Mundo ficciónIniciar sesiónA campainha tocou novamente, mais insistente desta vez. Lila recuou da porta, o telefone apertado na palma suada. Pela janela, conseguia ver os dois homens à espera—um alto e magro com cabelo penteado para trás, o outro mais baixo e corpulento como um buldogue.
O telefone vibrou. Rhett. *NÃO abra essa porta. Chego em oito minutos.*
*Eles sabem que estou aqui. Não vão embora.*
*Então liga para o 911. Chama as viaturas.*
*E digo o quê? Que estou sendo chantageada por ter me encontrado com você?*
O silêncio do outro lado mostrou que ele compreendia a situação impossível. Ligar para a polícia significava explicar tudo. Não ligar significava enfrentar quem quer que estivesse atrás daquela porta sozinha.
Uma batida desta vez, forte o suficiente para fazer a estrutura tremer. "Senhorita Williams, sabemos que está aí. Só queremos conversar. Cinco minutos do seu tempo e iremos embora."
A voz era suave, educada. Não era o que ela esperava de um chantagista.
"Quem são vocês?" Lila gritou através da porta, orgulhosa quando sua voz não tremeu.
"Amigos que podem fazer seu problema desaparecer. Mas precisamos discutir isso cara a cara."
A mente de Lila acelerou. Rhett estava a minutos de distância. Se ela conseguisse atrasar esses homens, mantê-los conversando...
Destrancou a porta mas deixou a corrente presa, abrindo apenas o suficiente para ver para fora. O homem alto sorriu, revelando dentes brancos perfeitos que de alguma forma o tornavam mais ameaçador.
"Garota esperta. Cautelosa." Ele ergueu as mãos vazias. "Sou Vincent Cardoza. Este é meu associado, Sr. Briggs. Representamos certos interesses comerciais em Ridgemont."
"Interesses comerciais que envolvem chantagem?"
O sorriso de Vincent se alargou. "Prefiro pensar nisso como seguro. Você tem algo que precisamos. Nós temos algo que você precisa. Vamos trabalhar juntos."
"Não tenho cinquenta mil dólares."
"Sabemos. É por isso que estamos aqui para discutir acordos alternativos." Vincent se inclinou mais perto da fresta na porta. "Podemos entrar? Esta conversa não é apropriada para soleiras de porta."
"Não. Digam o que vieram dizer daí."
A expressão de Vincent tremulou com irritação antes de voltar a ser agradável. "Muito bem. Sabemos sobre você e Rhett Lawson. Sabemos que seu pai ficaria arrasado com essa informação. Também sabemos que há uma batida policial planejada para esta noite que vai acabar muito mal para todos os envolvidos."
"O que vocês querem?"
"Duas coisas. Primeiro, queremos que você convença seu pai a cancelar a batida. Diga a ele o que for necessário—informação ruim, noite errada, mudança de planos. Não nos importamos. Apenas impeça que aconteça."
O estômago de Lila afundou. "Por que eu faria isso?"
"Porque se não fizer, homens bons vão morrer esta noite. Policiais e motociclistas. E o sangue deles estará em suas mãos." A voz de Vincent endureceu. "Segundo, precisamos de informação. Os arquivos de seu pai sobre os Serpentes de Ferro. Notas de caso, registros de evidências, tudo o que ele coletou ao longo dos anos."
"Querem que eu roube do chefe de polícia?" A voz de Lila subiu de tom com descrença. "Vocês são loucos."
"Preferimos engenhosos." Vincent pegou o telefone e virou-o em direção à abertura. "Deixe-me mostrar como é a loucura."
O vídeo tocando na tela fez o sangue de Lila congelar. Mostrava Rhett no que parecia ser um armazém, segurando o detetive particular contra uma parede, seu antebraço pressionado contra a garganta do homem. O PI estava sangrando pelo nariz e boca, implorando. Então Rhett disse algo que ela não conseguia ouvir, e seu punho atingiu o estômago do homem com eficiência brutal.
"Seu namorado tem um temperamento e tanto," Vincent disse casualmente. "Este é quem você está protegendo. Um homem que tortura pessoas por informação. Um criminoso que matou mais homens do que podemos contar." Guardou o telefone. "Agora, você pode nos ajudar, ou podemos enviar este vídeo junto com todas as nossas fotos para seu pai. Deixá-lo ver exatamente que tipo de monstro sua filhinha tem se encontrado às escondidas. Imagine o rosto dele quando assistir Viper espancar um homem quase até a morte."
Lágrimas ardiam nos olhos de Lila, mas ela se recusou a deixá-las cair. "Para quem vocês trabalham?"
