e depois, a mulher se formou em arquitetura e só cresceu no que hoje é sua empresa também.

Risos foram ouvidos vindo da cozinha, risos de mulheres que eu ainda não tinha escutado antes. Provavelmente a sogra e a noiva de Corey. Revirei os olhos só de pensar em como teria que ser falsa fingindo gostar da mulher.

Não poderia decepcionar Corey nesse quesito. Ele precisava de alguém para lhe dar força, visto que sua mãe não estava nem um pouco feliz com o repentino noivado.

Nós não estávamos em nosso melhor momento depois de ter flagrado aquela cena voluptuosa na minha sala, mas tínhamos o dever de manter uma certa harmonia, mesmo evitando trocar palavras um com o outro.

Eu não ia ceder tão fácil, nem faria as vontades de Corey só para ele achar que podia comandar a minha vida. Havia limites, e ele teria que respeitar meu ponto de vista também.

Então, tomando coragem e colocando um falso sorriso no rosto, dei passos em direção aos sons, me xingando internamente por escutar as palavras de Mia.

Ela sim era a típica amiga tóxica que queria mandar e desmandar em toda a minha vida, e quando contei sobre Corey ter descoberto sobre o meu sexo casual com um funcionário da Revista, ela me obrigou a fazer tudo o que não gosto.

Vestidos eram tipo uma tortura pra mim.

Vai falar para uma mulher que usou calça a vida toda pra testar uma saia ou algo assim, não dá!

Não pra mim, que tinha o costume de deixar as pernas escondidas dos olhos de todas as pessoas que não fossem Corey.

Contudo, tendo uma amiga como Mia Flayti, seria bem óbvio que eu teria que me submeter às suas vontades, e lá estava eu, com um vestido dela que jamais pensei que teria coragem de usar, com um decote enorme nas costas e um tecido preto me apertando as coxas. Não bastasse isso, tive que usar um scarpin de salto gigante só para ficar parecendo um poste.

Mia disse que eu era a mulher mais sexy que ela já tinha visto, eu só vi uma mulher vulgar quando me olhei no espelho. Não que eu pensasse que roupa definisse caráter ou coisa assim, mas para quem usava terno dia e noite, eu realmente estava desconfortável naquele vestido minúsculo.

Considerando minhas vestimentas diárias, aquele vestido era um pecado.

— Chloe?

Me virei na direção da voz e atrás de mim Buck lançava um olhar surpreso para meu corpo. Efeito da falta de tecido me cobrindo, lógico.

— Bom início de noite, pirralho! — Caminhei até ele no sentido oposto à cozinha, e depositei um beijo em sua testa.

Buck segurou minha cintura e voltou a me avaliar como se não acreditasse que era mesmo a garota chata que sempre cuidou dele com as roupas largas de moletom e as bermudas de Corey.

Nenhuma pessoa daquela casa tinha me visto de vestido já fazia uns bons anos. A última vez que usei uma peça assim foi na minha formatura, e não foi curto, já que deveria ser um traje formal, apesar de que aquele tinha um decote enorme na frente.

— Porra, o que aconteceu com você? — Os olhos brilharam em empolgação.

— É o vestido. Me deixa parecendo uma daquelas garotas que o Jason saía, eu sei. — Dei de ombros sorrindo, tentando descontrair e evitar pensar tanto em correr para trocar de roupa.

O jovem movimentou a cabeça em negação.

— Não... Isso é diferente. É só a Chloe durona de sempre se mostrando uma delícia sem aqueles trajes sociais.

— Buck Legard, feche essa sua boca de neném — repreendi o palavreado, rindo de suas constatações.

— O Corey vai surtar quando te ver assim — comentou com um sorriso que, ao mesmo tempo que brincalhão, era preocupado.

Me soltei de seu agarre e puxei o tecido do vestido para baixo, morrendo de medo que alguém pudesse ver alguma coisa que não deveria.

Cada vez que eu andava, sentia que a seda se movia e subia, desnecessariamente.

— Ele não vai ter olhos para mim essa noite. Tenho certeza que a noiva dele vai brilhar — falei convicta.

— Você é a estrela do Corey, ninguém nunca vai brilhar mais do que você. E nesse vestido, desse jeito que ninguém nunca viu, ah, você está muito perceptível. — Suspirou como um adolescente bobo, o que realmente era.

— Ok, já chega. Eu vou embora agora mesmo se você continuar com esse papo sem fundamento. É só uma peça de roupa, não uma coroa de ouro.

— Mas não vai mesmo! — indagou a voz doce e feminina. — Se tem uma coisa que ensinei aos meus filhos, é que eles precisam exaltar a beleza das mulheres da Família. Buck só está reconhecendo que a minha única menina é linda pra caramba.

Girei a cabeça para olhar a mulher descendo a escada, maravilhosa em seu vestido evasê vermelho que ia até um pouco abaixo dos joelhos. Um penteado provavelmente feito por ela mesma mantinha seus cabelos presos lhe deixando delicada e charmosa. Uma linda mulher de cinquenta e dois anos mas que aparentava ter trinta e poucos.

