Adan
Na madrugada, trancado no meu escritório, limpava a pistola. Aprendi aquilo com o meu avô. Por muitas vezes, eu e os meus irmãos pensamos em vendê-la. Houve dias de muita fome na minha infância, mas minha mãe nunca permitiu.
Alguns anos mais tarde, o meu irmão mais velho a entregou para mim. Disse que não queria aquilo na mesma casa que a sua filha. Ele estava certo. Também nunca quis levar isso para casa, sempre ficou no banco. Desde esse dia, era a primeira vez que pegava nela. E a usaria em uma semana se aquele maldito celular tocasse.
Como se fosse a força do meu pensamento, o celular à mesa tocou. Olhei-o nervoso. Coloquei a arma sobre a mesa e apanhei-o. Apertei o botão e levei-o até a orelha, calmamente.
— É você?
Um minuto de silêncio. Uma risada roca e escrota ecoou do outro lado da linha.
— É você!
— Então acho que é comigo que quer falar.
Outra risada.
— Está a fim de negociar? Sei que é um homem de boas negociações.
— Estou. Qual é a sua proposta, Paco?
O meu coração