Capítulo 4

O ronco da moto de Kai me acordou.

Abri os olhos devagar, piscando contra a luz fraca que entrava pela janela. Seis e meia da manhã. Ele sempre saía cedo para a oficina, mas hoje o barulho do motor pareceu mais alto, mais urgente.

Virei de lado, puxando o cobertor até o queixo, e ouvi o som se afastando pela rua. Não me levantei para ver. Não precisava. Kai tinha sua rotina, e eu tinha a minha.

Mesmo que parte de mim quisesse correr até a janela e perguntar se ele tinha dormido bem. Se ainda estava preocupado. Se ia me contar o que realmente queria dizer ontem à noite.

*Deixa pra lá, Ayla.*

Me forcei a sair da cama, ignorando a dor surda no braço enfaixado. O curativo estava limpo, pelo menos. Nenhum sinal de sangue novo. Troquei de roupa rapidamente e desci para a cozinha, onde Emma já estava preparando café, o cabelo ruivo preso num coque bagunçado.

— Bom dia, dorminhoca! — Ela se virou com um sorriso largo, mas logo franziu a testa ao ver meu braço. — O que aconteceu com você?

Sophie levantou os olhos do livro que lia à mesa, os óculos escorregando pelo nariz.

— Ayla?

Suspirei, puxando uma cadeira.

— Atropelei um lobo ontem à noite.

— VOCÊ O QUÊ? — Emma quase derrubou a caneca.

Contei tudo. O acidente, o lobo, o arranhão, Kai aparecendo e cuidando de mim. Quando terminei, ambas me encaravam com expressões completamente diferentes.

Emma estava com aquele brilho nos olhos que eu conhecia bem demais.

— Então... — começou ela, se inclinando para frente. — Kai veio até aqui em casa no meio da madrugada, cuidou do seu ferimento e ficou todo preocupado?

— Emma...

— E você disse que ele ia falar alguma coisa mas não falou?

— Sim, mas—

— Oh. Meu. Deus. — Ela bateu as mãos na mesa. — Ele ia se declarar!

— O quê? Não! — Senti meu rosto esquentar. — Kai nunca... ele não sente isso por mim.

Sophie fechou o livro devagar, tirando os óculos para me olhar melhor.

— Ayla, você é a única pessoa que não percebe como ele olha pra você.

— Como assim?

— Tipo... — Emma suspirou dramaticamente, colocando a mão no peito. — Os olhos dele brilham quando você está por perto. É diferente. Intenso. Todo mundo vê isso.

— Ele só está sendo protetor. Sempre foi assim.

— Protetor é uma coisa. — Sophie se serviu de café, a voz calma como sempre. — Apaixonado é outra. E Kai definitivamente não te vê como irmã.

Balancei a cabeça, mexendo distraída no curativo.

— Vocês estão viajando. Eu conheço o Kai há anos. Se ele sentisse algo assim, eu saberia.

— Ou ele é muito bom em esconder. — Emma se sentou ao meu lado. — Homens como ele não costumam usar palavras, Ayla. Eles mostram através de ações. E ele tá sempre cuidando de você, sempre preocupado, sempre—

— Por favor, parem. — Levantei, pegando minha mochila. — Kai é tipo um irmão mais velho. Só isso. E eu não sinto... — hesitei. — Não sinto esse tipo de coisa por ele.

*Sinto?*

Afastei o pensamento antes que pudesse se formar completamente.

— A gente precisa ir ou vamos nos atrasar.

Emma e Sophie trocaram um olhar cúmplice, mas não insistiram.

***

O estacionamento da escola estava mais cheio que o normal quando chegamos. Grupos de alunos se aglomeravam perto da entrada, todos olhando na mesma direção.

— O que está acontecendo? — Emma esticou o pescoço, tentando ver.

E então eu vi.

Três pessoas paradas ao lado de um carro prateado reluzente. Dois rapazes e uma garota. Eles não faziam nada demais — apenas conversavam baixo entre si — mas havia algo neles que prendia a atenção. Algo que não era totalmente... *normal*.

O mais alto tinha cabelo preto que caía sobre a testa, pele absurdamente pálida e uma expressão séria, quase distante. Ele mantinha certa distância dos outros estudantes, como se uma barreira invisível existisse ao seu redor.

A garota ao lado dele era menor, delicada, com cabelos ruivos que brilhavam sob a luz da manhã. Ela sorriu para o irmão mais novo — um rapaz moreno com ar mais descontraído.

Mas foi o de cabelo preto que me fez parar.

Nossos olhos se encontraram por acaso. Ou talvez não. Os dele eram de um azul tão intenso que parecia artificial, elétrico, impossível. E

havia algo naquele olhar que me deixou paralisada.

Fascinação. Confusão.

*Perigo.*

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