Terminaram o jantar num silêncio que já não era tão pesado havia naturalidade nas pequenas coisas, nas palavras ditas e nas que ficaram por dizer. Dom empurrou a cadeira para trás, limpou os lábios com um guardanapo e falou com uma voz que tentava soar leve:
— Sobe lá e leva suas coisas pro meu quarto. Se prepara pra dormir. Eu arrumo a cozinha aqui.
— Estou de castigo, vou ficar alguns dias fazendo tudo sozinho.
Marvila levantou-se, e aproximou-se para ajudar a retirar a mesa. Enquanto juntavam os pratos, ela riu baixo, num riso que escondia cansaço e mágoa:
— Castigo? Eu não posso te castigar só por isso. Acredite, de bêbado eu entendo — disse, com um ar de quem conta verdades duras.
— E o que você fez… não é nada.
Ela fez uma pausa, com a voz ficando mais dura, lembrando algo antigo:
— Você acredita que, quando o time do meu ex perdia, ele me batia? Eu odeio jogo de futebol. Se vejo uma camisa de futebol, tenho vontade de picar e queimar.
Dom parou de guardar os talheres por um ins