Amélia sempre viveu uma vida simples, guiada pela fé e pelos valores religiosos. Mas tudo muda quando, durante uma ação social na comunidade, ela cruza o caminho de Arthur, o homem mais temido do morro, conhecido como Pesadelo. Obcecado por sua beleza e inocência, Arthur decide que Amélia será dele, queira ela ou não. Entre a razão e o desejo, o certo e o proibido, Amélia tenta resistir, mas a atração entre eles é avassaladora. Presa em um mundo perigoso, onde amor e obsessão se confundem, Amélia precisará enfrentar seus medos para não perder a si mesma. Afinal, um homem como Pesadelo nunca aceita um "não" como resposta.
Leer másAMÉLIA
O sol ainda nem tinha dado as caras quando acordei naquela manhã fria, mas mesmo assim senti que o dia seria um dia abençoado. Sempre gostei dessas manhãs tranquilas, quando o mundo ainda está despertando e tudo parece mais calmo.
Vesti minha camiseta de voluntária, combinei com a saia jeans longa e joguei a mochila cheia de suprimentos nas costas. Meu destino era a comunidade onde a igreja realizaria mais uma ação social. O caminho era esburacado, cheio de subidas e ladeiras, mas eu estava feliz. Minha mente estava focada na missão do dia: ajudar, servir, fazer a diferença, nem que fosse só um pouco.
Ajudar as pessoas era mais do que uma missão, era uma forma de demonstrar amor. Minha mãe sempre dizia que um coração generoso nunca volta vazio, e eu acreditava nisso com cada parte de mim.
Meus olhos passeavam pelos barracos humildes, e eu imaginava famílias inteiras lutando todos os dias, sonhando com um futuro melhor. Se eu pudesse, faria muito mais por eles.
Ao chegar à praça central da comunidade, encontrei os outros voluntários já reunidos, descarregando caixas de um caminhão e organizando as mesas de distribuição.
Foi quando meus olhos encontraram Liliana.
Ela era uma colega da igreja que parecia nunca estar triste, sempre sorridente. Talvez eu devesse ser mais assim, mais aberta, mais confiante. Mas eu sempre fui reservada, sempre tive medo de me aproximar demais e acabar me machucando.
— Bom dia, Liliana! — cumprimentei, sorrindo.
— Bom dia, Amélia! — Ela me olhou com os olhos brilhantes. — Graças a Deus, conseguimos muitas doações hoje!
Fazíamos parte do grupo de voluntariado há alguns anos, mas nuncaa tivemos um contato mais próximo. Enquanto ajudávamos a organizar as roupas doadas, Liliana puxou assunto:
— Você tá nesse grupo há quanto tempo, Amélia?
— Uns três anos, desde que me mudei pro Rio. — Respondi enquanto dobrava uma blusa de frio e a colocava sobre a mesa de distribuição.
Ela sorriu.
— Sempre te vi dedicada, sabe? Mas nunca tivemos a chance de conversar direito. Eu sempre quis ser sua amiga, mas achei que ia te assustar com meu jeito... expansivo. — Ela riu, dando de ombros. — Às vezes, eu falo demais, e sei que nem todo mundo gosta.
Soltei uma risadinha.
— Se eu soubesse disso, teria me aproximado antes.
— Eu sempre quis te conhecer melhor, mas você parecia meio na sua, sabe?
Pisquei algumas vezes, refletindo sobre aquilo. Sim, eu sempre fui mais reservada, mais fechada no meu próprio mundo. Mas, no fundo, também sentia falta de ter uma amiga para quem eu pudesse contar tudo.
Ela estendeu a mão.
— Que tal, a partir de hoje, sermos amigas de verdade?
Segurei sua mão e assenti.
— Amigas.
Eu nunca tinha tido uma amiga antes.
Ela apertou minha mão com força e depois me puxou para um abraço apertado, me pegando de surpresa.
— Agora você tá lascada, viu? Porque eu sou grudenta! — brincou, rindo.
Ri junto com ela. Talvez eu não precisasse mais me sentir tão sozinha.
Seguimos com o trabalho, montando as cestas básicas. O padre Marcos, líder do grupo, veio nos dar palavras de encorajamento.
— Muito bem, meus jovens. Tenho orgulho de vocês! Cada pequeno ato de bondade conta.
Sorri, concordando com a cabeça.
Mas essa paz durou pouco.
No meio da distribuição das cestas, senti uma sensaçãoo estranha, como se allguém estivesse me olhando.
Meu corpo enrijeceu.
