O sol já alcançava seu ponto mais alto quando a movimentação começou a aumentar na mansão Colombo. Cecília estava na cozinha preparando um suco refrescante de frutas vermelhas com Dona Inês, quando ouviu o ronco suave de um furgão chegando pelos fundos da propriedade. Thor e os filhotes correram até a porta lateral, agitados.Fellipo apareceu na cozinha com aquele olhar meio sapeca e meio sério, típico dele quando estava prestes a surpreendê-la.— “Amore... acho que você vai querer vir comigo até o porão.”— “O porão?” — Cecília arqueou uma sobrancelha, intrigada. “Fellipo, o que você aprontou agora?”Ele apenas sorriu e estendeu a mão para ela. Quando desceram até o nível inferior da casa, o ambiente já estava iluminado, climatizado, com um leve aroma floral no ar. A equipe médica especializada estava toda presente, cuidando dos últimos ajustes.No espaço antes pouco usado, agora havia um ambiente completo, seguro e equipado — um mini centro obstétrico privativo, com tudo necessário
O aroma doce de pão de queijo fresco misturado ao leve perfume do café recém-passado se espalhava por toda a mansão. Cecília, com um vestido leve e os cabelos presos num coque despretensioso, colocava os últimos detalhes sobre a mesa com todo o carinho. Frutas frescas cortadas em potinhos, geleias artesanais, panquecas com calda de chocolate e morango, suco natural, tudo com aquela delicadeza que só ela tinha.Mesmo com as novas funcionárias prontas para ajudá-la, Cecília fazia questão de montar a mesa sozinha. Aquela manhã era importante — não por ser apenas mais um café em família, mas porque ela sabia que seria um marco para o homem que amava.Hoje, o passado de Fellipo seria enfrentado de frente. O que restava das sombras, das dores, dos traumas plantados por um pai cruel e uma mãe manipuladora, agora encontraria um novo lugar: o passado.Ela já havia ligado para Leonardo e Fernando logo cedo. Ambos entenderam o recado com poucas palavras. “É hoje”, ela disse. E os irmãos sabiam o
Depois das palavras de amor trocadas, do abraço que os sustentou, Fellipo sentou-se novamente. Mas seus olhos não voltaram à calma. Não ainda.Havia algo ali, preso entre o passado e o presente, como um espinho fincado na alma. Ele respirou fundo, e então, sem que ela perguntasse, ele começou. Sua voz era baixa, quase trêmula.— “Eu tinha uns oito anos... talvez nove. Era noite. A gente tava jantando, eu, minha mãe e ele. Tudo parecia normal até ela rir de alguma piada minha. Ele não gostava disso... que ela me ouvisse mais do que a ele.”Fellipo passou as mãos pelo rosto.— “Ele levantou da cadeira sem dizer nada. E no segundo seguinte, só ouvi o som do tapa. E depois outro. E mais um. Ela tentou correr pro banheiro, mas ele foi atrás.”Cecília apertou os dedos nos dele. O coração doía só de ouvir. Mas Fellipo precisava falar.— “Ele gritava que ela era ridícula, que estava gorda, que era inútil. E pra piorar, antes de sair, ele fez questão de dizer pra ela que ia pro bordel. Que era
A caminhada em família seguia tranquila quando Leonardo recebeu uma notificação urgente no celular. Ele parou por um instante, olhou o conteúdo, franziu a testa e guardou o aparelho no bolso, disfarçando a tensão. Cecília e Samara perceberam o gesto na hora — conheciam bem demais seus homens para ignorar aqueles pequenos sinais.— “Aconteceu alguma coisa?” — Samara perguntou, se aproximando.Leonardo hesitou por um segundo, trocando um olhar com Fellipo e Fernando, que já pareciam saber do que se tratava. Ele suspirou e decidiu contar o necessário.— “Recebemos a confirmação… a irmã do Dom Ortega está segura, sob proteção da Trindade. Ela está na Itália, em uma das nossas casas discretas.”Cecília e Samara se entreolharam, surpresas e imediatamente tocadas pela notícia. — “Ela… está bem?” — Cecília perguntou, com a voz suave, mas cheia de preocupação. — “Ela está viva,” — respondeu Fernando, com seriedade. — “Mas passou por coisas que nenhum ser humano, nenhuma mulher, deveria pass
