Me coloco de pé, mesmo sentindo zumbido em meu ouvido, pego nas minhas coisas e devolvo na sacola. Olho para o corpo morto do homem e não sinto culpa. Como se meu coração estivesse gelado.
Me aproximo de seu corpo, e começo a lhe revistar. Ele tem algumas moedas de bronze e de prata, pego para mim, como o pagamento da comida que ele comeu.
Me faço alguns curativos, e tomo analgesico.
Na outra margem vejo uma pequena lagoa. Não tenho forças para caminhar e me sinto suja com o sangue desse homem grudado em mim. Caminho em direção a lagoa. Que nem levou vinte minutos, mas me afastou da minha trilha. Caiu de frente a ela, olho para o meu reflexo na água, e tem sangue colado em meu pescoço e minha bochecha. Primeiro bebo a água e depois limpo meu rosto.
Me sinto fraca e tonta. Me escorro até outra árvore. Abraço ao que restou da lâmina da espada e apago.
(...)
Lá fora é tão barulho
É como se meus ouvidos estivessem sangrando
O que eu estou sentindo?
A luz é tão brilhante
É como se eu estivesse superaquecendo
Essa mente não é minha
Quem sou eu para julgar?
Abro os olhos imediatamente, sentindo o sol me picar, e essa melodia distante que canta como se estivesse falando comigo. Pensa que é alguma voz do fundo da minha mente, até que a ouço cantar novamente.
Oh, eu deveria ficar bem
Mas tudo isso é demais
O que aconteceu comigo
Parece que sou outra pessoa
Olho em volta em busca da voz, que parece uma sereia envolvida em melancolia, até que fez a silhueta de uma mulher de costas, catando lenha. Seus cabelos são como azul intenso do mar, num tom escuro, não é muito alta e tem o corpo pequeno.
Minha ansiedade me mantem em silêncio
Quando tento falar
O que aconteceu comigo
Parece que sou outra pessoa
Eu fico sobrecarregada
Todos esses rostos
Que não sabem o que é espaço
E multidões são fechadas
Ninguém entende
Eles dizem que sou sensível demais
Nao consigo ouvir porque estou de olho nas saídas
Essa mente não é minha
Quem sou eu para julgar?
Oh, eu deveria ficar bem
Mas tudo isso é demais.
A mulher se vira, então nosso olhar se cruza. Ele para de cantar.
-- Te acordei, desculpa. -- sua voz é suave.
-- Nao, ja havia acordado.—me coloco meu pé, e escondo a lâmina dentro da sacola, ela vem coçando quando vem em minha direção, e apesar de sua beleza exótica, ela tem essa difícil, em seu pé. Não sei bem o que é já que veste um vestido longo.—posso te ajudar com a lenha?
- Tem certeza?
-- Sim.—digo já pegando a lenha.—eu sou a Tulipa, e a senhora.
- Eu sou a Jasmim.
Será que é a Jasmim, Jasmim, filha do antigo rei, ou ela é qualquer Jasmim. Mas seus cabelos azul escuro de seus cabelos, e o azul claro de seus olhos, não me deixam dúvidas.
-- Vossa alteza. -- ela ri.
-- Apenas Jasmim.
Ficamos em silêncio enquanto caminhamos, o caminho que ela leva, é o mesmo que eu ia seguindo, mas, não chegamos a aparecer no vilarejo, e já vejo uma cabana. Não tão boa quanto a casa dos meus pais, mas diferente. Seus blocos são feitos de pedra de gelo que não derrete, a estrutura da casa é retangular e tem um pequeno piso feito de gelo liso. Com pequenas escadarias. Ela parece a Frozen.
-- Pode entrar, e tomar um café comigo.
- Eu agradeceria. Estou com muita fome.
Subimos as escadas, e ela abre a porta.
- Estou de volta. -- Jasmim.
Então ela não vivia sozinha.
-- Licença.—digo antes de entrar.
Seja com quem for que ela esteja vivendo essa pessoa domina a água implacavelmente.
Por dentro a casa é espaçosa com mobílias feitas a gelo, mas cobertas por peles de animais. Todo o chão da casa é coberto por pelos de animais, e a casa tem um ar aconchegante.
-- Demorou como sempre. --ouço uma voz masculina séria.
-- Me distrai. -- ela abre uma outra porta que dá acesso a cozinha da casa. Entao nao acredito em quem vejo cozinhando.—Pode deixar no chão as lenhas.
-- Você não é criança para ficar se distraindo com cada pequena coisa.—no mesmo instante que ele termina de falar e nossos olhares se cruzam. Um sorriso irônico brota de seus lábios. -- Flor.
-- Tulipa. Senhor Heydrich. -- digo entre dentes.
Como assim o vilão da história cozinha, e provavelmente leva uma vida normal. Não faz sentido. Alguém me explica o que está acontecendo aqui.
- Vocês se conhecem?—Jasmim.
- Por que trouxe uma estranha para casa. Ja nao te disse para nao falar com estranhos.--Heydrich
-- Mas, vocês se conhecem.—ela aponta para mim e para Heydrich
-- Fala sério, apenas saia daqui, e me deixem cozinhar.
Aquilo que eu disse sobre a minha casa ser a melhor, eu retiro o que eu disse, a casa deles, é uma versão futurista de casas futuras. Nos sentamos no sofá. Ela cruza os pés elegantemente, e me encara.
-- E então de onde você conhece o meu filho?
Fico pasma, completamente sem reação. Incrédula. Sem ar. Não faz sentido. Alguém me mande o enredo completo da história.
-- Me desculpe pela falta de respeito, mas quantos anos tem Jasmim.
- 42 anos.
Fico instantes encarando como se tivesse levado um soco ainda pior que eu levei ontem. Como assim 42 anos. Eu juraria que ela tem 18 anos e no máximo 20 anos. Que tipo de genética é essa meu Deus, que você dá a esse povo.
-- Então vocês se conheceram quando ele se feriu. Obrigada por cuidar do meu filho.