Melanie pov Meu impulso imediato é esconder a mão, fechá-la com força, esconder o anel como se fosse algo indevido, um segredo proibido que escapou antes da hora. Mas eu me recuso. Em vez disso, estendo ainda mais meus dedos e, com firmeza, seguro a mão de Ryan. Nosso entrelaçar de dedos é quase um juramento silencioso. Ela nota isso. Ela nota tudo. Os olhos dela se voltam para nós dois e, por um instante que parece durar uma eternidade, ela apenas nos observa, sem dizer uma palavra. Seu silêncio é mais ensurdecedor do que qualquer grito de reprovação.Eu não consigo decifrar seus pensamentos. Ela não franze o cenho, não sorri, não chora. Apenas nos olha. E isso me desarma.“É melhor eu pegar algo para nós bebermos, não acham?” diz de repente, sua voz alta demais, quase forçada, como se quisesse preencher o ambiente antes que algo mais escapasse.E sem esperar resposta, ela se vira e sai rapidamente da sala, seus passos apressados ecoando pelo corredor como batidas apressadas de um ta
Bea Pov Eu vou enlouquecer se continuar aqui nessa casa mais um segundo!Karl não aparece aqui já faz dias. Dias inteiros e intermináveis, como uma eternidade esticada entre o nascer e o pôr do sol. Longos dias em que ele simplesmente some, desaparece como poeira ao vento, me deixando sozinha com Oliver, que agora acha que virou meu carcereiro particular. E a convivência com ele… é um tormento em forma de silêncio carregado e olhares de julgamento. Ele não precisa dizer nada para me irritar. O jeito como respira, como anda pela casa, como se acha no direito de ditar regras, já me tira do sério.“Vou dar uma volta!” grito, já descendo as escadas com passos firmes, quase furiosos. Meus pés batem nos degraus como se estivessem tentando esmagar o chão.Oliver está na cozinha, e só de sentir o cheiro da comida que ele prepara, meu estômago se revira. Não pela comida em si, mas porque tudo nele me irrita. Passo por ele sem sequer direcionar o olhar, como se ele fosse parte do mobiliário, c
Bea Pov“Mal consigo ficar de pé, quanto mais caminhar, Vicky!” rebato impaciente e com dor. “Você está sendo infantil e imatura.”“Com quem será que eu aprendi a ser assim, hein?” Vicky responde na minha mente com uma voz prepotente que me deixa ainda mais nervosa.Não tenho paciência para lidar com as infantilidades dela agora. Não mesmo. Silencio Vicky, empurrando sua presença para um canto escuro da minha consciência, onde não possa continuar atrapalhando. Ela se cala, mas sei que está ali, bufando em silêncio, esperando outra brecha para cutucar minhas feridas.Minha perna já está ficando visivelmente inchada, como se o músculo tivesse inflado por dentro. Com certeza, algo ali está fora do lugar. A dor se intensifica com o menor movimento.O esforço de fazer isso já deixa o meu corpo tenso, causando suor em minha testa. Vou pulando de uma perna só até uma árvore e me sento no chão, já ofegante pelo esforço. Tento encontrar a melhor direção plana, sem obstáculos, para voltar para
Bea Pov “Pronto, está entregue!” Oliver diz, quase me jogando em cima do sofá como se eu fosse uma pilha de roupa suja.Minha perna machucada bate nas almofadas, mesmo sendo algo macio, isso me faz gritar de dor e xingá-lo. Durante todo o trajeto pela floresta, Oliver foi atencioso e cuidadoso ao me carregar. Não posso dizer isso sobre sua língua afiada, ficamos discutindo por quase todo o caminho.“Obrigada pela brutalidade,” digo com sarcasmo carregado.Ele acena com a cabeça, o movimento carrega provocação maliciosa.“Vou buscar o kit de primeiros socorros,” ele responde antes de sair da sala.Me ajeito melhor no sofá, colocando minha perna para cima. Vasculho na minha mente a presença da Vicky, ela não abriu a boca uma única vez desde que brigamos.“Ande, apareça!” digo mentalmente, buscando a presença dela. “Já estou de volta em casa. Agora é a hora de você começar a me curar, sua mimada ingrata!”“Não, acho que o tratamento que o Oliver está te dando é o suficiente,” Vicky resp