O sol da tarde entrava pelas janelas da sala de estar na casa de Fellipo. Samara estava sentada com Lorenzo no colo, balançando suavemente o bebê, enquanto Cecília dobrava alguns paninhos das meninas. As duas conversavam em tom leve, mas o olhar de ambas carregava preocupação.Leonardo e Fellipo entraram juntos, expressão grave, mas com um brilho esperançoso nos olhos.— “Conseguimos.” — disse Leonardo, com a voz firme. — “Ortega autorizou a visita. Vocês podem ver Isadora.”Cecília parou tudo o que fazia. Samara encarou o marido, emocionada.— “Ela... está bem?” — perguntou Samara, em voz baixa.Fellipo se aproximou de sua esposa e segurou suas mãos.— “Ela está viva. Mas está quebrada. Não fala, não come... só chora. E achamos que só vocês podem tocá-la de verdade. De mulher pra mulher.”As duas se entreolharam, e sem trocar mais uma palavra, sabiam que iriam juntas, como irmãs, como mães, como apoio.Quando o carro parou de frente a casa fellipo informou que aviam chegado mas ele n
Cecília estava sentada no jardim, com uma manta sobre os ombros e uma xícara de chá nas mãos. Os olhos ainda levemente marejados depois da noite anterior. Samara apareceu com Lorenzon no colo, e ao ver a amiga naquele estado, sentou-se ao seu lado com um sorriso suave.— “Você também não conseguiu dormir direito, né?” — Samara perguntou.Cecília balançou a cabeça negativamente, olhando para o horizonte. — “A dor da Isadora tá aqui… grudada em mim. E eu fico pensando que a gente pode fazer mais.”Samara suspirou, balançando Lorenzon que brincava com os dedinhos. — “Eu também pensei nisso. E tive uma ideia...”As duas se entreolharam e, como se lessem o pensamento uma da outra, falaram quase juntas:— “Trazer ela pro condomínio.”Riram, mesmo que fosse um riso leve, quase tímido diante do peso do momento. Samara completou:— “Aqui ela estaria mais segura. Com a gente por perto. E... a casa anexa onde você ficou quando chegou poderia ser o lugar perfeito. Ela teria privacidade, mas também
Já era tarde da noite quando Fellipo chegou. Os olhos cansados pela missão finalizada, os ombros ainda tensos da responsabilidade, mas o coração leve por saber que em casa o esperava sua paz. Sua Cecília.Ela estava deitada na cama, já em meio ao sono, os cabelos espalhados sobre o travesseiro, a camisola marcando de leve o ventre cada vez mais arredondado. Fellipo se despiu silenciosamente, deitando-se ao lado dela. Encostou o rosto entre os fios de cabelo dela, inalando o perfume familiar que o fazia esquecer do mundo lá fora.Mas assim que os braços dele a envolveram, Cecília se virou repentinamente com os olhos bem abertos:— “Amor…” — ela disse, com uma carinha indecifrável. — “Hm?” — ele murmurou, sonolento. — “Me deu vontade de comer brigadeiro… com maçã picada… e cobertura de chocolate quente por cima.”Fellipo arregalou os olhos.— “O quê?! Isso é real? Ou você sonhou?” — “REAL. E é URGENTE.” — ela dizia com uma expressão seríssima, como se fosse questão de vida ou morte
O carro de Fellipo parou diante do portão do condomínio. Cecília, com a mão sobre o ventre, segurava a pasta com os registros do ultrassom — as imagens de suas quatro meninas que, cada vez mais, ganhavam forma, traços, vida. Ele estendeu a mão e a apertou com carinho.— “Preparada pra descansar um pouco?” — perguntou com um sorriso cansado, mas amoroso.— “Mais ou menos… estou estranhamente animada.” — ela respondeu, achando graça da própria agitação.🍼Quando atravessaram a entrada da casa, foram surpreendidos por uma explosão de tons de rosa.Balões dançavam presos a arcos decorativos. Uma mesa longa estava posta com toalhas floridas em tons suaves de rosa antigo, rosa bebê e branco. No centro, um bolo imenso em camadas, decorado com quatro bonequinhas de pasta americana, todas vestidas como pequenas bailarinas, com saias de tule e laços nas cabeças.Samara apareceu radiante, com um sorriso orgulhoso.— “Surpresa! Bem-vindos ao chá de fraldas das quadrigêmeas Colombo!”🍼Cecília levo