Lembranças

Capítulo 2

Riley Collins

O carro arrancou com tanta força que meu corpo foi jogado contra o banco. Tentei respirar fundo, mas o peito doía. Ainda sentia o peso da arma do Luca, o cheiro de pólvora misturado ao perfume dele… e o sangue do irmão dele, que agora pingava na minha memória como uma gota persistente.

— Me deixa em paz! Pra onde está me levando?

Luca não dizia nada. Só dirigia feito um louco, costurando o trânsito até entrar numa avenida mais calma.

— Eu ainda não vi minha irmã. Me leve até ela. Por favor. — Praticamente implorei.

Meu rosto ainda estava molhado das lágrimas que me recusei a enxugar na frente dele. Fiquei em silêncio, olhando pela janela, tentando entender em que momento minha vida tinha virado esse filme de terror.

Pra piorar, ele começou o que eu temia... Depositou sua fúria em mim.

— Vai me dizer agora… por que foi atrás de mim ontem à noite? — A voz dele saiu tensa, cheia de desconfiança.

Continuei calada. Não sabia como agir, como explicar, muito menos até que ponto de tudo isso ele sabia. Não iria implorar de novo.

— Você sabia que o Jackson conspirava contra mim? — Ele me lançou um olhar cortante pelo retrovisor.

Virei o rosto rápido, encarando-o com firmeza.

— Não! Eu achei que ele estivesse no apartamento dele — quase gritei.

— Apartamento dele? Vai mentir na minha cara? Aquele sempre foi o meu apartamento. — Respondeu alto.

— Seu? Ele disse que era dele. Nem sabia que vocês eram dois. Pensei que era ele o tempo todo… fiz um acordo com o Jackson. Um acordo que ele não cumpriu. Fui lá pra exigir o pagamento e olha só...

Luca riu. Um riso curto e debochado.

— Ah, claro. Um acordo… com um mafioso, no apartamento dele. — Ele bufou, balançando a cabeça. — Você é mais ingênua do que parece ou mais esperta do que imagino?

— E você é sempre tão grosso? Nem me ouviu, nem sei se sabe que tipo de acordo eu fiz. — Ele me olhou pelo retrovisor com raiva.

— VÁ PRA PUTA QUE PARIU COM QUALQUER PORRA DE ACORDO! EU NÃO ME IMPORTO! AGORA VOCÊ CASOU COMIGO. ESQUECE ELE. ESTÁ ME OUVINDO?

O carro entrou numa estrada cercada por pinheiros. O portão de ferro se abriu sozinho e revelou uma mansão cercada por câmeras, muros altos e seguranças armados. Tive vontade de vomitar. Aquilo parecia um cativeiro de luxo.

Luca parou o carro com um tranco e desligou o motor. O silêncio que veio depois foi quase pior do que os tiros do casamento.

De repente, ele se virou e se inclinou sobre mim. Senti meu corpo pressionar contra a porta. Seu braço firmemente encostado no vidro, me prendia.

— Me responde uma coisa, docinho… — a voz dele agora era baixa, como um veneno doce — por que diabos você fez programa comigo… se era noiva do meu irmão?

Arregalei os olhos. Senti meu estômago despencar.

— Eu nunca fui noiva de ninguém! — minha voz saiu trêmula. — Só… só precisei fazer um acordo com ele quando minha irmã sofreu um acidente e ficou em coma. Ele prometeu manter os aparelhos por um mês se eu levasse uma mala para o apartamento dele, no caso o endereço onde te encontrei ontem. Mas a mala... estava cheia de pedras ilegais. Fui presa antes de sequer entrar no apartamento.

— Quando foi isso?

— Há um ano. Ele disse que se eu assumisse o crime manteria minha irmã viva, e depois... ele ofereceu um milhão para a cirurgia que poderia trazê-la de volta.

— Então se vendeu por um milhão? — ele me cortou com desprezo. — Que linda história de amor. — Ele soltou um risinho amargo. — Você se acha muito valiosa, não é? Só me diz uma coisa… Jackson pagou pelo programa? Ou você saiu no prejuízo com os dois irmãos?

— Fiquei presa por ele...

— Ah, é? Que vadia.

Senti o rosto empalidecer. Mas minha raiva falou mais alto. Meti um tapa na cara dele.

— EU NUNCA ME VENDI! EU SÓ PRECISAVA FICAR PRESA! NÃO TINHA PROGRAMA NENHUM, CASAMENTO NENHUM! — ele apertou meu pescoço.

