Helena continuava diante da tela, o pincel firme, o olhar concentrado.
O som da porta da frente se abrindo e fechando várias vezes já era um eco distante; até o vento parecia conter a respiração.
Mabe estava deitada ao lado, o focinho apoiado sobre as patas, observando-a em silêncio — como se também compreendesse o que nascia ali.
A primeira forma surgiu devagar, como se Helena a arrancasse de dentro de si.
Tons azulados dominavam o fundo — não o azul sereno do céu, mas o frio e profundo da água.
No centro, começava a se formar o contorno de uma mulher.
Indefinida.
O rosto ainda oculto, como se emergisse de um outro mundo.
Helena mergulhou o pincel em um tom prateado e o deslizou sobre a tela, fazendo a luz nascer em pinceladas marcadas propositalmente.
A figura ascendia — depois de muito tempo submersa, rompia a superfície e respirava.
Cada pincelada era um fôlego novo.
Um recomeço.
A tradução exata da mulher que, por tanto tempo, tentara não se afogar dentro de um amor que a