“Nada mancha tanto quanto a tentativa de parecer limpo.” George Orwell
Cássio serpenteava pelas ruas como alguém que recita um mantra de poder para si mesmo. Helena, finalmente, estava outra vez sob seu controle, apagada no banco de trás do carro, como um troféu silencioso que já não podia protestar.
Ele acreditou, por um momento, que resolveria tudo, que a vida retornaria ao eixo que ele mesmo desenhara, perfeito como um quadro realista sem manchas. Mas seu corpo não parecia concordar. A cabeça dele pulsava com violência, fervendo contra o interior do crânio, quente como ressaca de uma noite que nunca foi bebida. Um latejar era bruto, confuso.
Talvez fosse o efeito prolongado do tempo em que a observara no pub. O contraste ainda ardia na mente dele: ela rindo entre amigos, feliz, leve, luminosa, enquanto aquele idiota convencido ocupava espaço demais ao lado dela. A alegria dela parecia insulto pessoal. E justamente por isso, ele já imaginava o futuro como quem rascunha planos num g