A madrugada ainda envolvia a cidade quando os carros da Trindade cruzaram os portões das respectivas mansões. O cansaço nos ombros, o cheiro de pólvora ainda impregnado nas roupas, mas o coração… tranquilo. A missão havia sido um sucesso.Fellipo olhou para o relógio ao desligar o carro: 04h47. Ao seu lado, Cecília dormia no banco do passageiro, a cabeça encostada com carinho, as mãos repousando sobre o ventre arredondado.Ele sorriu, abriu a porta devagar e, como um cavaleiro devoto, a pegou nos braços.— “Chegamos, amore mio…”Ao entrar em casa, Thor levantou o focinho e deu um leve latido de boas-vindas. Os filhotes logo apareceram, um deles com uma meia na boca. Fellipo riu baixo.— “Cuidado, pequenos, sua mamma está dormindo.”Levou Cecília até o sofá da sala e a deitou devagar, cobrindo-a com uma manta. Observou-a por um instante, os olhos marejando com o simples fato de tê-la ali, viva, esperando por ele.Já com o céu tingido de laranja e dourado, Cecília despertou com o som do
Com o bolo assando e a casa cheirando a milho e açúcar, Cecília deitou-se no sofá com os pés sobre o colo de Fellipo. Os filhotes dormiam enroscados perto da lareira, e Thor vigiava tudo com olhos atentos.Pietro cochilava em sua poltrona favorita, com um cobertor nas pernas e um livro no peito.Fellipo massageava os pés da esposa, enquanto a observava com aquele olhar que dizia “sou o homem mais sortudo do mundo”.— “Você acha que elas vão se parecer comigo ou com você?” — ela perguntou, olhando para o teto.— “Acho que vão ser um furacão… feito a mãe.” — ele sorriu, com orgulho na voz. “Mas vão ter o coração gigante… como o seu.”Ela sorriu, emocionada.— “Eu só quero que sejam felizes. E que se sintam amadas todos os dias.”— “E serão. Por mim, por você… por todos nós. Porque a Trindade pode até ser temida, Cecília. Mas dentro dessa casa... a gente só quer amar.”A noite havia caído suavemente, espalhando sombras e silêncios pela mansão Colombo. Thor e os filhotes já estavam acomod
O sol já alcançava seu ponto mais alto quando a movimentação começou a aumentar na mansão Colombo. Cecília estava na cozinha preparando um suco refrescante de frutas vermelhas com Dona Inês, quando ouviu o ronco suave de um furgão chegando pelos fundos da propriedade. Thor e os filhotes correram até a porta lateral, agitados.Fellipo apareceu na cozinha com aquele olhar meio sapeca e meio sério, típico dele quando estava prestes a surpreendê-la.— “Amore... acho que você vai querer vir comigo até o porão.”— “O porão?” — Cecília arqueou uma sobrancelha, intrigada. “Fellipo, o que você aprontou agora?”Ele apenas sorriu e estendeu a mão para ela. Quando desceram até o nível inferior da casa, o ambiente já estava iluminado, climatizado, com um leve aroma floral no ar. A equipe médica especializada estava toda presente, cuidando dos últimos ajustes.No espaço antes pouco usado, agora havia um ambiente completo, seguro e equipado — um mini centro obstétrico privativo, com tudo necessário
O aroma doce de pão de queijo fresco misturado ao leve perfume do café recém-passado se espalhava por toda a mansão. Cecília, com um vestido leve e os cabelos presos num coque despretensioso, colocava os últimos detalhes sobre a mesa com todo o carinho. Frutas frescas cortadas em potinhos, geleias artesanais, panquecas com calda de chocolate e morango, suco natural, tudo com aquela delicadeza que só ela tinha.Mesmo com as novas funcionárias prontas para ajudá-la, Cecília fazia questão de montar a mesa sozinha. Aquela manhã era importante — não por ser apenas mais um café em família, mas porque ela sabia que seria um marco para o homem que amava.Hoje, o passado de Fellipo seria enfrentado de frente. O que restava das sombras, das dores, dos traumas plantados por um pai cruel e uma mãe manipuladora, agora encontraria um novo lugar: o passado.Ela já havia ligado para Leonardo e Fernando logo cedo. Ambos entenderam o recado com poucas palavras. “É hoje”, ela disse. E os irmãos sabiam o
