Capítulo 3

— Não estou—

Mas ele já tinha fechado a distância entre nós, segurando meu pulso e puxando meu braço para a luz. A manga estava grudada na pele pelo sangue seco, mas quando ele a afastou com cuidado, os três cortes profundos ficaram expostos.

O maxilar de Kai se contraiu.

— Por que você não me contou?

— Eu... não queria que você ficasse mais preocupado. — Tentei puxar o braço de volta, mas ele segurou firme. — Você já estava bravo e—

— Entra. — Não era pedido.

Ele passou por mim e entrou na minha casa como se fosse dele, indo direto para o armário onde guardávamos o kit de primeiros socorros. Eu o segui, fechando a porta silenciosamente para não acordar as meninas.

— Kai, eu posso cuidar disso sozinha—

— Senta.

Sentei na mesa da cozinha, observando enquanto ele abria a caixa e separava gaze, antisséptico e bandagens. Seus movimentos eram precisos, quase mecânicos, mas havia tensão em cada músculo.

Quando ele começou a limpar o ferimento, mordi o lábio para não reclamar da dor.

— Desculpa — murmurou ele, mais gentil agora. — Precisa estar limpo ou vai infeccionar.

— Para onde levaram o lobo? — perguntei, tentando me distrair da ardência.

— Para um santuário fora da cidade. Tem gente especializada lá.

— Mas lobos não são nativos dessa região.

— São, sim. — Ele não levantou os olhos do meu braço. — Esses últimos meses têm aparecido mais. Migração, provavelmente.

Estudei seu perfil enquanto ele trabalhava. Havia algo diferente ali. Algo que ele não estava me contando.

— Você está escondendo alguma coisa.

Os dedos dele hesitaram por um segundo antes de continuarem a enrolar a bandagem.

— Não estou escondendo nada. Só estou preocupado com você andando sozinha de noite.

— Kai—

— Pronto. — Ele se afastou, guardando os materiais de volta na caixa. — Troca o curativo amanhã de manhã. E se começar a inchar ou ficar quente, você me avisa imediatamente.

Olhei para o braço enfaixado, depois para ele. Kai estava parado ao lado da mesa, os olhos fixos em algum ponto distante, perdido em pensamentos que eu não conseguia alcançar.

— Você ia dizer alguma coisa mais cedo. — Não era pergunta.

Ele finalmente me olhou, e por um momento vi conflito ali. Como se estivesse travando uma batalha interna sobre o que dizer, o que esconder.

Mas então a máscara voltou.

— Era só pra te pedir pra voltar mais cedo da escola nos próximos dias. — Guardou a caixa no armário. — Andar nessas estradas à noite é perigoso. E não é só por causa dos animais. Os caras da oficina têm contado histórias... coisas estranhas acontecendo. Lendas ou não, eu acredito neles.

— Que tipo de coisas?

— Nada com que você precise se preocupar, se ficar em casa antes de escurecer.

Ele já estava se dirigindo para a porta.

— Kai, espera—

— Boa noite, Ayla. Descansa.

E então ele saiu, a porta se fechando suavemente atrás dele.

Fiquei sentada ali na cozinha silenciosa, o braço latejando, a mente girando em círculos.

Tinha algo que Kai não estava me dizendo. Algo importante.

E por mais que eu quisesse acreditar que era só preocupação exagerada, meus instintos diziam que era muito mais do que isso.

Subi para o quarto devagar, deitando na cama. 

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