Capítulo 8

David Bellerose Neto

A voz de Clarisse reclamando de tudo se misturava ao barulho distante do vento batendo nas janelas. Ela insistia para que eu fosse pra cama, mas tudo o que eu conseguia pensar era no quanto aquela noite estava silenciosa, silenciosa demais pra quem carrega um turbilhão por dentro.

Olhei pela sacada e vi Lavínia lá fora, caminhando pelo jardim. Sozinha. A luz da varanda desenhava contornos dourados nos fios do cabelo dela, e naquele instante, tudo o que Clarisse dizia perdeu completamente o sentido, não que tivesse algum sentido.

Saí sem dar explicações.

O ar noturno me atingiu como um soco, frio e desperto. Caminhei entre as árvores, até que a vi, estava sentada na grama, encostada no tronco, com o rosto iluminado pela tela do celular. O olhar concentrado, o sorriso de canto... Eu sabia exatamente o que ela lia. Os romances que ela escondia dos outros, mas que traduziam ela por inteiro.

— Ainda lendo esse tipo de história? — perguntei, com um sorriso to