Após um longo gole, a senhora arriou o copo d’água e entrelaçou seus dedos nos do marido.
— Nós o chamávamos de Alê. — Ela sorriu de um jeito triste. — Os anos levam embora as recordações ruins. Uma hora, levam até mesmo as boas. Mas a saudade… ah, nunca a saudade!
A voz dela embargou, e o velho apontou para o copo com o indicador sinuoso.
— Beba mais um pouco, querida.
Demitre estava sentado diante do casal à mesa de café da manhã. Lexia, ao seu lado, parecia brigar com a enfermeira que existia dentro de si, pronta para interromper a conversa e tratar dos nervos da anfitriã.
Mais um gole, e a senhora continuou:
— Ninguém prepara a gente para a perda de um filho…
Quebrando um instante de silêncio, Lexia pigarreou e se manifestou:
— Posso perguntar como ele faleceu?
A senhora assentiu, mas foi o velho quem respondeu.
— Nunca descobrimos. Depois de cinco anos de busca, demos nosso menino como falecido.