SETE ANOS ANTES...
— Tia Death — apareço na porta do quarto.
— Um minuto, querida — ela ergue o dedo indicador, ainda sem tirar os olhos do celular. — EU JÁ DISSE, ERIC! VOCÊ NÃO FAZ O QUE QUER! MATE-O COMO O CLIENTE PEDIU! FAÇA O QUE EU MANDEI!
Fico imóvel. O som estridente da sua voz faz meus ouvidos apitarem. Um incômodo familiar.
Ela enfim desliga o telefone e se volta para mim com um sorriso quase doce.
— Sim, meu amor?
— Quero a sua ajuda... como a melhor assassina de aluguel que eu conheço — começo com uma bajulação, que apesar de estratégica, é pura verdade.
Ela sorri, satisfeita.
— Você sabe como começar um pedido.
— Como estou prestes a iniciar minha carreira na organização, queria entender por que você escolheu ter uma identidade secreta.
— É sempre bom cometer crimes sem correr o risco de ser presa. — Ela faz um gesto com a mão, relaxada. — Um matador precisa de clientes. Precisa de fama. A identidade me deu isso. Mas, no fundo, acho que criei a Death porque Angelina não podia fazer o que a Death faz. A Death é outra versão de mim. Com ela, não existe culpa. Nem arrependimento. Eu me torno alguém... livre. — Seu tom suaviza. — E, sejamos sinceras, todos gostam mais da Death do que da Angelina.
— Nós amamos as duas — cruzo os braços, convicta. — E como você decidiu o nome? A personalidade da sua persona?
— Meu primeiro namorado — ela diz, o olhar perdido em alguma lembrança longínqua — também era assassino. Ele dizia: "O que eu mais gosto na vida é a morte. A morte me enlouquece, me excita... Você é a minha morte, Angelina."
— Por que nunca nos contou isso? É perfeito!
— Talvez porque seja clichê. No fim, eu realmente fui a morte dele. Meu antigo chefe o matou por dormir comigo. — Ela sorri com certa melancolia.
— Trágico... mas é uma bela história de amor — digo, aprovada. — Eu quero isso. Um lado meu que ninguém conhece. Um lado livre.
— Imagino que sua mãe e seu pai não saibam disso — ela cruza as pernas e me encara, arqueando a sobrancelha.
— Não sabem. E nem precisam saber — dou-lhe um olhar cúmplice.
— Eu não gosto de esconder coisas da sua mãe. E você sabe que seu pai odeia quando faço isso.
— Eles não podem odiar algo que não sabem que existe. Tia Death, essa é a melhor alternativa que encontrei. E você é a única que pode entender e me orientar.
— Você não me deixou terminar, querida. Eu não gosto de esconder as coisas da sua mãe... — ela pausa, sorrindo maliciosamente — mas adoro esconder as coisas do seu pai.
— Sabia que entenderia. Vai me ajudar? — esboço um sorriso animado.
— Claro que sim, meu amor. Vamos criar uma nova mulher.
Sorrio com malícia, e solto um grito de empolgação.
— Por onde começamos?
— Pelo nome. Sua personalidade precisa refletir quem você vai ser.
— Mas eu não tenho nenhuma história de amor trágica... não sei por onde ir.
— Nomes não precisam vir de amores. Podem vir de filmes, pessoas que você admira, lugares que tenham significado... — ela sugere — O importante é que seja um nome marcante.
— Vou pensar nisso — deixo o olhar vago por um instante. — E depois do nome?
— Minha parte favorita: roupas, sapatos... cabelo novo! — ela b**e palmas.
— Eu vou usar peruca? — franzo o cenho, incerta.
— Você decide — dá de ombros. — Eu escolhi perucas porque meu cabelo é uma das únicas lembranças da minha mãe. Ela também era ruiva.
— Um penteado novo serve? — digo, segurando uma mecha do meu cabelo. — Também não quero me livrar disso.
— Claro! Podemos usar extensões. Enquanto procuram por uma loira de cabelo curto... vão encontrar outra, de cabelo longo.
— E como você separa a Death da Angelina? Não mistura tudo?
— Ah, mistura. E o segredo é: nunca se envolva intimamente com seus alvos. Eu quebrei essa regra três vezes... e deixei três pessoas diferentes conhecerem a Angelina.
— E o que aconteceu?
— Arrumei um marido, um irmão idiota e uma melhor amiga adorável.
Sorrio, vendo o carinho em sua expressão. Não poderia ter sido melhor: formamos uma família improvável, mas perfeita.
— Foi um bom erro.
— Foi. Mas não ache que vai ter a mesma sorte. Eu estava sozinha. Você não. Tem família. Amigos. Nunca se envolva. Jamais.
Concordo, engolindo seco. Sua seriedade pesa no ar.
— Acabei de pensar em um nome. E em um motivo.
— Qual?
— A união dos meus pais é o caos. Mas algo nasceu disso. Como minha mãe ama rosa, vou usar o nome Penélope. E, em homenagem ao meu pai, vou me vestir de preto.
— Penélope... — ela repete, provando o nome nos lábios. — Adorei — ri.
— Obrigada pela ajuda. Vamos ver até onde a Penélope pode chegar.
— Com a Death ao lado... a Penélope vai descer às mais profundas camadas do inferno — ela sorri, com orgulho.