Depois das palavras de amor trocadas, do abraço que os sustentou, Fellipo sentou-se novamente. Mas seus olhos não voltaram à calma. Não ainda.Havia algo ali, preso entre o passado e o presente, como um espinho fincado na alma. Ele respirou fundo, e então, sem que ela perguntasse, ele começou. Sua voz era baixa, quase trêmula.— “Eu tinha uns oito anos... talvez nove. Era noite. A gente tava jantando, eu, minha mãe e ele. Tudo parecia normal até ela rir de alguma piada minha. Ele não gostava disso... que ela me ouvisse mais do que a ele.”Fellipo passou as mãos pelo rosto.— “Ele levantou da cadeira sem dizer nada. E no segundo seguinte, só ouvi o som do tapa. E depois outro. E mais um. Ela tentou correr pro banheiro, mas ele foi atrás.”Cecília apertou os dedos nos dele. O coração doía só de ouvir. Mas Fellipo precisava falar.— “Ele gritava que ela era ridícula, que estava gorda, que era inútil. E pra piorar, antes de sair, ele fez questão de dizer pra ela que ia pro bordel. Que era
A caminhada em família seguia tranquila quando Leonardo recebeu uma notificação urgente no celular. Ele parou por um instante, olhou o conteúdo, franziu a testa e guardou o aparelho no bolso, disfarçando a tensão. Cecília e Samara perceberam o gesto na hora — conheciam bem demais seus homens para ignorar aqueles pequenos sinais.— “Aconteceu alguma coisa?” — Samara perguntou, se aproximando.Leonardo hesitou por um segundo, trocando um olhar com Fellipo e Fernando, que já pareciam saber do que se tratava. Ele suspirou e decidiu contar o necessário.— “Recebemos a confirmação… a irmã do Dom Ortega está segura, sob proteção da Trindade. Ela está na Itália, em uma das nossas casas discretas.”Cecília e Samara se entreolharam, surpresas e imediatamente tocadas pela notícia. — “Ela… está bem?” — Cecília perguntou, com a voz suave, mas cheia de preocupação. — “Ela está viva,” — respondeu Fernando, com seriedade. — “Mas passou por coisas que nenhum ser humano, nenhuma mulher, deveria pass
O sol da tarde entrava pelas janelas da sala de estar na casa de Fellipo. Samara estava sentada com Lorenzo no colo, balançando suavemente o bebê, enquanto Cecília dobrava alguns paninhos das meninas. As duas conversavam em tom leve, mas o olhar de ambas carregava preocupação.Leonardo e Fellipo entraram juntos, expressão grave, mas com um brilho esperançoso nos olhos.— “Conseguimos.” — disse Leonardo, com a voz firme. — “Ortega autorizou a visita. Vocês podem ver Isadora.”Cecília parou tudo o que fazia. Samara encarou o marido, emocionada.— “Ela... está bem?” — perguntou Samara, em voz baixa.Fellipo se aproximou de sua esposa e segurou suas mãos.— “Ela está viva. Mas está quebrada. Não fala, não come... só chora. E achamos que só vocês podem tocá-la de verdade. De mulher pra mulher.”As duas se entreolharam, e sem trocar mais uma palavra, sabiam que iriam juntas, como irmãs, como mães, como apoio.Quando o carro parou de frente a casa fellipo informou que aviam chegado mas ele n
Cecília estava sentada no jardim, com uma manta sobre os ombros e uma xícara de chá nas mãos. Os olhos ainda levemente marejados depois da noite anterior. Samara apareceu com Lorenzon no colo, e ao ver a amiga naquele estado, sentou-se ao seu lado com um sorriso suave.— “Você também não conseguiu dormir direito, né?” — Samara perguntou.Cecília balançou a cabeça negativamente, olhando para o horizonte. — “A dor da Isadora tá aqui… grudada em mim. E eu fico pensando que a gente pode fazer mais.”Samara suspirou, balançando Lorenzon que brincava com os dedinhos. — “Eu também pensei nisso. E tive uma ideia...”As duas se entreolharam e, como se lessem o pensamento uma da outra, falaram quase juntas:— “Trazer ela pro condomínio.”Riram, mesmo que fosse um riso leve, quase tímido diante do peso do momento. Samara completou:— “Aqui ela estaria mais segura. Com a gente por perto. E... a casa anexa onde você ficou quando chegou poderia ser o lugar perfeito. Ela teria privacidade, mas também