Âmbar
Na manhã seguinte, desci para a cozinha para tomar o café da manhã antes de ir para a escola.
— Bom dia! — disse, tentando soar animada.
— Sente e coma logo para não se atrasar — minha mãe falou de forma ríspida, sem sequer me olhar.
Sentei-me e comi uma torrada com leite e uma maçã. Depois, voltei ao quarto, peguei minha mochila e saí para a escola. Como sempre, fui a pé, sem esperar meus irmãos.
Ao chegar, cumprimentei Franklin, o porteiro.
— Bom dia, minha menina — ele sorriu. Franklin era muito gentil e simpático. Casado com Harriet há anos, ele sempre dizia que adoraria que eu fosse sua filha.
— Oi, Franklin, bom dia! — sorri de volta.
— Por que está de casaco nesse calor? — perguntou, e eu fiquei sem saber o que responder. Meu braço estava marcado pelos dedos do meu pai, como imaginei que ficaria.
— Ah! Eu... Eu tive uma alergia e tive que colocar o casaco para não piorar — sorri sem graça, torcendo para que ele acreditasse na mentira.
— Depois passe na Harriet, ela tem pomada para alergia.
— Tudo bem, eu vou sim. Até mais, Franklin — dei-lhe um beijo na bochecha e entrei na escola.
A aula seguiu normal. Na hora do intervalo, Kevin, Chloe, Patrick, Kimberley e Peter começaram a mexer comigo, mas ignorei-os e fiquei quieta no meu canto.
Quando o professor encerrou a aula, arrumei minha mochila e saí da sala. Enquanto andava pelo corredor, Chloe colocou o pé na minha frente e caí de cara no chão. Gemendo de dor, ouvi as risadas dos outros alunos.
— Cuidado para não quebrar o chão — comentou Kevin, e os outros riram ainda mais.
Levantei-me e olhei ao redor. Minha irmã estava ao lado de Chloe e das outras meninas, rindo de mim. Ela me mostrou a língua, virou-se e saiu acompanhada de seu trio malvado: Nelly, Chloe e Kimberley. Enxuguei as lágrimas que caíam sem que eu quisesse e saí da escola.
Estava distraída, verificando se minha roupa havia sujado na queda, e não percebi quando alguém se aproximou.
— Oi! — disse a voz que tem me tirado o sono desde que conheci seu dono.
— Christopher! — falei, com a mão no peito, assustada.
— Não queria assustá-la, desculpe.
— Não, tudo bem. Eu que estava distraída — sorri.
— Já percebi que ser distraída é seu único defeito — disse ele, presenteando-me com aquele sorriso lindo.
— Não digo que é o único, mas com certeza é um dos principais — rimos juntos.
— Além de linda, é bem-humorada — comentou, colocando meu cabelo atrás da orelha. — Cuidado, posso acabar me apaixonando — disse ele, me olhando com uma intensidade que fez meu estômago dar cambalhotas.
— Você não se apaixonaria por uma garota como eu — falei, triste.
— Por que não? Você é linda, meiga, bem-humorada... Linda... Já falei que é linda? — perguntou, e eu sorri, concordando com a cabeça.
— Você tem tudo o que um homem pode querer em uma mulher, Âmbar. Nunca se esqueça disso.
— Você não me conhece tanto assim para afirmar isso. Eu posso ser apenas uma farsa.
— Eu não acredito nisso. Vejo sua alma através dos seus olhos, Âmbar, e eles me mostram um universo de coisas incríveis e maravilhosas.
— Christopher... — eu estava desconcertada com suas palavras. Ele era intenso, lindo e incrivelmente encantador.
— Deixe-me ser seu amigo. Não conheço ninguém aqui, além do meu tio e dos meus primos.
— O que você veio fazer aqui? — perguntei, mudando de assunto, porque uma amizade entre nós nunca daria certo.
— Vim trazer seu fone novo — ele estendeu a mão, segurando uma caixa embrulhada.
— Não precisava se incomodar.
— Claro que precisava, a culpa foi minha por ele ter quebrado, lembra?
— Eu estava distraída e também tenho culpa. Mas vou aceitar, porque não sei viver sem ouvir minhas músicas.
— Eu não aceitaria uma recusa ao meu presente. Espero que goste. — Peguei a caixa de sua mão, desembrulhei e abri a embalagem.
— É lindo, obrigada! — Em um impulso, joguei-me em seus braços e o abracei com força.
— Eu amo seu cheiro — disse ele, aproximando o rosto do meu cabelo e inspirando meu perfume. Fiquei sem reação por alguns segundos, certa de que uma expressão de choque enfeitava meu rosto. Meu atropelador apenas sorriu e, por pouco, não me deixei levar pelo ímpeto de tocar seus lábios cheios e o sentir contra os meus.
— Melhor sairmos daqui — falei, soltando-o. — Estamos chamando muita atenção.
Lembrei-me de que estávamos na entrada da escola e, ao olhar ao redor, percebi que éramos o centro das atenções. Ao longe, vi minha irmã e suas amigas me olhando com ódio. Provavelmente, estavam com inveja por um cara como Christopher estar conversando e até me abraçando. Aysha me infernizaria a vida ao chegar em casa, e eu já podia imaginar o quanto ela seria má comigo.
— Entra no carro. Vou te levar para dar um passeio — Christopher ofereceu.
— Não sei se é uma boa ideia. Mal nos conhecemos.
— Eu não sou um vilão que vai te sequestrar e sumir com seu corpo, menina bonita. — disse ele, rindo da minha cara de espanto.
— Mandão — resmunguei enquanto entrava em seu carro, ainda com o coração acelerado. Se por medo ou por estar ao seu lado, eu não sabia, mas logo iria descobrir.
— Vou te levar para conhecer um lugar incrível, e você vai querer ser minha amiga para sempre.
Ele deu a partida e seguimos em silêncio por um tempo. Christopher dirigia com uma tranquilidade impressionante, aproveitando a vista da estrada que nos levava para longe da cidade.