Levantei os olhos devagar e vi um homem alto e musculoso, parado do outro lado da praça. Ele não fazia nada além de me observar.
Os olhos dele eram frios, intensos, calculistas. Me analisavam como se enxergassem cada pedaço de mim, como se me despisse sem precisar tocar.
Um arrepio subiu minha espinha.
O sol batia sobre sua pele bronzeada, destacando as tatuagens espalhadas pelos braços, pescoço e mãos.
Por que ele estava me olhando daquele jeito?
— O que…? — murmurei para mim mesma, sentindo um nó na garganta.
Engoli em seco, tentando afastar a sensação estranha.
— Por que ele tá me olhando assim? — sussurrei, sentindo meu coração acelerar.
Abaixei a cabeça e tentei me concentrar no que estava fazendo, mas minha mente não colaborava.
Sem resistir, ergui os olhos outra vez.
Ele ainda estava lá.
Ainda me observava.
Meu peito subiu e desceu rapidamente, e minhas mãos apertaram a lateral da saia, nervosa.
Liliana percebeu minha tensão e seguiu meu olhar.
— Não olha muito, Amélia. — Ela abaixou o tom de voz. — Esse é o Pesadelo.
Arregalei os olhos.
— Quem?
— Ele comanda o morro. Melhor manter distância.
Pesadelo.
O apelido fez minha pele arrepiar. Soava ameaçador, mas, ao mesmo tempo, me deixava intrigada.
Engoli em seco e tentei não olhar mais. Mas falhei.
O olhar dele não vacilava. Não desviava.
— Por que ele tá me olhando tanto, Liliana? — murmurei.
Liliana franziu o cenho, sua expressão ficando mais séria.
— É estranho… — ela disse. — Ele nunca aparece aqui assim, do nada.
Meu estômago se revirou.
— Como assim?
— O Pesadelo não é de ficar andando por aí à toa. Se ele tá aqui, deve ter um motivo.
Arregalei os olhos.
— Que motivo?
Ela deu de ombros, mas seu olhar carregava um alerta silencioso.
— Não sei, mas seja lá qual for, não pode ser coisa boa. — disse. — É melhor você tomar cuidado, Amélia. Não dá confiança e, pelo amor de Deus, não encara ele.
Engoli em seco, desviando o olhar imediatamente. Mas mesmo sem ver, eu podia sentir o olhar dele queimando a minha pele.
— Você fala como se ele fosse perigoso…
Ela soltou uma risada curta, sem humor.
— Amélia, você não faz ideia. Esse cara é perigoso.
AMÉLIANos meses que se seguiram, nossa vida mudou de formas que nunca imaginamos. O amor do Arthur e a dedicação dele se intensificaram ainda mais. Ele fazia questão de estar presente em todas as consultas médicas, cuidando de mim com uma ternura que poucos conheciam. Nossa casa, que antes parecia tão grande e vazia, agora estava cheia de risos, preparativos e expectativas.Nosso pequeno milagre estava bem próximo.Mas enquanto nossa felicidade crescia, percebi mudanças ao nosso redor que não consegui ignorar. Havia algo no ar.Minha mãe estava diferente. Ela parecia mais leve, mais viva, quase como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros.No entanto, eu não podia ignorar os momentos estranhos que flagrava entre ela e PH. Não era só minha imaginação, havia algo ali, eu sentia isso.Os olhares prolongados que trocavam, cheios de significados não ditos, os sorrisos disfarçados que escapavam quando pensavam que ninguém estava olhando.Houve uma vez, em particular, que não consegui
AMÉLIAEstávamos deitados no sofá da sala, aproveitando a noite tranquila. Eu estava aninhada no peito de Arthur, sentindo o calor e o conforto de estar nos braços dele. A TV estava ligada, mas eu mal prestava atenção ao filme que passava. Era apenas um ruído de fundo, algo para preencher o silêncio enquanto minha mente vagava pelas lembranças de tudo o que tínhamos passado para chegar até aqui.Eu sentia a respiração calma de Arthur contra o meu cabelo, o ritmo constante do seu peito subindo e descendo sob minha cabeça. Era um som reconfortante, que me trazia uma sensação de segurança. Eu me lembrava de como ele sempre esteve lá para mim, mesmo quando eu me sentia perdida e assustada.Minhas lembranças me levaram de volta ao dia em que nos vimos pela primeira vez. Eu era apenas uma garota assustada, ajudando em uma ação social na comunidade.Nunca imaginei que aquele encontro mudaria minha vida para sempre.Arthur, o dono do morro, parecia tão distante, tão inacessível... tão perigos
