RECOMEÇOS
RECOMEÇOS
Por: Val Kosi
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Ele estava ouvindo o seu pai reclamar, a sua mãe chorar, as ameaças e os pedidos. Depois de tudo isso foi pro seu quarto, jogou a mochila em um canto e deitou na cama. Ele realmente não gostava daquela escola, daquela vizinhança e daquela cidade.

Resolveu trocar de roupa e dar uma volta, parou em um parque, sentou embaixo de uma árvore e começou a ler. De repente uma risada o tirou de seu universo paralelo, uma menina de uns sete anos estava sentada ao seu lado e sorria para o livro.

Ela era baixinha, sorridente e quando ele olhou à sua volta estava sozinha.

-Ola tampinha, cadê a sua mãe?

-Nao tenho...

-Seu pai?

-Trabalhando...

Ele olhou à sua volta e se levantou, ele chamaria a polícia. A menina estava bem vestida e limpa, então devia apenas estar perdida.

-Sami! Sami...- um garoto da sua idade chegou correndo, mas a menina foi atrás dele, então desconfiado a manteve a distância do garoto.

-Você conhece ela? - olhando bem eles eram parecidos, o garoto pegou a carteira e mostrou a foto deles dois e de um senhor que deveria ser o pai.

-Meu nome é Samuel, ela é Samantha, chamamos de Sami, tem 8 anos, ama azul, gatos, e me deixar louco... Venha aqui Sami, ele vai chamar a polícia.

-Nao precisa, desculpa, mano eu queria ir no lago, largar essa flor...

-Ok, diz tchau para o moço e vamos...

-Adeus, tampinha. - ela foi com o irmão, ele resolveu ficar de olho, mas eles largaram as flores no lago, se ajoelharam e depois foram embora.

Na escola no outro dia, ele deu de cara com Samuel, estudariam juntos. No intervalo eles estavam juntos na fila e acabaram na mesma mesa.

-Entao Felipe, tá gostando daqui, desculpa não gosto de almoçar sem saber ques está na minha frente.

-Todos os lugares são exatamente iguais, aqui também cara. E a tampinha?

-Hoje ela está com a minha tia, ela fica com ela de dia quando não tem aula. E a noite eu busco ela, meu pai é o prefeito e CEO de uma empresa de exportação, então vemos ele pouco.

-Entendi, então e verdade que ela não tem mãe?

-Ela faleceu ano passado, acidente de carro.

Eles conversaram, trocaram números, e quando estavam indo pra casa descobriram que eram vizinhos de porta. Quando chegaram em casa a menina baixinha esperava o irmão no portão, ele a pegou no colo e se despediu, a menina também fez tchau pra ele.

Alguns meses depois ele já era íntimo da casa ao lado, lá era mais confortável de ficar, Samuel fazia a menina dormir e eles estudavam ou jogavam. Esse era o último ano, e ele queria passar em uma universidade longe dali, pra fugir do pai.

Samuel queria ficar na cidade, ele tinha medo que a irmã ficasse esquecida, já que o pai nunca estava junto.

E assim eles se separaram, ele foi pra uma universidade longe e Samuel ficou na cidade. Eles conversavam todos os dias, ele tinha Samuel e Samanta como membros de sua família. Nas férias ele e Samuel levavam a menina passear e fazer novas atividades.

Quando Sami fez onze anos ela fez o irmão ir embora pra estudar, ele não queria ir, mas ela já entendia do mundo a sua volta, e fez o pai matricula-la em uma escola pra garotas e deixou bem claro que Samuel devia seguir o seu caminho também. Assim eles dois se encontraram na universidade, e foram dividir um apartamento.

Ele se formou com louvor em direito, e Samuel fez administração de empresas. Fizeram pós graduação e viajaram pra completar a formação com cursos no exterior. Samuel retornou pra cidade pra administrar os negócios da família, ele ficou estudando mais um pouco, ele era o correspondente e representante internacional do escritório de advocacia importante. E assim passou cinco, dez, quinze anos, vinte anos, até que viu a necessidade de voltar pra casa, pois o que antes o problema era estar em casa agora era a falta de um lar.

Samuel o esperava no aeroporto, eles nunca deixaram de ser amigos nesse tempo. Era bom ter o amigo por perto. Eles jantaram juntos, e depois ele organizou algumas coisas pra ir no escritório no outro dia.

"Sami trabalha lá também, fica de olho nela pra mim, seja meus olhos" Ele achou estranho esse pedido, Samantha era um mulher casada nos seus trinta e seis anos, com um filho na faculdade e um casamento estável. Esse pedido parecia bobo e sem sentido.

Ele chegou ao escritório, foi apresentado a todos, Samantha não estava lá. Ele foi a sua sala e organizou seu pertences, com tudo arrumado fez ligações pra marcar as reuniões que precisava fazer. Ele ainda seria mais da parte comercial do que jurídica do escritório.

Quando terminou algumas reuniões on-line, percebeu que já era hora de almoçar. Samantha ainda não estava no escritório. Na saída a tarde ela também não estava. No outro dia a mesma coisa.

- Sua irmã está bem? Ela não vem trabalhar a dois dias. - eles dois estavam jantando juntos.

-Ela está resolvendo as questões legais de João, o seu esposo. -foi então que ele lembrou que havia sofrido um acidente e estava em coma, agora percebeu que o pedido não era tão estúpido assim, mais uma vez a tampinha estava sozinha.

- Esqueci disso...

A primeira semana estava quase passando, ele já estava familiarizado com o escritório e com suas novas atribuições, ele sabia que ainda tinha coisas pra resolver, mas tinha que ser aos poucos.

Como em toda sexta-feira, havia a reunião de equipe. Como seria a sua primeira presencial, foi antes pra sala de reuniões pra se preparar.

Quando abriu a porta, a sala toda estava bem iluminada e uma única mulher com uma trança impecável que deixava o pescoço à mostra, a pele era clara, e tinha um aspecto que pedia ser tocada. Levou mais um momento pra ver ela de costas, estava sentada ereta, usava um conjunto de blazer e saia cinza, e usava botas pretas. Cada detalhe em sua visão por traz era perfeita, ela se levantou e ele deu um passo pra trás pra poder ver tudo de um único ângulo.

Quando ela se virou pra ele, sorriu com uma luz ofuscante, e quando ele olhou seu rosto seu coração parou por dez segundos.

-Ola Felipe! A quanto tempo. -ela caminhou até ele e ofereceu a mão.

-Tampinha?

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