Capitulo III- Testamento

Olivia Verssalis

— Querida, tudo isso vai passar. A dor ainda será destruidora por dias, mas vai amenizar.  — Olhei para a mulher de cabelos loiros longos no meio das costas, com as suas mãos finas e macias em mim, a situação não era das melhores, mas eu não precisava mais de uma mãe, a única pessoa que eu preciso é do meu avô. 

Enxunguei as minhas lágrimas com o meu pulso envolto na camisa de mangas compridas branca, neguei a ela que tentava me consolar, a medida que suas mãos tocavam a minha pele, me davam repulsa e eu não saberia dizer o porquê. — Não se preocupe comigo. —  Avisei ao me afastar. 

—Eu perdi o meu pai, o meu paizinho! —  Olhei para a outra mulher que alarmava seu choro no canto da sala, não lhe disse nada, mas em anos nunca vi uma foto deles, uma visita, nem mesmo uma ligação, a medida que ela chorava os outros também lhe acompanhará na sala só restava a mim, o tabelião, o advogado e o tal Vance — Tenho mesmo que participar dessa leitura? — questionei, sentindo que faço parte de uma palhaçada, isso não parecia ser uma leitura de testamento.

— Sim querida, sem a sua presença não será possível a leitura. — Lewis me respondeu ainda com um ar de tristeza no olhar. — Então vamos logo a isso, Lewis. — Assentiu ao me ouvir. — Infelizmente é uma situação complicada, mas o faremos quanto mais rápido possível puder.

— E ele quem é ele? — Uma voz masculina veio ao fundo. — Sim quem é ele? — Virei-me olhando em volta, até que os dedos apontaram para o homem que esteve na sua morte no hospital. — Um amigo de extrema confiança do senhor Varsalles.

— Porque amigo aqui? É apenas pra familia. — A mulher que tentou me acaricia falou, o homem sentado parecia não se incomodar. — Pelo menos ele esteve presente no seu leito de morte, não me lembro de ver algum outro no momento da sua partida. — Respondi tomando a vez, senti os seus olhos azuis em mim. — Esta garota!— Um dos homens parecidos com o meu avô tentou vim em minha direção.

Levantei-me a espera de algo dele, mas antes que a mão chegasse a meu rosto foi parada, ainda olhando em seus olhos o desafiei. A verdade dói não é? Vocês questionam a presença de um amigo que esteve presente no seu leito de morte, mas... não me recordo de um rosto no funeral do vovô! — Vi alguns inflarem os pulmões, até olhar para a mão do homem a minha frente, terminar num braço branco, peludo, forte com uma tatuagem terminando no ante braço.

— Não preciso que me defenda, senhor Vance! — Virei-me sem escutar a resposta, tudo que eu queria era que tudo chegasse ao fim, não me importava para onde ir depois de tudo, Lewis apenas me encarou.  Não chorei uma lágrima após sentar-me queria me livrar de todos eles, ali estava a explicação do meu avô nunca ter dito sobre eles. 

— Contando que todos os interessados estão presente, irei começar a leitura testamental. — Os burburinhos continuaram ao fundo, eu soube desde aquele momento que todos os Varsalles me odiavam, me odiariam por ser quem sou, por não negar a minha essência, o meu jeito que o agradava e lhe fizera ri muitas vezes.

— Bem como podem ver a presença do advogado senhor Lewis hoje aqui presente consta como testemunha, junto a todos os presentes, alguns afirmam ser filhos, noras, genros, netos... — Ergui a minha cabeça ajeitando uma mecha de cabelo para trás da orelha, procurando quem seria o neto, ou neta, mas sentado a outro lado vi apenas um rapaz, alto, loiro, magro num terno de bree negro, ele olhando sedendo para o tabelião que narrava sua fala minuciosamente, olhei para cada um a mesa, a procura de um detalhe, uma característca famíliar do meu rosto. 

— ... A presença de Senhorita Olivia Varsalles, a neta reconhecida pelo senhor Varsallesl, foi exigida nesta leitura, assim como o do senhor Louis Vance, para quem não sabe ou conhece, o senhor Louis Vance é amigo do senhor Varsalles a dez  anos, um homem de inteira confiança, como o mesmo relatou-me em uso de suas plenas funções mentais. 

Olhei para o Louis Vance sentado do outro lado da mesa, quieto, a blusa de branca com as mangas acima dos cotovelos, dobradas encolhidas, mostrando braços fortes, grossos, o peito aberto em dois botões ou mais revelando um pouco do peito, o rosto quadrado, o queixo levemente pontudo com um buraquinho, a barba bem feita, a boca desenhada um pouco carnuda, o nariz reto, comprido, pontudo, os olhos azuis intensos, olhando apenas para o tabelião, nada parecia lhe importar mais ali. 