JUSSARAOlhei para o relógio, buscando uma desculpa para ir embora. Não queria atrapalhar a diversão de ninguém, muito menos da minha filha.Era exatamente 16h20.Resolvi que já era hora de ir embora.Levantei os olhos e vi PH conversando com Arthur e Maicon, cujo nome eu não lembrava, mas que Amélia tinha me dito há pouco. PH sempre dava um jeito de me olhar durante a conversa, e eu não gostava de como isso me fazia sentir. Algo dentro de mim, adormecido há anos, parecia despertar. Uma sensação de calor no estômago, um nervosismo que eu não conseguia controlar.Nossos olhares se encontraram por um momento, e senti uma corrente elétrica passar por mim. O rosto dele estava sério, mas eu sabia que era tudo fingimento. Ele sabia o efeito que tinha sobre mim e parecia se divertir com isso.Seus olhos passearam lentamente pelo meu corpo, fazendo eu me sentir exposta e vulnerável. Meu coração acelerou, e eu tive que desviar o olhar, tentando recuperar a compostura. PH arqueou uma sobrancelh
JUSSARAO sol brilhava intensamente sobre o quintal da casa de Arthur e Amélia, onde um churrasco animado estava em pleno andamento. A churrasqueira estava acesa, e o cheiro de carne grelhando se misturava com as risadas.Eu observava todos, tentando me sentir parte daquele momento, mas a verdade era que me sentia deslocada. Minha filha estava à vontade, conversando com os amigos e rindo com Arthur.Eles pareciam tão felizes.Olhei ao redor e vi dois homens e uma mulher. Amélia tinha dito que aquela era Liliana, mas os outros dois eu não lembrava o nome.Era como se todos ali tivessem um lugar, menos eu. A única que conversava comigo era minha filha.— Mãe, você tá bem? — Amélia perguntou, percebendo meu desconforto.— Tô sim, filha. — respondi, forçando um sorriso. — Só um pouco cansada. Acho que daqui a pouquinho vou embora.Eu olhava ao redor, vendo os outros se divertirem, e me sentia ainda mais diferente, fora do lugar.— Acho que o carvão tá acabando. Vou buscar mais lá dentro.
AMÉLIAMinha mãe abaixou a cabeça, eu podia ver a culpa e a vergonha no seu rosto. Eu podia ver que as palavras do Arthur a machucavam, e mesmo assim ela não contestou. Em vez disso, levantou a cabeça novamente e olhou diretamente para ele.— Deixe, filha. É a verdade. — disse ela, sua voz fraca, mas firme. — Eu falhei com Amélia de maneiras que nunca poderei perdoar a mim mesma. Eu deveria ter visto o que estava acontecendo, deveria ter protegido a minha filha. Mas fui cega e fraca. — fez uma pausa, engolindo em seco antes de continuar. — Mas quero que saiba que eu vou fazer de tudo para recuperar a confiança dela... E fazer com que você também acredite em mim, Arthur.Arthur ainda parecia relutante, mas o olhar da minha mãe o fez parar por um momento.— Vou provar a vocês que sou capaz de mudar, de ser uma mãe melhor, uma pessoa melhor. — ela disse, olhando para mim com uma expressão de súplica. — Eu sei que não mereço perdão, mas vou lutar para reconquistar sua confiança, Amélia.A
AMÉLIA— Você está sozinha, mãe? — perguntei, notando a ausência de Agenor.Minha mãe balançou a cabeça, concordando, mas seu olhar estava cheio de hesitação.— Sim, estou. — ela disse, e então, depois de um momento de silêncio, acrescentou: — Agenor e eu começamos a brigar muito depois que você foi embora. Assim que eu pedi o divórcio, ele foi preso.Fiquei surpresa.— Por quê?Minha mãe suspirou.— Estupro de vulnerável. Foi pego em flagrante molestando duas crianças da igreja.Senti um nó se formar na minha garganta. Embora soubesse que algo assim poderia acontecer, ouvir as palavras de minha mãe tornou tudo ainda mais real. — Eu sabia que algo assim iria acontecer uma hora ou outra. — sussurrei, mais para mim mesma do que para ela.— Você está indo visitar ele? — perguntei, embora já soubesse a resposta.Minha mãe negou veementemente. Mais um vez ficou surpresa.— Não. Já estávamos separados há um tempo quando isso aconteceu e logo depois, o divórcio saiu.Houve um momento de sil
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