Ele...
Se tem algo pior do que estar atrasado para um voo de negócios, é estar atrasado porque o maldito carro não liga na garagem.
Olhei para o painel morto, respirei fundo e fechei os olhos por um segundo.
Ótimo.
Perfeito.
Exatamente o tipo de caos que eu precisava para começar o dia.
Peguei o telefone e disquei.
— Mark, que porra está acontecendo com meu carro?
— A bateria morreu, senhor Klaus.
— Fantástico. E onde está o carro reserva?
Silêncio.
Já conhecia aquele silêncio.
Era o tipo que gritava “fiz merda” sem usar uma palavra.
— Mark?
— Bom... senhor... eu...
Revirei os olhos.
— Esqueceu de preparar um carro extra, não é?
— Não exatamente esqueci...
— Mark.
— Ok, eu esqueci.
Fechei os olhos.
Respirei fundo.
Uma... duas vezes.
A vontade de demitir esse imbecil ainda pelo telefone era quase terapêutica.
— Você só ainda tem esse emprego porque é útil para outras coisas. Mas saiba que sua função como motorista é um fiasco absoluto.
— Sim, senhor.
— Chame um carro de aluguel. Se ele não chegar em quinze minutos, pode começar a arrumar suas coisas.
Ele não retrucou.
Sabia com quem estava lidando.
Fiquei ali, batucando os dedos contra o volante, tentando conter a irritação que subia como veneno pela espinha.
A dependência alheia é uma praga.
Mas depender de alguém e a pessoa falhar… isso me tira do sério como poucas coisas.
Mark finalmente chegou com o carro alugado e seguimos direto para o aeroporto.
Claro que o inferno ainda não tinha acabado.
O telefone tocou.
Se fosse mais uma falha, alguém ia sangrar.
Atendi sem olhar o identificador.
— Fala.
— Senhor Klaus… é o Jonathan, do financeiro.
Revirei os olhos.
— Se for outra desculpa, Jonathan, desligo na sua cara.
Do outro lado, o silêncio tenso veio seguido de um pigarro nervoso.
— É sobre a aquisição da Meridien… o grupo rival aumentou a oferta. Parece que o CEO está inclinado a aceitar.
Meu sangue ferveu.
— Então ele vai aceitar uma proposta pior só porque no papel o valor é maior?
— Na verdade… eles ofereceram vantagens fiscais, benefícios indiretos...
— Corta essa enrolação. Quanto tempo temos para cobrir?
— Eles exigem resposta até amanhã de manhã.
Fechei os olhos.
Minha vontade era arremessar o telefone pela janela.
— Escuta bem, Jonathan. — Minha voz saiu baixa, fria como lâmina.
— Se essa negociação fracassar por culpa do seu departamento, vai chover demissão. Não vai sobrar um. Nem estagiário.
— Entendido, senhor.
Desliguei e joguei o telefone no banco, com força suficiente para ele escorregar até o chão.
Esfreguei as têmporas.
Queria socar alguma coisa.
Perfeito.
Absolutamente perfeito.
Como se essa viagem forçada já não fosse um martírio, agora tenho que apagar incêndio causado por idiotas que usam ternos caros mas não sabem usar o cérebro.
E o mais revoltante?
A culpa é minha.
Tolerei demais.
Fui flexível demais.
Gentil demais — e agora estou cercado por incompetentes mimados que acham que "quase deu certo" é aceitável.
Não é.
Nunca foi.
Essa mentalidade do "bom o bastante" virou praga.
E agora, sou eu quem tem que arrancar as raízes podres.
Na próxima sala de reunião, não vai ter café.
Vai ter demissão.
Vai ter nome riscado e ego triturado.
Chega de fingir que burrice é algo contornável.
Não é.
E se eu tiver que cortar trinta cabeças para manter essa empresa de pé, corto sorrindo.
O carro entrou no aeroporto.
Pressenti que o dia ainda podia piorar.
Quando desci, minha equipe já me aguardava ao lado do jatinho.
Finalmente, alguma pontualidade.
Os pilotos e a comissária estavam a postos, alinhados como soldados em posição.
Mas foi ali, ao lado da escada da aeronave, que vi uma mulher.
De costas.
Elegante.
Parada como se me esperasse.
E então... como se sentisse minha presença, ela se virou.
O impacto foi imediato.
Hayla Baker.
Não precisava de crachá.
Eu nunca esqueço um rosto… principalmente quando ele me dá vontade de demitir alguém ou jogar meu carro em uma parede.
— Merda… — murmurei entre os dentes — Isso só pode ser brincadeira.