O relógio da parede marcava quase oito horas quando a campainha soou, interrompendo o silêncio tranquilo da noite. O som metálico reverberou pela casa dos Chávez como um aviso indesejado. Helena, que estava na cozinha preparando um chá para Fernando, franziu o cenho.
Alexia, sentada no sofá com um livro aberto no colo, ergueu o olhar para a porta. Um aperto no estômago a alertou antes mesmo de ouvir os passos no corredor. Clara, mais ágil, foi atender. Ao abrir, o ar noturno trouxe junto a figura de Vicente.
Ele vestia camisa social azul, as mangas dobradas até o cotovelo, e tinha o cabelo milimetricamente penteado para trás. Um sorriso treinado surgiu em seus lábios, mas os olhos frios denunciavam outra intenção.
— Boa noite. — Disse, como se a visita fosse a coisa mais natural do mundo. — Posso entrar?
Clara hesitou, mas acabou dando passagem. Helena apareceu logo atrás, enxugando as mãos no avental, e parou no corredor, o olhar sério. Fernando, da sala, ergueu-se com esforço, apoia