"Isso importa? Nós encurralamos você, Senhorita Williams. Você tem até meia-noite de amanhã para entregar esses arquivos e convencer seu pai a recuar. Faça isso, e deletamos tudo. Se recusar, e destruímos sua vida e começamos uma guerra que deixará corpos nas ruas." Vincent recuou da porta. "Escolha com sabedoria."
Eles caminharam de volta para o SUV e foram embora justo quando ela ouviu o rugido de uma motocicleta se aproximando rapidamente.
Rhett parou na entrada dela segundos depois, motor ainda ligado, fúria irradiando dele em ondas. Ele desligou o motor e estava à porta dela antes que ela pudesse piscar.
"Você está machucada?" Suas mãos estavam em seu rosto, inclinando-o para verificar lesões, e ela viu que seus nós dos dedos estavam rachados e ensanguentados.
"Estou bem. Eles só conversaram." Ela o puxou para dentro e trancou a porta, então se virou para encará-lo. "Rhett, o que você fez com aquele detetive?"
Sua expressão se fechou imediatamente. "O que eles te disseram?"
"Mostraram-me um vídeo. De você batendo nele num armazém." Sua voz rachou apesar de seus melhores esforços. "Disseram que você tortura pessoas. Que matou mais homens do que eles conseguem contar."
O maxilar de Rhett se contraiu, e ele recuou, colocando distância entre eles. "E você acredita neles?"
"Não sei no que acreditar. Conheço você há um dia." Ela cruzou os braços em volta de si mesma. "Me diga a verdade. Você torturou aquele homem?"
"Fiz o que precisava fazer para obter respostas que te protegeriam."
"Essa não é uma resposta."
"Sim." A palavra saiu monótona, sem emoção. "Eu o machuquei. Quebrei duas costelas e o nariz dele. Fiz ele me dizer quem o contratou e onde encontrá-los. É isso que eu sou, Lila. É isso que eu faço pelo meu clube." Seus olhos encontraram os dela, cinza-aço e inflexíveis. "Acabamos agora? É aqui que você percebe que sou exatamente o monstro que seu pai sempre disse que eu era?"
Lila deveria estar horrorizada. Deveria expulsá-lo e ligar para seu pai e implorar perdão. Mas tudo em que conseguia pensar era em como suas mãos tinham sido gentis ao verificar seus ferimentos, como sua voz suavizava quando dizia seu nome, como ele largara tudo para protegê-la de estranhos à sua porta.
"Ele se contratou para me seguir?" ela perguntou.
"O quê?"
"O detetive. Ele se contratou, ou estava apenas fazendo um trabalho pelo qual alguém o pagou?"
Rhett franziu a testa, claramente não esperando essa pergunta. "Alguém o contratou."
"E ele sabia para que aquelas fotos seriam usadas? Sabia que pessoas poderiam morrer?"
"Ele alegou que pensou que era apenas um caso de cônjuge infiel."
"Então ele era uma ferramenta, não o inimigo." Lila se aproximou, embora suas mãos estivessem tremendo. "Não estou dizendo que o que você fez foi certo. Estou dizendo que entendo por que fez." Ela estendeu a mão e pegou a mão ensanguentada dele na dela. "Você me assustou com aquele vídeo. Mas me assusta menos do que perder meu pai, ou assistir pessoas inocentes morrerem numa batida armada, ou viver o resto da minha vida numa gaiola."
Rhett olhou fixamente para as mãos unidas como se não conseguisse acreditar que ela estava tocando nele. "Você deveria se afastar disso. De mim. Voltar para sua vida segura e esquecer que nos conhecemos."
"É isso que você quer?"
"Não." A palavra foi áspera, honesta. "Mas é o que você deveria querer."
"Pare de me dizer o que eu deveria querer." Ela apertou a mão dele. "Eles me deram um ultimato. Tenho que roubar os arquivos do meu pai sobre seu clube e convencê-lo a cancelar a batida até meia-noite de amanhã, ou eles enviam tudo para ele."
A expressão de Rhett escureceu. "Quem são eles? Cooper te deu um nome?"
"Vincent Cardoza. Disse que representa interesses comerciais em Ridgemont."
"Merda." Rhett se afastou e começou a andar de um lado para o outro, sua mente claramente acelerada. "Cardoza é dinheiro. Muito dinheiro. Ele possui metade dos imóveis comerciais do centro, além de ter conexões com famílias do crime organizado na costa leste." Ele parou e a encarou. "Por que ele se importaria com os arquivos de seu pai? O que ele está planejando?"