— Boa noite, Mari! — Sorri singela, me virando para aquela que me tinha como filha, literalmente. — Não acha que está muito vulgar?

— Com certeza, não. Você está magnífica. — Chegou perto de mim e pegou em minhas mãos, me olhando orgulhosa, com um sorriso lindo estampando os lábios nudes.

Tivemos nossas desavenças há um tempo atrás, mas estávamos melhorando isso e eu deixei passar certas coisas. Era bom ver seus olhos brilhando ao me ter por perto. Sentia o conforto do meu lar.

— Você também está muito linda, mais que o habitual.

— Só não estou feliz — afirmou, desmanchando o sorriso bonito. — A garota não tem nada a ver com o Corey. Os dois são de mundos tão distintos. Eu realmente não sei o que ele está fazendo da vida dele.

Buck permaneceu ao nosso lado, atento à conversa e às minhas pernas.

Lhe lancei um olhar inquisitivo e ele entendeu que deveria nos deixar sozinhas, então saiu, piscando para mim antes de sumir pela porta em que entrei a pouco.

— Como melhor amiga, eu acho que ele está certo sobre isso. Ele parece decidido. Agora, como a garota que o ama incondicionalmente, eu não quero que o casamento aconteça, no entanto, não vou fazer nada para impedir — confessei. Nada me faria não apoiar Corey, nem mesmo o pedido de socorro de nossa mãe.

— Chloe, ele está prestes a cometer um erro. Corey não ama a garota, ele jamais conseguiria amar alguém tendo outro alguém preenchendo o peito dele de amor. O meu menino já ama uma pessoa, e essa pessoa não é a Lily — garantiu, angustiada.

Marisa sempre falava sobre Corey amar alguém, sobre como não seria capaz de acabar com esse amor, mas eu nunca levei a sério essa constatação, visto que eu sabia que a namorada de adolescência havia sido superada depois de alguns anos.

Então, não, o amor por ela havia acabado de vez.

— Ele não fala muito sobre ela na verdade, então não estou podendo opinar. Não sei o quanto ele é apaixonado, ou não.

— Eu já disse que ele precisa de uma mulher forte e independente, não de uma garota que mal consegue conversar comigo sem a presença da mãe — replicou indignada.

— Eu realmente sinto muito, mas não acho que posso ajudar.

A mulher me encarou, terna e com mais um sorriso se formando nos lábios.

Era quase doloroso ver ela me observando com tamanha admiração. Desde que brigamos, não voltei a frequentar a casa como deveria, e isso a machucava de forma visível, Corey e Scott sempre intervia para que eu não a punisse por tanto tempo, e por mais que não gostasse de fazer isso, e sequer fazia por mal, não era tão fácil a olhar do mesmo jeito.

— Vai me ajudar sendo meu chiclete hoje a noite. Não desgrude de mim por um só segundo. Eu não vou suportar ficar sozinha com elas, e não aguento passar mais um segundo sequer longe da minha menina.

Ri do seu pedido inusitado, mas assenti garantindo que ficaria com ela.

Marisa me abraçou e eu retribuí, me recordando de todas as vezes em que corria para seus braços acolhedores. Mas sem mais enrolação, separei nossos corpos e fomos para a cozinha onde ainda se podia ouvir os risos das mulheres e a conversa alta dos homens.

Quando adentramos o cômodo grande, juntas, todas as cinco pessoas presentes ali pararam de rir, de conversar e até mesmo de respirar.

Sim, Paul Legard deixou de respirar quando avistou sua mulher tão linda naquele vestido. Era lindo ver o quanto ele a admirava e não fazia questão nenhuma de esconder como babava por ela.

— Meu. Deus. Minhas garotas estão maravilhosas. Eu deveria colocar vocês na capa da Hayans sem pensar duas vezes.

Sorri sem graça, levando meu olhar para a noiva de Corey, Lily Crawford. Uma linda e insuportável moça loira e rica. É, era assim que eu a via.

— O que aconteceu com você? — Corey sussurrou enlevado. A cara de bobo que só o deixava ainda mais lindo.

— A Chloe cresceu irmãozinho — Jason respondeu e sorriu para mim de um jeito que entendi muito bem, e não gostei. Ele que não iniciasse sua tortura comigo tão cedo.

— Cresceu e está magnífica, como a mãe de vocês — concluiu Paul.

Os três babões ficaram com os queixos caídos, olhando para nós duas que apesar de não termos o mesmo sangue, éramos muito parecidas. Eu não pude evitar de também admirar a beleza dos Legards, todos eles eram providos de uma beleza sem igual, desde o pai até o mais novo.

— Bom, acho que a Lily já conheceu minha única menina, então Jasmine, essa é a Chloe, a princesa da família. — Me apresentou para a sogra de Corey, com orgulho transbordando em cada palavra.

"Minha única menina". Isso me enchia, ao mesmo tempo que me fazia lembrar dos porquês.

E eles não eram tão bons.

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