Capítulo 2
Abri os olhos e me encontrei na enfermaria da família Rossi.

A enfermeira que trocava meus curativos, Lidia, sabia o que tinha acontecido comigo. Quando viu que eu estava acordada, pareceu aliviada.

— Você ficou inconsciente por três dias. Graças a Deus acordou.

Ela baixou a voz.

— A senhorita Elena está em choque. O Don, a matriarca e o senhor Corleone estão todos na ala VIP cuidando dela. Eles culpam você pelo que aconteceu com Elena e estão furiosos. Quer que eu os chame para você se explicar?

Balancei a cabeça, a garganta seca demais para falar.

— Não. Eles não querem me ver, e eu também não quero vê-los.

Lidia assentiu, compreendendo, e continuou seu trabalho.

— Eu sei, não é justo. Você foi a que ficou gravemente ferida e foi levada às pressas para a emergência. A bala quase atingiu seu coração, e os médicos levaram cinco longas horas para removê-la. Mesmo que seus ferimentos tenham sido muito mais graves, eles só se importam se Elena ficou assustada. Vincenzo até trouxe os melhores psicólogos e comprou para ela uma caixa inteira de joias com diamantes.

Fechei os olhos. Nada daquilo importava mais.

À tarde, o médico pediu alguns exames. Consegui levantar da cama, cada passo enviando uma pontada aguda através do ferimento de bala. Enquanto caminhava pelo corredor, ouvi duas enfermeiras conversando.

— Elas são irmãs, mas Lena quase morreu de perda de sangue e ninguém veio visitar. Elena só ficou um pouco assustada e recebe o melhor atendimento médico da cidade.

— Você não sabe? Lena é uma criminosa condenada. Aos dez anos, ela assassinou um inocente funcionário do governo. Como pode se comparar com a doce senhorita Elena?

— Ouvi dizer que o noivo da Elena é Vincenzo Corleone, o Subchefe da família Corleone. Ele é jovem, talentoso e devoto dela. Ele esteve ao lado dela constantemente, chegando a contratar terapeutas particulares e a encher o quarto dela de joias. Eles até enviam água da França para ela.

Sempre tive reação alérgica à água mineral francesa. Me enche de manchas pelo corpo inteiro. Mas Elena gostava dela, então a família só mantinha essa água. Quando eu tinha reação, diziam que eu era "manhosa" e que estava "tentando contrariar Elena".

Ao ouvir os comentários invejosos das enfermeiras, me afastei em silêncio.

Ao passar pela ala VIP no último andar, ouvi risos e conversas do lado de dentro.

A porta estava entreaberta. Vi meu pai ajustando os travesseiros de Elena e minha mãe cortando um bife, dando pedaços a ela. Elena estava nos braços de Vincenzo, usando aquela voz frágil tão familiar.

— Ouvi que Lena ficou muito machucada. Mãe, pai, vocês cuidaram de mim esses dias. Por que não levam um pouco desse bife para ela? Ela precisa recuperar as forças.

Meu pai nem levantou o olhar.

— Não se preocupe com ela. Esse bife foi preparado especialmente para você. Seria desperdiçado em Lena.

Minha mãe concordou.

— Isso mesmo. Ela sempre causa problemas. Deve ter provocado o inimigo que a atacou. Se machucar é culpa dela.

Vincenzo acariciou o cabelo de Elena, a voz suave.

— Elena, você é gentil demais. Ela sempre tentou me enganar com mentiras, e mesmo assim você continua preocupada com ela.

Continuei caminhando, a dor no ferimento lembrando o estouro da explosão.

Eu me machuquei porque bloqueei a bala por Elena e Vincenzo. Mas para eles, minha dor valia menos que o bife dela.

Elena fingia se preocupar comigo diante dos outros. Mas quando estávamos sozinhas, ela zombava de mim, me chutava e me batia.

Depois corria para nossos pais chorando, distorcendo a verdade.

Todos acreditavam que ela era a princesa, então sempre ficavam do lado dela quando dizia que eu a intimidava.

Meus pais nunca escutavam meu lado. Apenas me puniam conforme a disciplina da família.

Depois disso, aprendi a ficar longe da minha irmã. Tudo o que Elena queria, eu dava para ela.

Quando me virei para ir embora, Vincenzo me viu.

Ele rapidamente me seguiu pelo corredor.

— Lena.

Parei, mas não me virei.

Seu tom era rígido.

— Fui eu quem a chamou ontem. Por isso você se machucou. Vou conseguir os melhores médicos para você e pagar pelo que aconteceu. Mas fique longe de Elena.

Mantive minha voz calma.

— Tudo bem.

Ele pareceu surpreso com a facilidade do meu acordo.

— Se você quiser… posso me desculpar por Elena.

Dei um sorriso amargo.

— No dia em que você souber toda a verdade, será mais patético do que eu.

Com isso, me afastei.

Na vida passada, Vincenzo era a única coisa que eu me recusava a desistir.

E veja onde isso me levou.

Desta vez, só quero viver minha própria vida. Sem lutar, sem tomar nada, sem amar.