"Talvez ele queira saber que evidência existe contra o clube de motociclistas. Talvez ele esteja planejando chantagear vocês também."
"Ou talvez ele queira garantir que certas informações nunca venham à luz." Os olhos de Rhett se estreitaram. "Seu pai acha que os Serpentes estão por trás da epidemia de drogas, certo? E se ele estiver errado? E se alguém com dinheiro e conexões tem traficado drogas por Ridgemont e deixado o clube levar a culpa?"
As peças se encaixaram na mente de Lila. "Se meu pai prender o clube baseado em evidência plantada, os verdadeiros traficantes permanecem escondidos. E se a batida desta noite der errado, se pessoas morrerem..."
"A cidade grita por justiça. Seu pai se torna um herói. O clube é destruído ou expulso. E a operação de Cardoza continua sem ser desafiada." A voz de Rhett estava sombria. "Precisamos desses arquivos. Não para destruí-los, mas para ver que evidência seu pai realmente tem. Se alguém está armando uma cilada para meu clube, preciso saber quão profundo isso vai."
"Você quer que eu realmente roube do meu pai?"
"Quero que você me ajude a encontrar a verdade." Ele se aproximou, sua intensidade fixando-a no lugar. "Você disse que queria honestidade. Aqui está: fiz coisas terríveis. Machuquei pessoas, matei pessoas, quebrei leis que nem consigo contar. Mas meu clube não está traficando drogas. Não estamos envenenando crianças. Alguém está nos incriminando, e seu pai está cego demais de ódio para ver."
A mente de Lila girava com escolhas impossíveis. Trair seu pai ou deixar pessoas inocentes morrerem. Confiar num homem que mal conhecia ou acreditar nas mentiras que lhe contaram a vida toda.
"Como eu entro no escritório dele? Ele mantém tudo trancado."
"Ele tem um escritório em casa?"
"Sim, mas—"
"Ele traz trabalho para casa?"
Ela pensou nas noites em que seu pai sentava em seu escritório, porta fechada, arquivos espalhados pela mesa. "Às vezes. Os casos importantes."
"Então começamos por aí." Rhett checou o telefone. "Preciso voltar para o complexo. Garantir que todos estejam prontos caso seu pai não cancele a batida. Mas amanhã de manhã, venho aqui. Vamos examinar o que quer que ele tenha em casa."
"Ele estará aqui. Ele não sai até as sete."
"Então estarei aqui às sete e quinze." A mão de Rhett segurou o rosto dela, seu polegar traçando o hematoma ali. "Não é assim que eu queria que nosso segundo encontro fosse."
Apesar de tudo, Lila quase sorriu. "Você está contando o Ruby's como nosso primeiro encontro?"
"Você me pagou um café. Eu te fiz rir. Sim, estou contando." Sua expressão suavizou de um jeito que fez o peito dela doer. "Pelo que vale, sinto muito que você tenha sido arrastada para isso. Você merece melhor do que chantagem e espancamentos em armazéns."
"Talvez. Mas estou começando a achar que mereço a chance de escolher meus próprios desastres." Ela se ergueu na ponta dos pés e pressionou um beijo rápido na bochecha marcada dele. "Tenha cuidado esta noite."
A mão dele pegou sua cintura, mantendo-a perto por um momento mais longo que o necessário. "Você também. Tranque tudo. Não abra a porta para ninguém. E Lila?" Seus olhos cinzentos seguraram os dela. "Se algo acontecer e você precisar escolher entre me proteger e se proteger, escolha a si mesma. Toda vez. Entendeu?"
Ela acenou com a cabeça, mentindo para ele pela primeira vez.
Porque ela já tinha certeza de que se chegasse a isso, ela queimaria o mundo inteiro para mantê-lo seguro.
Depois que Rhett foi embora, Lila ficou em pé em sua casa vazia e tomou uma decisão. Caminhou até o escritório de seu pai e tentou a porta. Trancada, como sempre. Mas ela o tinha visto destrancar mil vezes, tinha memorizado o jeito que sua mão se movia até o topo da moldura da porta onde ele guardava a chave reserva.
Seus dedos a encontraram facilmente.
Dentro, sua mesa estava coberta de arquivos, fotos, mapas. A parede inteira era um quadro de conspiração conectando os Serpentes de Ferro a cada crime em Ridgemont nos últimos cinco anos. Parecia o trabalho de um homem obcecado, não de um investigador racional.
Ela começou a fotografar tudo com seu telefone, mãos tremendo a cada clique.
Estava na metade quando faróis varreram a janela.
Seu pai tinha chegado em casa cedo.







