A casa estava mergulhada no silêncio da madrugada. A penumbra era suavemente quebrada pela luz amarelada vinda da cozinha. Isadora, de camisola longa e os cabelos soltos, bebia um copo de água com uma das mãos apoiadas sobre a barriga já grande, acariciando distraidamente a filha que crescia ali dentro.
Estava inquieta. Aquela noite tinha um peso estranho no ar. Fernando ainda não havia voltado, e ela conhecia bem os sinais: quando os assuntos envolviam a Trindade de verdade, ele voltava mais tarde... mais carregado.
Ela não sabia o que era. Mas sentia. No fundo da alma.
Foi quando a porta da frente se abriu com um estalo seco, ecoando no corredor. Um calafrio percorreu suas costas.
Ela ouviu os passos pesados e conhecidos. E então ele apareceu.
Fernando.
A camisa escura com as mangas dobradas, a expressão exausta, o corpo tenso — mas ao ver Isadora parada na cozinha, com os olhos presos nele, tudo dentro dele cedeu.
Sem dizer nada, ele cruzou o espaço entre eles e a beijou. Um beijo