O GOSTO DO MEXICANO...
A mata mexicana estava pesada naquela noite — pesada com uma umidade espessa e o aroma metálico do sangue recém-derramado. A lua filtrava sua luz por entre copas que pareciam presas de um animal gigante, e o vento corria como se carregasse nomes mortos.
Martin, o caçador de águias, caminhava com passos presunçosos.
Acabara de arrancar as garras de mais uma ave, seu brinquedo favorito.
Segurava-as entre os dedos como quem segura o poder.
Como quem pensa ser maior que todos os monstros da terra.
Falava sozinho, mas alto, como se a floresta fosse obrigada a ouvir:
— Lobisomem... eu mato ele. Com facilidade. Qualquer fera cai para mim.
A mata respondeu com silêncio.
Então, algo se moveu.
O primeiro estalo veio baixo, sutil, como um aviso.
O segundo, mais próximo.
O terceiro, atrás dele.
Quando virou, viu apenas sombras empilhadas —
como se a noite tivesse decidido criar corpo.
O lobisomem completo, formado pela união da família-lobisomem, erguia-se diante dele como uma muralha viva.