Nenhuma encenação de amor, ou perda, olhava uma vez ou outra para o relogio, até que ao notar-me virei-me para o tabelião, não gostei dele, arrogante, prepotente, mas esteve presente pelo menos naquele momento de dor.  — Para a criada Ani, deixo a minha casa na praia, como forma de agradecimento pelo seu zelo, carinho, para comigo e com a minha neta em todos estes anos, Ani obrigado. —  Olhei em volta em busca de Ani, que não estava presente, mas Helary a chamava.

— Para o meu amigo, conselheiro Louis Vance deixo o meu carro, apenas comprei este carro para que quando estivesse longe não ligasse tantas vezes para você. Ele é barulhento, zombeteiro, mas não nunca deixa na mão como você, Vance. — Olhei para o homem sentado na cadeira a minha frente com um sorriso largo saudoso nos labios, girando um anel de ouro no dedo, seu sorriso era bonito.

— Bem por fim.. —  O barulho aumentou a mesa, uma discurssão começou entre o homem que tentou me agredir, com a mulher que veio me acariciar. —  Hum hum. —  O tabelião pigarreou alto duas vezes, finalmente os fazendo calar-se. — Para a minha herdeira, Olivia Varsalles deixo todos os meus bens, entre casas, automóveis, todo o dinheiro no banco, além da presidência da Varsalles tecelaria para que usufrua de tudo futuramente. 

Arqueei as sobrancelhas ao ouvir. — Não, isso foi forjado, quero uma... —  Um homem que não havia falado ainda disse alto, levando consigo o garoto que também é neto.

— Como futuramente? —  A mulher que me olhava perguntou curiosa. —  Continuei em meus devaneios, a fortuna não me interessava, apenas esta casa e tudo que ele me ensinou na vida. — Sim, futuramente senhora Varsalles, não me deixam terminar. 

O Tabelião indagou enquanto o homem a minha frente, já levantando colocou a cadeira no lugar, com um ar quem precisava fugir de tudo. — Não faço questão a herança total...

— Liv por favor. —  Olhei para Lewis solicito ao pedir, calei-me de imediato, o tabelião retomou a leitura, o homem já havia saido diante dos meus olhos. — Senhor Vance, senhor Vance. —  O vi parar perto da porta, nos olhou por fim a hora. 

O tabelião apenas suspirou profundo. — Deixo todos os meus bens citados para a minha neta, considerando-a a minha única herdeira e familiar, com a restrição de que aceite se casar com o meu amigo Louis Vance, que mantenham o casamento pelo menos até os vinte e cinco anos da minha neta, ele deve-lhe,,,

— Nem pensar! —  Rosnei junto a ele ao mesmo tempo, parou ao me olhar, fiz o mesmo com ele de pé na porta. —  Não me casarei com esta garota rica e mimada! — Avisou em alto e bom tom  —  Não caso. —  Disse junto a ele, sem dizer o que pensei dele, arrogante, prepontente, jeito de homem cafajeste que nem deve se lembrar o nome da sua vítima a noite passada.

— Senhores posso terminar? —  Suspirei fundo, o homem a meu lado parecia ter um colapso. —  Ele deve lhe ensinar todas as orientações que lhe passei, bases fundamentais, tudo que for necessario para que a minha neta em sete anos assuma a minha cadeira, caso ambos se neguem, a Liv retiro a sua matrícula na faculdade de ... —  Bufei pra a leitura. 

— ...juntamente como a sua inscrição nas aulas de pintura moderna, quanto ao Vance... —  Aproximou-se de mão aberta a frente de todos. —  Tudo bem, tudo bem Versallis filho da puta, eu prometi que cuidaria desta garota. —  Suspirou parecendo cansado. —  Eu prometi Versallis, prometi que faria qualquer coisa por você. 

Mordeu o lábio ao dizer. —  Eu não vou me casar com você! —  Ergueu os olhos ao me ouvir. — Tudo bem, você não se casa. —  Franziu o cenho ao desviar de mim ao tabelião. — Para quem irá a presidência da tecelaria caso... —  O tabelião suspirou fundo, sentou-se novamente a mesa. —  Caso ambos ainda assim se recuse, entrego a presidência da empresa ao meu filho Thomás Versallis, criatura ignóbil perante aos meus olhos, darei o prazo de apenas um mês para que acabe com todo o esforço de uma vida...

O olhei para o homem parado de cabeça erguida negando, fora o mesmo que tentou me bater a pouco. O seu olhar não havia remorssos, tristeza. — Ele estava louco em dizer algo do tipo a meu respeito. —  Afirmou. — As propriedades deixarei em segundo plano para a minha filha Sarah Verssalis... —  A mulher a meu lado sorriu mostrando satisfeita ao ouvir. 

O homem a minha frente não recuou os olhos de mim, que assenti, jamais deixaria o esforço de noite do meu avô por uma atitude infantil minha. — Tudo bem, quem ficará responsável pelas propriedades dele? Da empresa e... —  Ergueu a mão a minha frente. — Arrume a mala, temos que estar no Japão. 

E mais uma vez a confusão tornou-se maior outra vez, todos assinaram, escutei bruburinhos de recorrer, pedir análise do testamento.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo