Olívia Varsalles
Olhei para o céu completamente azul, suspirei fundo olhando para os tons claros de fagulhas de nuvem que se destacam no céu azul sublime, as lágrimas desciam pausadamente a cada suspirar, no meu peito jaz uma fadiga, mais uma vez olhei para a cama passei a mão no rosto voltei a olha-lo, desta vez, estando de olhos abertos pra mim.
Sorri ao máximo ao vê-lo me observar, os cabelos grisalhos penteados para o lado, bem ralinhos, as rugas se grupam em seu rosto com manchinhas escuras por todos os lados, os lábios ressecados. — Mandou me... — Virei-me indo até ele, que deitado na cama com olhos verdes me observava pacientemente.
— Ainda chorando querida? — Nem mesmo deixou-me completar a frase, mas neguei, caminhando até a cama, sentei a seu lado, dando um beijo em sua testa. — Não vô, apenas contemplando o céu, esta azul, bonito lá for... — Senti a sua mão acariciar seu rosto, tão fria, frágil e enrugada que não suportei mais fingir perante a sua magreza excessiva, até tentei ser forte, mas as lágrimas desceram, rolaram pelo meu rosto sem parar, denunciando a aflição que jaz em meu peito. — Não tente... cof cof... — A tosse alta não lhe deixou terminar de falar, ao cuspir vi o sangue mais uma vez.
— Enfermeira, um médico por favor! — Tentei-me soltar junto ao pedido, mas a sua mão magra me segurou, negou com as cabeça. — Vovô por favor... — Pedi ao homem que me criou, foi mãe, pai, avô, tudo pra mim. — Não adianta chamar Liv. — Desabei no choro ao escuta-lo, segurando a minha mão, o médico veio, o seu toque macio aveludado fora ficando firme devagar.
As lágrimas desceram, até que um perfume diferente tomou a sala. — O que podemos fazer? — Indagou uma voz alta e firme, masculina atrás de mim, virei-me aos prantos, um homem alto, loiro, olhos azuis, numa blusa azul clara de mangas arregaçadas até os cotovelos, desabotoada no peito, apenas encarava os médicos. — Não há nada a ser feito senhor Vance. Apenas se despença do senhor Vassarles, tudo que... — Neguei, a mão ao tentar soltar de mim, segurei firme. — Vô, meu avô, vovô não!
Desesperei-me até que fui retirada da sala, os minutos finais da vida do meu avõ fora segurando a minha mão, era doloroso lhe ver partir, assim doente, deste jeito, aos poucos o remédio fora fazendo efeito em mim, tudo que ouvir naquela tarde. — Organize o melhor funeral para ele! — Fechei os olhos vendo uma enfermeira a minha frente observando os meus últimos mover de olhos.
Acordei no dia seguinte recolhi coragem dentro de mim, para seguir o cortejo, não sabia e nem queria saber o que o aconteceria com a Vassarles empreendimentos, se havia herdeiros ou não, tudo que eu queria era aproveitar os ultimos momentos no peito do meu avô que dentro de uma caixa de madeira apenas revelava o rosto.
Olhei em volta. — Porque esta fechado eu quer... — Um dos funcionários veio com o ar de pesar e tristeza. — Não podemos abrir senhorita Varssales, o senhor Vance não quer que o senhor seja exposto no estado que esta. — Assenti me sentindo inconformada.
O homem de cabelos loiros, olhos azuis, forte chamado Vance, eu não tinha noção de quem era, mas ele ficou a frente de tudo desde que o meu avô fechou os olhos na UTI, lhe procurei no meio dos demais, amigos, conhecidos e familiares. — Senhor Vance. — Olhou-me sério de onde estava. — Me deixe desperdir-me do meu vô por favor. — Inspirou ao me ouvir, seus olhos azuis não eram ternos.
Até arquear a sobrancelha por fim. — Antes da partida, darei cinco minutos para que fique a sós com ele. — Engoli em seco, pra que só tinha o meu avô a vida inteira como tudo, o que eram cinco minutos? Não reclamei, apenas abaixei os meus olhos vendo que este homem tem o domínio de tudo nas mãos.
O dia passou rapidamente, eu sabia que meu avô não poderia ficar por mais tempo devido a causa da morte, a cirrosse, tive os meus cinco minutos a sós, meus últimos cinco minutos na vida, arrancaram-me pelos braços de cima do seu corpo, não me importava que já estava com odor, era meu avô acima de qualquer coisa.
Acompanhei o sepultamento e as homenagens que se findam, as pessoas nunca iam a uma visita no hospital, mas em sua morte todos foram. Retornei para casa ao anoitecer, desta vez sozinha, a casa oca assim como eu me sinto por dentro, as lágrimas desciam enquanto olhando ao redor me perguntava o porquê? Porque as pessoas boas morrem? Porque eles tem que partir?
Foi a semana mais díficil da minha vida, não fui a faculdade, tampouco sai de casa, todos os dias mal sabia a hora de acordar deixei o relógio de lado, como todos os compromissos, meu avô se foi e com ele a boa garota também, tudo era tão injusto aos meus olhos, os ramalhetes de flores desejando pêsames e pesares não pararam de chegar, não me importava ler os nomes, ninguém e nenhum deles mais eram importantes pra mim.
Até o telefone toca no domingo pela manhã. — Alô? — Atendi o telefone com a voz rouca, o rosto pesado, olhar toda a casa e não me lembrar de alguma memória dele. — Liv onde você esta? — Suspirei profundo olhando a caneta a minha frente. — Em casa senhor Lewis, o que...
Interrompeu-me demonstrando sua curta paciência, mas respeitando o meu momento de dor.— Todos estão a sua espera minha querida, sem você presente não pode haver a leitura do testamento. — Sorri fraco, todos? Quem são todos? — Faça sem mim, eu não me importo com...
— A senhorita não pode faltar, Liv caso contrário teremos que adiar. — Assenti. — Que adie neste caso, já que todos estiveram ausente quando ele precisou, que esperem. — Desliguei o telefone caminhei pela casa, passei a mão pelas paredes, a cada parede, cada pedaçõ de casa tem tantas recordações do meu avô por aqui, desde que eu era uma garotinha me lembro deste lugar.
Olhei a cozinha, os corredores, as salas, não há explicação para a sua partida repentina. — Sinto tanto a sua falta vô, o senhor também sente a minha daí? — As lágrimas desciam sem controle, o meu peito apertado doendo não conseguia dá conta do que a vida estava me fazendo provar.
— Onde ela esta? — Escutei a voz de um homem na sala, estando no quarto do meu avô a porta entre aberta, continuei a olhar as suas meias. — Desça houve mudança de leitura do testamento, o local será aqui! — O olhei de pé, sério, me sentindo exausta. — Porque tanta pressa na leitura de um testamento, quando ele precisou...
— Eu estava no Japão, não soube por semanas, antes de ir perguntei a ele se estava tudo bem... — Suspirou fundo entre a porta. — ...aliás eu não devo satisfações a você, mas independentemente, se a empresa passar mais um dia nas mãos dos empregados, na sua vida de garota rica e mimada nada irá mudar, não é mesmo? — O olhei virando-me desta vez.
— Garota rica e mimada? — O homem apenas saiu do quarto, sai do quarto lhe seguindo pelo corredor. — Quem você pensa que é pra me ofender deste jeito? — Sorriu descendo escadas a baixo. — Alguém que não lhe deve explicações. — O tom é pura confiança e zombaria de mim.— Eu também não lhe devo explicações. — Vociferei, até olhar para baixo, ver uma dúzia de pessoas que nunca vi na vida.
Ele se juntou a elas, uma mulher alta, loira, de óculos numa roupa preta me olhou de baixo a cima, o blazer preto de tecido inglês refinado, os cabelos lisos loiros sedosos, em cachos no meio das costas, afastou os óculos ao me ver. Senti o meu coração acelerar com o seu olhar. — Olívia? — Olhei dela para as outras, sendo parecidas entre si, os homens também em ternos negros, além de outras mulheres, mas aquela no meio das outras não parou de me olhar.
— Liv... — Pigarreou o advogado junto ao tabelião. — Senhorita Olívia Varssales estando presente, podemos dá inicio a leitura. — Olhei para Lewis que é o único que conheço entre todos presentes. — Quem são eles? — Abaixou a cabeça com meio sorriso a minha frente, o encarei a espera de resposta, até que lamentou para mim.
— Ande não tenho tempo para delongas, não tenho interesse em ... — Os olhos do homem parecido com o meu avô avaliou-me de baixo a cima. — Não comece Andrey. — A mulher que me observava falou. — Não comece você Yolanda, quer bancar a boa mãe agora? — A olhei, então ela? É a minha mãe? Riram alto em gargalhada, a observei sem demonstrar frustação por isto.
Iniciou-se uma discurssão me fazendo notar que em meio há tantos filhos, nenhum deles se importava realmente com o meu avô, o tabelião bateu o martelo na mesa de madeira três vezes com força. O encarei séria. — Não faça isso outra vez, além de ser a mesa preferida do meu avô, este lugar é o seu assento.
Apenas assentiu, acariciando o lugar que danificiou. Suspirei olhando em volta, quantos filhos, seis, ele tem seis filhos, noras, genros, avaliei de uma a um silenciosamente. — Podemos começar? — O homem chamado Vance tomou a frente, fazendo todos se calarem.