Melanie PovTodas às vezes que chego no castelo, eu perco o fôlego. A decoração para o banquete para a oficialização do nosso noivado é simplesmente sublime. Ryan não poupou esforços ou dinheiro para fazer tudo do meu agrado. Até mesmo o vestido que estou trajando hoje, Ryan mandou que uma estilista viesse e fizesse do zero para mim.Um lindo vestido de ouro rosé com leves camadas, junto com lindos bordados florais e um lindo decote em V delicado. Me sinto uma princesa ao usar o vestido e agora, aqui em frente ao castelo, me sinto na realidade em um conto de fadas.A porta do carro é aberta por um empregado do castelo, todo elegante. Papai e mamãe me acompanham, um de cada lado.“É, o Ryan sabe esbanjar,” papai comenta enquanto observa ao redor.Meus pais ainda não se sentem confortáveis com o meu noivado, mas estão aqui ao meu lado para apoiar a minha escolha. Mamãe tem sido mais receptiva e mais animada também, ainda mais que dessa vez, fiz questão de incluí-la. Diferente de minha v
Karl PovO meu tempo está ficando cada vez mais curto. Cada segundo que passa é uma batida mais alta no tambor do caos que se aproxima, e eu sinto isso, pulsando sob a minha pele como uma corrente elétrica prestes a explodir. Bea e Oliver… inúteis. Dois pesos mortos amarrados aos meus tornozelos. Já não servem para nada além de ocupar espaço e atrasar o inevitável. Está mais do que na hora de me livrar deles. Eles se tornaram obstáculos, e obstáculos precisam ser removidos.Ryan está cada vez mais perto de me arruinar. Está com provas o suficiente para me enterrar numa cela escura e esquecida, acusado de traição. Traição contra a coroa. Tenho me movimentado nas sombras, tentando rastrear onde ele escondeu as filmagens de Phill, aquele idiota morto que achava que poderia me parar. Mas os rastros estão frios, apagados, soterrados por camadas de códigos e segurança. É quase impossível, quase… mas eu não desisto.Já fui chutado para fora do conselho real. Os olhares de desdém, as portas q
Karl Pov Assim que chego na entrada do palácio, o ar da noite me atinge como um tapa gelado. Meus pulmões se expandem com dificuldade, como se até o oxigênio se recusasse a me acolher. Tiro o celular do bolso com mãos que tremem levemente, não de medo, mas de antecipação. As pontas dos meus dedos formigam. Eu disco o número da Bea, pressionando o celular contra a orelha com uma intensidade quase dolorosa. Espero. Os segundos parecem eternidades.Ela demora para atender à chamada. Isso não é comum da parte dela. Bea é rápida, sempre atenta, sempre com o celular na mão. Esse atraso me deixa alerta. A linha finalmente se conecta.“Oi? Alô?” A voz dela surge do outro lado, ofegante, com um tom abafado.“Sou eu, minha gatinha,” digo, apertando os olhos, tentando ouvir além do que é dito. “O que está acontecendo aí?”No fundo, ouço um estrondo — algo caindo no chão. Um barulho seco que ecoa alto demais. Minha mente já começa a correr por possibilidades. O que Bea está aprontando na fazenda
Melanie PovOuço o som de uivos e tiros ressoar por toda a propriedade da nossa alcateia Killmoon, um concerto aterrorizante de destruição que se mistura ao estalar das chamas vorazes. O cheiro acre de fumaça invade minhas narinas, queimando minha garganta, e meus olhos lacrimejam, lutando para enxergar através da névoa espessa que toma os corredores. O calor sufocante me envolve, cada lufada de ar quente parece rasgar meu peito. Meu coração dispara, batendo tão forte que parece ecoar em meus ouvidos, rivalizando com o caos que se espalha ao meu redor.Cada fibra do meu ser grita por sobrevivência. Meu corpo treme, mas não por medo—pelo menos não apenas por medo. O desespero, a necessidade de proteger a pequena vida que cresce dentro de mim, é o que me mantém correndo, impulsionando minhas pernas, mesmo quando sinto que posso desabar a qualquer momento. Nem tive tempo de contar a Karl, meu companheiro, meu marido, que eu estou grávida. Meu marido… Será que ele está bem? Será que ele