Flávia
As semanas seguintes foram tomadas por um entusiasmo silencioso, aquele tipo de alegria que se espalha aos poucos, preenchendo cada canto da casa. Desde o dia em que contamos a Caio, ele não falava em outra coisa — queria saber o que levar, o que ia comer, se teria piscina, se teria castelo. Às vezes, acordava mais cedo e aparecia no nosso quarto segurando o caderno de desenhos, mostrando o “mapa da viagem” que ele mesmo fazia.
— Olha, mamãe, aqui é o avião — dizia, apontando com orgulho — e aqui é a gente chegando na Espanha.
Era impossível não sorrir.
Ricardo, como sempre, era o mais organizado. Criou uma planilha com tudo: datas, documentos, reservas, passaportes, até o horário em que deveríamos chegar no aeroporto. E, mesmo com muito trabalho, ele ainda arranjava tempo para me mandar mensagens no meio do dia dizendo: “Faltam 20 dias pra gente ir viajar. Mal posso esperar pra te ver andando por Barcelona.”
As noites eram nossas. Depois que Caio dormia, ficávamos sentados no s