Raphael
A sala de reuniões da villa ainda cheirava a fumaça de charuto e a vinho derramado da noite anterior. Eu me sentava à cabeceira da mesa comprida, cercado por homens que me observavam com uma mistura de respeito e temor. Ser Don Moretti era mais do que carregar um nome. Era um fardo que se cravava na pele e no coração como uma cicatriz eterna.
As vozes ao meu redor discutiam rotas de contrabando, alianças, dívidas a cobrar. Eu escutava, mas não ouvia. Estava ali, presente em corpo, mas meu pensamento vagava quilômetros longe daquela mesa, em direção ao Rio de Janeiro.
Em direção a ela.
Donatella.
Meu coração se agitava só de pronunciar o nome em silêncio. Desde que assumi o lugar de meu pai, não tive tempo de respirar, de olhar para trás. Cada decisão que tomo carrega o peso de centenas de vidas, de uma família inteira que depende da minha firmeza. Mas à noite, quando a casa mergulha em silêncio, é sua ausência que me devora. E é no silêncio do Don que descubro a verdade: sem