Capítulo 5

Ele piscou primeiro, desviando rapidamente e voltando sua atenção para os irmãos. Mas eu ainda sentia o peso daquele olhar.

— Quem são eles? — sussurrei.

— Os novos alunos! — Emma praticamente vibrava de empolgação. — Família Valecliff. Chegaram na cidade semana passada. Ouvi dizer que se mudaram de algum lugar na Europa.

— Todos eles estudam aqui?

— Só esses três. — Sophie apontou discretamente. — Dorian, Seraphina e Adrian.

*Dorian.* 

O nome se fixou na minha mente sem permissão.

— Vamos logo. — Puxei as meninas. — Todo mundo está encarando.

Mas mesmo quando entramos no prédio, eu ainda sentia aqueles olhos azuis em mim.

***

Biologia era minha primeira aula. Normalmente eu gostava — experimentos, microscópios, a lógica clara de tudo. Mas hoje meu estômago estava revirado desde que entrei na sala.

Porque *ele* estava lá.

Dorian Valecliff sentado sozinho na última bancada do laboratório, o corpo rígido, os olhos fixos na janela como se estivesse planejando uma fuga. Ninguém se aproximava dele. Nem por curiosidade, nem por simpatia.

Era como se todos sentissem instintivamente que ele queria ficar sozinho.

O professor entrou, carregando uma pilha de papéis.

— Bom dia, turma! Hoje vamos trabalhar em duplas. Encontrem um parceiro.

*Não, não, não...*

Emma já tinha se juntado a Tyler. Sophie estava com outro colega. E quando olhei ao redor, a única bancada disponível era...

— Senhorita Morgan? — O professor me encarou. — Vejo que o senhor Valecliff ainda não tem parceiro. Por favor.

Engoli seco e me forcei a caminhar até o fundo da sala.

Dorian não olhou para mim quando me sentei. Nem se mexeu. Apenas continuou com o olhar perdido na janela, a mandíbula tensa.

— Oi. — Minha voz saiu baixa. — Eu sou Ayla.

Silêncio.

Ele finalmente virou o rosto, mas não para me cumprimentar. Para me *analisar*. Os olhos azuis desceram rapidamente pelo meu rosto, pararam no meu pescoço e então subiram de volta, agora carregando algo perturbador.

Estou imaginando coisas onde não tem.

— Dorian. — A voz dele era baixa, controlada. Aveludada, mas fria.

— Prazer.

Ele não respondeu. Apenas afastou a cadeira alguns centímetros, aumentando a distância entre nós.

*Nossa. Que grosseiro.*

Mordi o lábio e tentei focar no experimento. O professor explicava algo sobre células, mas minha atenção estava completamente desviada. Dorian não fazia nada. Não anotava. Não olhava para o microscópio. Apenas respirava lentamente, como se estivesse se concentrando em algo que eu não conseguia entender.

Quando estiquei o braço para pegar um frasco, a manga da blusa subiu, expondo parte do curativo.

Dorian congelou.

Os olhos dele fixaram no meu braço por um segundo longo demais. Então ele se levantou abruptamente, a cadeira raspando no chão com um barulho estridente.

Todos na sala olharam.

— Senhor Valecliff? — O professor franziu a testa.

— Preciso sair. — Ele já estava se movendo em direção à porta.

— A aula ainda não—

Mas ele já tinha ido.

Fiquei ali sentada, o coração batendo descompassado, sentindo os olhares curiosos dos colegas em mim.

*O que diabos foi isso?*

***

No intervalo, encontrei Sophie na biblioteca. Ela estava mergulhada em um livro de anatomia quando me sentei ao lado dela, ainda processando o que tinha acontecido.

— Ele é estranho — murmurei.

— Quem?

— Dorian Valecliff.

Sophie arqueou uma sobrancelha.

— Estranho como?

— Tipo... não fala nada. Age como se estivesse constantemente incomodado. E saiu da aula no meio do experimento.

— Talvez ele não goste de gente.

— Ou talvez ele seja só um babaca.

Sophie riu baixinho, voltando ao livro.

Suspirei e me levantei, decidindo procurar algo para ler. A biblioteca estava tranquila, apenas alguns alunos espalhados pelas mesas. Caminhei entre as estantes, os dedos deslizando pelas lombadas dos livros.

Anatomia. Biologia. Fisiologia.

Parei numa seção mais alta, esticando o braço para alcançar um volume sobre sistema nervoso. Mas estava longe demais. Me apoiei nas pontas dos pés, tentando puxá-lo, quando o livro escorregou.

Caiu direto no chão.

E pousou exatamente aos pés de alguém.

Olhei para cima devagar.

Dorian me encarava, o livro entre nós como uma ponte que nenhum dos dois queria atravessar.

— Desculpa — disse rapidamente, me abaixando para pegar o livro.

Mas quando estiquei a mão, a dele já estava lá.

Nossos dedos não se tocaram. Ele foi mais rápido, pegando o volume e ficando de pé num movimento fluido demais para ser natural.

Levantei também, e finalmente ficamos frente a frente.

De perto, ele era ainda mais perturbador. A pele dele era perfeita demais, sem nenhuma imperfeição. Os olhos azuis brilhavam com uma intensidade que me fez recuar um passo.

E então ele fez algo estranho.

Ficou me encarando. Fixamente. Como se estivesse tentando ler algo em mim. Procurando por uma resposta que eu não sabia dar.

O ar ao nosso redor pareceu ficar mais frio.

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