Donatella
O sol lentamente desaparecia atrás dos prédios altos do Leblon, deixando uma sombra comprida em minha varanda. Eu, sentada sozinha naquela poltrona macia que Raphael havia comprado quando estava aqui no Brasil antes de ir para Palermo, observava em silêncio a cidade acender suas luzes, indiferente à minha solidão.
Raphael. Apenas a lembrança de seu nome me causava uma dor profunda e familiar. Eu havia me acostumado com sua ausência, como alguém se acostuma a um frio constante ou a uma dor silenciosa. Não sabia exatamente quando ele havia deixado de me ligar, ou quando parei de esperar que o fizesse. Talvez a distância tivesse, enfim, feito seu trabalho: afastado de mim aquele que um dia prometeu nunca me deixar.
Tomei um gole de vinho tinto, deixando o líquido escorrer lentamente pela minha garganta, ardendo mais do que aliviando. Meu olhar pousou no porta-retrato sobre a mesa de vidro. Raphael me abraçava naquela fotografia, seus olhos intensos fixados apenas em mim. Era o