KARINA
Eu estava uma pilha de nervos. Tinha feito quilómetros andando de um lado para o outro.
- Karina acalma-te. Vais cavar um buraco ai onde estás.- Diana gritava sem paciência nenhuma.
Estava a horas a espera do Marcos e a demora só deixava-me mais nervosa. Apesar de ter insistido em vir sozinha Diana não cedeu e veio comigo. Deve ser por isso que éramos amigas até hoje. Ela conseguia perceber quando eu precisava mais dela, e este era um desses momentos.
Finalmente vi Marcos aproximar-se de onde estávamos e sentei num dos bancos que havia no jardim. Diana olhou-me e respirou fundo caminhando até onde eu estava.-Não irei para longe. Boa sorte.
Deu-me um beijo na testa e afastou-se indo na direcçao oposta a que Marcos vinha.
Ele sentou-se do meu lado e deu-me um beijo ignorando Diana que não esperou nem para dizer olá. Bom, não era segredo que minha família e amigos não viam esta relação com bons olhos.
- Não estás com boa cara. Passa-se algo?- Ele questiona, franzindo sua testa.
-Marcos ha algo que preciso dizer-te e , nem sei por onde começar. Mas quero que saibas que amo-te e tudo que quero é passar o resto da minha vida do teu lado. -Estas a assustar-me Karina. Diz logo o que é.Olhei para o céu a procura de alguma coisa, qualquer coisa , que me ajudasse a ter forças para o que vinha a seguir.
-Marcos , estou grávida.
Os olhos dele se arregalaram e ele pôs-se em pé imediatamente. Andou para la e para cá murmurando algo que eu não conseguia perceber. Eu apenas esperei a explosão. E ela veio com toda força.
- Não, não...isso não é possivel. - Ele berrou e continuou a andar de um lado para o outro.
-Marcos...
- Tu só podes estar a gozar comigo. Eu não preciso disto agora. Tens que interromper essa gravidez. - Ele virou-se para mim e seus olhos estavam cheios de raiva.Mas eu não me deixei intimidar. Ele não pode obrigar-me a interromper a gravidez. É meu corpo , é meu filho, eu decido.
- Eu não vou interromper Marcos. Eu quero este filho e vou tê-lo.- Falo cheia de coragem.
- Mas não contes comigo. Tu sabias desde o inicio que eu não quero compromissos e muito menos filhos nesta fase da minha vida. Estava tudo tão bom entre nós , porquê estragar? - Marcos, eu não planeei isto, simplesmente aconteceu. Mas agora que está aqui porquê não darmos uma chance? Pode ser que não seja tão mau como pensas. -Não. Isto foi propositado. Não és a primeira a tentar algo assim...mas serás a última. -Marcos...- Tento chama-lo a razão mas ele corta-me. -Tu escolhes Karina , eu ou esse teu bebé.Meu coração partiu em mil pedaços quando aquelas palavras deixaram a boca dele. Por um momento pensei que ele fosse ignorar as regras estúpidas que regem a vida dele. Mas acho que me enganei.
-Não me peças isso Marcos. Por favor.
- Tu decides.Levantei do banco olhei para ele uma última vez e caminhei na direcção em que a Diana desapareceu minutos antes. Foi burrice minha pensar que no último segundo ele me seguiria , imploraria perdão e seriamos felizes para sempre. Mas ele nunca veio...
5 ANOS DEPOIS...
A minha rotina pelas manhãs era uma loucura. Estava sempre atrasada e Kayla não facilitava minha vida.
- Mãe, eu não quero ir a escola com estes sapatos. São feios e todas meninas gozam comigo.
-Eu juro que as vezes penso em sair e te deixar para trás. Esses sapatos foi o que deu para comprar e não quero ouvir nem mais um pio. Pega na mochila e vamos embora.Eu ainda estava no meu modo mãe furiosa quando oiço batidas na porta. Abri com tanta violência que quase fiquei com a maçaneta na mão. O homem parado a minha frente olhou-me surpreso.
-Bom dia! Procuro a sra. Karina.
-Bom dia . Sou eu, em que lhe posso ajudar?O homem entregou-me uns papeis e pediu-me para assinar num caderno que trazia consigo. Apenas cumpri e olhei novamente para os papeis.
-O que é isto?- Perguntei olhando para o homem que já havia virado para ir-se embora.
- É uma intimação senhora. Devera se fazer presente no tribunal na data que esta na intimação.E sem mais detalhes o homem continuou a andar. Fechei a porta me sentido um pouco tonta. Li os papeis e quase tive um ataque cardíaco quando vi do que se tratava.
Marcos havia entrado com um pedido no tribunal pela guarda compartilhada da minha filha. Sim, MINHA FILHA, porque por 5 anos ela foi somente minha e ele nunca deu as caras apesar de saber da sua existência. O que ele quer agora??
Atirei os papeis para mesa e peguei minha bolsa e chaves do carro.- Kayla, para de birra pega tua mochila e vamos embora.- O grito deve ter se ouvido em toda vizinhança.
Mas surtiu o efeito desejado. Em segundos ela estava do meu lado e saímos de casa em silêncio. Deixei-lhe no jardim de infância e fui tentar trabalhar.
Logo que entrei na loja , as meninas que trabalhavam para mim desapareceram pressentindo que não era um bom dia para estar no meu caminho. Entrei na minha sala e fechei a porta descarregando minha raiva nela. Peguei no celular e liguei para Diana.- Alô !
-Oi estas livre para falar?- Questiono sem perder tempo. - Hum...depende. De quanto tempo precisas? -Meia hora. -Te ligo em 5 minutos. -Ok.Desliguei a chamada e encostei no assento da cadeira. Eu vou matar Marcos. Não importa se ele é o pai da minha filha. Eu vou mata-lo, cortar em pedaços e dar a carne para um crocodilo comer e depois mato o crocodilo e mando fazer carteiras e cintos para vender no mercado negro.
Meu celular tocou e me tirou do meu momento de montar um plano diabólico para dar um sumiço no Marcos.-O que aconteceu? Deixaste-me preocupada.- Consigo sentir a aflição nas palavras de Diana.
- Marcos entrou com uma acção judicial para reconhecimento de paternidade e guarda compartilhada.Fez-se silêncio por alguns minutos. Olhei para o celular para ter certeza que a chamada não havia caído.
- Só podes estar a gozar neh? Diz-me que hoje é dia da mentira e eu não havia me apercebido.- Diana falou indignada.
-Não. Recebi a intimação esta manhã. Estaremos frente a frente na quarta feira. Ele pediu um teste para confirmar a paternidade. - Já tens advogado? -Não. És a primeira pessoa com quem falo. Não pensei em nada ainda. - Vou pedir ao meu irmão para acompanhar-te. - Eu não tenho dinheiro para pagar-lhe Diana. Pensei em ir a um desses centros que dão assistência jurídica gratuita. - Relaxa, para ti é de graça.Conseguia ouvir os risos que ela tentava abafar do outro lado da linha. Hoje não vou discutir com ela. Preciso mesmo de ajuda .
-Ok. Vou aceitar só desta vez porque não posso perder esta batalha por nada. Obrigada amiga. O que seria de mim sem ti?
-Não é?? Mereço um agrado. Sou modesta, só quero que pagues a conta na nossa próxima saída.Ela conseguiu me por a rir. E foi como um bálsamo. Despedi-me dela e relaxei . No resto do dia foquei-me no trabalho e empurrei a má noticia para um canto escuro no meu cérebro. Vou pensar nisso quando chegar a hora.