Início / Máfia / Seduzida pelo meu cunhado mafioso / 4. [Matteo] — Herdeiro das cinzas
4. [Matteo] — Herdeiro das cinzas

Entrei no carro e deixei Marco e P**e para trás. Eles sabiam se virar e eu precisava ficar sozinho. O encontro com Enzo me abalara mais do que eu gostaria de admitir.

Peguei a estrada que saía da cidade e levava até o vinhedo que um dia pertenceu à família da minha mãe, o mesmo que meu pai levou à ruína. A terra tinha sido penhorada pelo banco depois de anos de dívidas, e agora estava prestes a ser leiloada.

Enrico Bellandi vinha tentando renegociar os débitos, mas a morte dele mudava tudo. Com ele fora do jogo, seus herdeiros tinham trinta dias para quitar a dívida, ou perderiam a propriedade de vez.

Eu não era citado no testamento do meu pai — e não esperava ser. Mas nenhum homem podia me apagar do papel que realmente importava: a lei. Se ele achava que podia deixar tudo para o filho primogênito sem que eu contestasse sua vontade, estava mais louco do que eu lembrava.

A verdade era simples: Enzo não tinha dinheiro. E eu tinha o suficiente para fazer uma oferta ao banco e pôr fim à história antes que ela começasse.

Aquela terra valia mais do que o vinho que produzia, mais do que qualquer dinheiro. Era a única coisa que ainda podia ser salva do naufrágio que meu pai causou. O banco queria leiloar. Eu queria comprar. E Enzo… bom, Enzo ia ter seu sangue derramado se quisesse me impedir.

Estacionei em frente à casa abandonada. Meus pais se mudaram para a cidade há anos, quando o lugar se tornou insustentável, antes mesmo da propriedade ser confiscada. Ninguém vivia lá há muito tempo, e o teto e as paredes desabando eram uma prova disso.

Desci do carro e fui até os degraus que levavam à entrada. O luar iluminava a varanda decadente.

Eu deveria atear fogo naquilo. Deveria deixar que o banco ficasse com tudo e voltar para Roma. Mas lá estava eu, planejando recuperar aquele vinhedo e restaurar aquela casa que só me trazia lembranças miseráveis.

Sentei-me nos degraus e suspirei, afundando o rosto entre as mãos.

Estava com raiva, mas, pelo menos naquele momento, não era de Enzo ou do meu pai. Estava com raiva de mim mesmo. O que diabos eu estava fazendo, defendendo a esposa do meu irmão? Ela não era minha responsabilidade. Nenhuma mulher era. E não foi para isso que eu havia voltado.

Chiara me perturbava, a verdade era essa. Nas duas vezes em que a vi naquela noite, ela me distraiu. Era uma mulher bonita demais, intrigante demais. Se fosse em outro momento, eu a teria na minha cama sem pensar duas vezes. Mas não tinha ido até ali para me meter com minha cunhada.

Quem diria? Aquele troglodita do meu irmão casado com alguém como Chiara. Para uma mulher daquelas se sujeitar a isso, só havia duas opções: ou ela estava perdidamente apaixonada, o que eu duvidava, ou era uma interesseira que entrou para a família antes de ser dar conta da real situação financeira dos Bellandi.

Ou então… e se houvesse outro motivo?

Sacudi a cabeça, tentando afastar o pensamento. Já bastava de perder meu tempo com aquilo.

Ao longe, vi faróis iluminando a estrada. Apostava que eram Marco e P**e, mas, por via das dúvidas levei a mão à minha pistola, oculta pelo paletó.

As luzes se aproximaram, ofuscando meu campo de visão por um instante.

Apertei o metal frio da pistola com mais força, pronto para o que viesse. Meu corpo ainda estava em estado de alerta depois da cena na capela — e não seria a primeira vez que alguém viria atrás de mim para resolver um assunto com chumbo ao invés de conversa.

Mas os faróis diminuíram a intensidade, e reconheci o carro.

Marco estacionou ao lado do meu carro. Ele saiu do veículo com seu jeito tranquilo de sempre, mãos nos bolsos, mas os olhos atentos. P**e desceu do lado do carona e veio logo atrás, mastigando alguma porcaria comprada na estrada.

— Está tudo certo — Marco disse, como se lesse meus pensamentos. — Só queríamos garantir que você não estava morto numa vala.

— Ainda não — resmunguei, levantando-me devagar.

— O lugar é pior do que eu imaginava — P**e comentou, encarando a casa em ruínas. — E olha que minha infância foi num cortiço em Palermo.

Não podia discordar. O tempo e a ganância do meu pai deixaram sua marca ali.

— Essa terra vai ser minha — afirmei, encarando o vinhedo às escuras.

Marco se aproximou, ficando ao meu lado.

— E depois?

— Depois… não sei. Talvez eu cultive uvas. Talvez eu queime tudo.

Ele soltou um riso baixo, mas não disse nada. Sabia que, para mim, aquilo nunca foi só sobre a terra.

— Seu irmão vai tentar impedir — comentou por fim.

— Que tente — murmurei. — Não sou mais aquele moleque magricela que ele empurrava no chão.

Ficamos alguns segundos em silêncio. O vento batia nas folhas secas e fazia as tábuas da varanda rangerem.

Foi então que Marco falou, com a voz mais baixa:

— E a mulher dele?

Virei o rosto devagar, sem entender o motivo para a pergunta.

— Chiara?

Ele assentiu.

— Ela pareceu… surpresa com você. Ou talvez aliviada.

— Ela é bonita. E infeliz — respondi, como se isso encerrasse o assunto.

— A combinação mais perigosa que existe — disse Marco, antes de se afastar.

Fiquei parado, olhando para a noite. A voz de Chiara ainda ecoava na minha cabeça. Não adiantava tentar me enganar. Aquela mulher era um chamariz de problemas.

E eu estava começando a querer me envolver.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App