“O recomeço não vem em cores novas, mas na coragem de voltar a misturá-las.”
Clarice Lispector
O silêncio da manhã tinha um som próprio — o sussurro leve das folhas e o eco distante de um mundo que despertava devagar.
Deitada de lado na cama, Helena observava o balançar dos galhos do grande angico-branco do pátio dos fundos. As flores alvas lembravam dentes-de-leão fartos, e suas sombras desenhavam formas móveis nas paredes do quarto.
O ar trazia o perfume doce das flores e, de longe, o cheiro familiar de café fresco se espalhava.
Finalmente, havia chegado o dia.
Um misto de libertação e ansiedade pulsava em seu peito.
Ainda restavam boas horas até o evento — horas que ela precisava preencher, antes que a mente voltasse a repassar tudo o que estava por vir.
Levantou-se, vestiu uma legging preta, um top discreto e um tênis confortável. Prendeu o cabelo em um rabo alto e respirou fundo diante do espelho. Havia muito tempo que não corria, embora sempre tivesse amado a sensação do corpo e