Quando a lua cheia enfim rasga o céu da Terra e a luz branca escorre como veneno sobre o mundo dos vivos, os quarenta e quatro mil são liberados. A superfície vibra com a presença deles — não como animais, mas como prova prática do laboratório demoníaco, uma mistura de pó, carne, memória e culpa.
O diabo fica imóvel na sacada de rochas negras do inferno, observando o deslocamento das criaturas.
Sabe que nem todos voltarão.
E os que voltarem… nunca voltam da mesma forma.
O tempo no inferno já está acelerado — e na Terra, lento como carne que apodrece. Enquanto as horas humanas avançam, no inferno passam semanas de expectativa.
O primeiro a retornar vem mancando, mas sorrindo com os dentes ainda sujos da última vítima.
Traz a língua pendurada para fora, como se saboreasse memórias.
— E então? — pergunta o diabo, sem erguer o rosto.
O lobisomem cai de joelhos e ri:
— O cheiro deles mudou. A carne tem medo antes mesmo de ser cortada. O terror temperou a gordura, ficou mais macia…
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