MAYA
O domingo sempre foi meu dia de recomeço. Enquanto a cidade dorme além das paredes deste pequeno apartamento, eu inicio o ritual semanal de tentar trazer ordem ao caos que se acumula entre segunda e sábado. A vassoura desliza sobre o piso áspero, recolhendo migalhas de uma semana de pressa e descuido. O cheiro de água sanitária e sabão em pó se espalha pelo ar, limpando não apenas as superfícies, mas também minha mente. Pelo menos era o que eu esperava.
Mal havia terminado de varrer a sala quando a porta se abriu, revelando Kisha e Celina ainda envoltas na aura noturna de seus turnos na boate. Traziam consigo o cheiro doce e enjoativo de cigarro e perfume barato, misturado ao suor da dança. Seus saltos altos clicaram no chão que eu acabara de limpar, deixando pequenas marcas escuras no linóleo ainda úmido.
— Bom dia — disse eu, tentando manter a voz neutra enquanto recolhia a vassoura.
Elas me ignoraram, jogando bolsas e casacos no sofá que eu arrumara minutos antes. Seus olhos e