Depois que tudo estava organizado e todos trabalhado, Cecilia ficou sentada por um tempo, olhando para o jardins. O peito ainda estava apertado, como se as palavras dele estivessem presas na pele dela. "Eu tô aqui." Mas até quando? A promessa parecia grande demais para quem se recusava a assumir o que sentiam.
Mais tarde, Cecilia foi até o quarto de Samara. Assim que a amiga abriu a porta e viu o rosto cansado dela, não hesitou em puxá-la para dentro.
— O que aconteceu? — Samara perguntou, fechando a porta e guiando Cecilia até a cama.
Cecilia sentou-se, passando as mãos pelo rosto.
— Eu não sei mais o que fazer com o Fellipo — confessou, a voz embargada. — Ele é tão... confuso. Parece que se importa, mas ao mesmo tempo foge de mim como se eu fosse algum tipo de ameaça.
Samara franziu a testa, sentando-se de frente para ela.
— Ele te trata mal? — perguntou, já com aquele tom protetor que Cecilia conhecia bem.
— Não... é o contrário, na verdade — Cecilia murmurou, encarando as próprias mãos. — Ele cuida de mim, do meu pai... mas nunca fala sobre o que a gente é. E isso me destrói. Porque eu... — Ela engoliu em seco, hesitando.
— Porque você ama ele — Samara completou, com um sorriso triste.
Cecilia assentiu, as lágrimas voltando a se acumular nos olhos.
— E se ele nunca sentir o mesmo? — a voz dela saiu quase um sussurro. — E se eu estiver me agarrando a algo que nunca vai acontecer?
Samara pegou as mãos dela com firmeza.
— Você merece alguém que te ame sem medo, Cecilia. E eu acho que o Fellipo sente muito mais do que ele deixa transparecer. Mas se ele ainda não consegue lidar com isso, você precisa se perguntar se vale a pena se machucar esperando.
Cecilia fechou os olhos, deixando as lágrimas escorrerem. Ela sabia que a amiga tinha razão. Mas o problema era: como ela aprenderia a parar de esperar por ele?Com os dias passando, Cecilia se via cada vez mais envolvida — não só com o trabalho, mas com Fellipo também. A rotina na mansão, os momentos ao lado dele, os pequenos gestos de carinho que ele deixava escapar... tudo isso a fazia se afundar ainda mais nesse sentimento que ela tentava equilibrar com a responsabilidade de cuidar do pai.
Ela se dedicava ao máximo para manter tudo sob controle, mas, sem perceber, acabou negligenciando a própria saúde. A ida ao médico, que já estava marcada, foi adiada mais uma vez. Na penúltima consulta, ela tinha escolhido ficar com o pai quando ele, de repente, se lembrou dela — um momento raro e precioso. Eles passaram a tarde no jardim, conversando, como se o Alzheimer tivesse dado uma trégua temporária. Como poderia abandonar aquele instante para ir a uma consulta?
Hoje, no entanto, enquanto organizava alguns documentos para Samara, Cecilia colocou a mão na testa e suspirou ao se lembrar do compromisso perdido. Precisaria remarcar a consulta novamente.
Ela se sentou na pequena mesa que tinha no escritório disponível para a governanta, pegou o celular e começou a digitar a mensagem para a clínica, mas a mente estava longe. Sentia-se culpada por descuidar de si mesma, mas ao mesmo tempo, como equilibrar tudo? Seu pai, o trabalho, os sentimentos confusos por Fellipo... era como se cada parte da vida exigisse um pedaço dela, e não sobrava quase nada para si mesma.
Thor, percebendo a tristeza da dona, deitou a cabeça sobre o colo dela, arrancando um sorriso pequeno, mas genuíno.
— O que eu faço, hein, garoto? — ela perguntou, passando os dedos pelo pelo macio dele.
Mal sabia ela que, naquela noite, Fellipo voltaria mais cedo do que o esperado — e perceberia que algo estava errado.