A caminho da farmácia, precisei passar pelo jardim lá embaixo.

Ao passar pela fonte, Elena apareceu diante de mim.

— Aposto que os Corleones conseguiram os melhores médicos para você. Já está andando por aí. — Ela zombou.

— Deixe eu te avisar. A posição de matriarca dos Corleone será minha. Fique longe de Vincenzo. Mesmo se tentar dizer que era você quem estava com ele no esconderijo, ninguém vai acreditar numa criminosa juvenil como você.

Olhei para ela calmamente.

— Não se preocupe. A partir de agora, Vincenzo é seu. A família inteira é sua. Não vou disputar nada com você.

Elena agarrou meu pulso de repente, o aperto tão forte que doeu.

— Disputar? O que faz você pensar que pode disputar comigo? Eu sempre consegui tudo o que quis. Você só serve para ficar com meus restos!

Ela me puxou para dentro da fonte. A água gelada me engoliu na hora. Meu ferimento ardia como fogo. Lutei para sair, o sangue escapando pelos curativos e tingindo a água de vermelho.

Quando Elena ia continuar, seus olhos viram uma figura familiar.

Então ela fingiu cair na água e começou a se debater dramaticamente.

Vincenzo correu e pulou na fonte sem hesitar.

Mas ele passou direto por mim e levantou Elena nos braços. Minha visão ficou turva conforme a água entrava em minha boca e nariz.

Elena se agarrou a ele, fingindo preocupação.

— Lena me empurrou sem querer. Você pode salvá-la?

Ao ouvir Elena, a raiva de Vincenzo explodiu.

— Toda essa quietude é só atuação! Você acabou de me prometer que ficaria longe da Elena!

Então ele lançou um olhar frio para mim, lutando na água, e respondeu:

— Ela fez de propósito. Já que gosta tanto de brincar na água, deixe-a aí para esfriar a cabeça.

As palavras geladas de Vincenzo me cortaram.

Meu rosto ficou roxo pela falta de ar. Um zumbido encheu meus ouvidos. Não tinha mais forças. Minha visão escureceu. A última coisa que vi foi Vincenzo carregando Elena para fora, sem olhar para trás.

Não sei quanto tempo passou até os soldados me arrastarem para fora da fonte. Jogaram-me aos pés dos meus pais como um saco de lixo.

Isabella chutou meu ombro com o salto do sapato.

— Como ousa colocar as mãos em Elena? Os Corleone já estão discutindo o noivado. Se você estragar isso, jogo você no Rio East para os peixes!

Deitada no chão, encharcada, meu ferimento fazendo meu corpo tremer.

— Ela me empurrou.

Mas eles não ouviram. Não se importavam com a verdade.

Vittorio levantou a bengala e atingiu minhas costas.

— Estou avisando! Você nunca será boa o suficiente quanto Elena. Você não merece ser a matriarca Corleone. Fique longe dela. Dê a ela tudo o que ela quiser!

Ao ouvir a raiva deles, fiquei gelada. O desespero encheu meus olhos.

A dor que reprimi por anos finalmente explodiu.

— Eu não sou boa o suficiente? Elena é melhor? Se vocês não tivessem me mandado assumir a culpa dela, eu nunca teria virado uma criminosa! E fui eu quem salvou Vincenzo. Vocês deixaram Elena tomar meu lugar. Isso não é vergonhoso?

Diante da minha ousadia, o rosto de Isabella ficou vermelho. Vittorio me deu um tapa forte.

— O dogma da família Rossi é obediência. Sua vida pertence à família. Deixar você abrir caminho para Elena é sua honra! Você não tem direito de opinar.

— Se ousar falar a verdade de novo, nós vamos—

Nesse momento, Vincenzo entrou. Vittorio e Isabella se assustaram, mas ele não questionou a fúria deles.

Ele olhou para mim no chão, presumindo que eu me recusava a pedir desculpas e que isso havia irritado meus pais. Seu tom era gelado.

— Já que ela não admite sua culpa, trancem-na na cela subterrânea. Pode refletir lá.

Vittorio e Isabella acharam uma boa ideia. Chamaram soldados para me arrastar.

Eu sabia que resistir só traria punições piores, então não lutei enquanto me levavam.

A masmorra era fria, úmida e apertada.

Encostada na parede gelada, minhas lembranças voltaram a cinco anos atrás.

Quando Vincenzo não podia ver, ele me envolvia com seu casaco, dizendo que quando pudesse enxergar de novo, me levaria para a ilha particular dos Corleone.

Agora, quão ridículas aquelas doces palavras pareciam.

Não sei quanto tempo fiquei na solitária. Meu ferimento infeccionou, desenvolvi febre alta. Eu estava com frio e fome.

Quando Vincenzo apareceu de novo, ficou parado fora das grades e perguntou:

— Você reconhece seu erro?

Usei o resto da minha força para responder:

— Sim. Eu estava completamente errada.

Ele assentiu, satisfeito.

— Ótimo. Contanto que fique longe de Elena.

Observei-o se afastar. No meu coração, pensei:

Meu erro foi acreditar nas suas promessas. Meu erro foi te amar.
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