— Tá querendo morrer? Quem acha que é pra bater na minha cara? — eu conseguia ver a fúria em seu rosto. Ele chegou a tremer. Pensei que me mataria. Então deslizou o dedo pelos meus lábios. — Vai me pagar por isso. — Então me beijou.

Eu tentei empurrar, mas eu não conseguia nem mexer a cabeça. Seu gosto era bom. Senti gosto de vinho e acabei cedendo até ele me parar.

Fazia tanto tempo que ninguém me beijava.

— Tem sorte de ter uma boca chamativa. Na próxima pode não ter. Então pense bem antes de qualquer movimento. — Me soltou parcialmente, levei os dedos até os lábios.

— Eu... Eu nunca estive com outro homem na vida! Ontem… — respirei fundo, tentando não chorar — ontem foi a minha primeira vez. Eu não estive com Jackson.

Ele riu alto. Um riso escuro, cruel.

— Jura? Não parecia nem um pouco inexperiente quando estava debaixo de mim.

Virei o rosto, apertando o banco com força. O peito subia e descia rápido, como se eu estivesse afundando.

— Eu tentei dizer. Você não quis ouvir. Não se importou que eu fosse virgem.

De repente, a lembrança do que aconteceu na noite passada me atingiu a memória:

Fiquei 365 dias presa, o senhor Black não cumpriu o acordo. Não apareceu. Então, no desespero, fui até o apartamento onde tudo tinha começado.

Quem atendeu eu não sei — eu pensava que fosse ele. Mesmos olhos escuros, mesma postura larga, cabelo castanho cortado rente e alguns fios grisalhos ao lado das orelhas.

Ele não demonstrou surpresa. Só me olhou de cima a baixo, avaliando.

— Ora, ora… — disse, frio. — Meu irmão mandou uma distração pra mim?

Segurei firme no batente da porta, sentindo meu coração acelerar.

— Eu não sei de irmão nenhum. Meu negócio foi com você. Vim cobrar o que me deve — respondi com toda a firmeza que consegui reunir.

Ele me olhou desconfiado, como se tudo em mim gritasse "armadilha": o capuz, a tensão, o silêncio.

— Ah, é isso? Quanto ele te pagou pra transar comigo, hein?

— Eu não… — tentei responder, mas ele já me puxava pela cintura com força.

Por um instante, resisti. Depois… cedi. Por Emma, minha irmã.

Se ele queria o meu corpo para cumprir o acordo, eu deixaria. Era isso ou perdê-la.

— Tira esse capuz. Quero ver seu rosto — ele exigiu, puxando com brutalidade.

Me senti exposta. Frágil. O olhar dele via cada parte de mim sem tirar minha roupa. Eu queria desaparecer.

Ele me virou de costas, abaixou minha roupa de baixo da cintura com um puxão, e segurou o capuz como se quisesse me sufocar. Me puxando pra ele.

— Cheira bem demais pra uma prostituta.

— É porque eu não sou. Só quero o meu dinheiro.

— Imagino…

A cada toque, a cada beijo forçado pelo meu pescoço, eu engolia a dor. Só pensava na promessa. Na cirurgia. No hospital. No aparelho que mantinha Emma viva.

A mão dele me tocou no meio das minhas pernas.

— Abre mais, putinha... — seus dedos deslizaram pra dentro de mim, e senti doer bastante quando ele entrou, mas não disse nada.

Quando ele terminou, se afastou sem olhar pra mim. Jogou uma nota de cinquenta dólares no chão como se eu não valesse mais.

— Mas… era um milhão… — murmurei, tremendo.

Ele riu. Alto. Frio.

— Diz pro meu irmão que eu não sou tão idiota quanto ele pensa. E da próxima vez, mande alguém que disfarce melhor a ganância.

— Quem? De quem você tá falando?

Ele puxou uma arma e apontou pra minha cabeça.

— Odeio cinismo. Já tô de saco cheio. Some daqui.

Peguei a nota. Me vesti o mais rápido que consegui.

— Isso não dá pra nada… por favor. Nós temos um acordo. Eu fiz a minha parte. Fiz tudo certo.

Ele zombou.

— Um milhão? Que tipo de puta cobra isso? Some antes que eu te apague.

E então… a porta bateu na minha cara.

Eu não fazia ideia que Jackson tinha um irmão e esse era Luca.

Mas porque ele me disse isso tudo? O que há entre os dois para se matarem assim?

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App