Raphael
A manhã em Palermo tinha aquele tipo de silêncio que antecede uma tempestade. As janelas da villa deixavam entrar um raio tímido de sol, filtrado pela cortina de linho grosso que minha mãe havia escolhido anos atrás. O aroma persistente de limão ainda pairava no ar, mas agora parecia misturado a algo agridoce – talvez o gosto recente da desconfiança.
Dante estava no Rio de Janeiro.
E não me disse nada.
— Foi decisão dele, Raphael — disse meu papá, apoiado na bengala, com o corpo inclinado sobre a varanda de pedra. Nem parece que dias atrás estava numa cama doente, agora estava ali em pé com seu charuto. Tem vícios que são difíceis de largar. — Você precisa deixar seu irmão resolver as coisas dele. Aqui é onde suas responsabilidades estão.
Respirei fundo. A fumaça do charuto que ele segurava serpenteava entre nós, como um lembrete silencioso de que ele ainda observava tudo, mesmo quando dizia estar cansado.
— Ele nunca faz nada por acaso. E nunca sem falar comigo, papá. Isso n