Yágilla desconversou.
— Tudo bem, me desculpe. Posso te dar um abraço, querida? Sem jeito, Kassandra respondeu que sim, claro. Yágilla a abraçou, e Kassandra se arrepiou toda, sentindo algo diferente. Yágilla comentou:
— Olha, estou toda arrepiada, que loucura. Te conheço de outras vidas.
Kassandra disse que acreditava, e que também sentiu algo especial ao conhece-la. Elas se despediram, e Yágilla foi embora. Kassandra se arrependeu de não ter falado a verdade, mas o medo de Andy era maior. Ele chegou tarde, cheirando a bebida. Sentou-se no sofá, onde Kassandra estava deitada, colocou as pernas dela sobre as dele e disse que estava mal. Ela ficou quieta, continuou assistindo. Ele começou a acariciá-la e pediu perdão por tudo, dizendo que estava com saudades.Kassandra sentou-se no sofá e disse:
— Você está bêbado. Se quiser conversar comigo, amanhã a gente senta e conversa!
Ele tentou beijá-la e abraçá-la. Ao ser rejeitado, não reagiu mal como sempre, por incrível que pareça; não brigou nem xingou. Kassandra foi deitar, e ele não falou nada. Kassandra estava muito triste, não estava se cuidando, comia mal, dormia pouco e se sentia uma prisioneira. Um dia, acordou revoltada, com dores fortes na barriga. Achou que fosse gastrite ou pedras nos rins. Cansada de tudo, quis pensar mais em si e resolveu chutar o balde.
Arrumou suas coisas e decidiu ir para a casa de uma amiga sem avisar, deixando para contar tudo pessoalmente.Quando foi consultar o saldo no aplicativo do banco, sua conta estava zerada. Ela tinha quase dez mil guardados e não estava usando para nada. Kassandra ficou muito brava e começou a mandar umas boas verdades para Andy por mensagens e áudios. Foi ao trabalho dele. Quando ela chegou, ele estava em reunião. Kassandra fez a secretária interromper, dizendo que era muito importante, caso de vida ou morte. Ele saiu da sala cheio de ódio, arrastando-a para fora discretamente. Perguntou se ela estava louca, perdendo o juízo.
Chegaram nas escadas. Kassandra disse que queria o dinheiro dela e que exporia tudo o que vinha acontecendo para todos. Ele a segurou pelos braços e ameaçou jogá-la escada abaixo se ela não calasse a boca. Falou que ali não tinha câmeras e ninguém daria ouvidos a ela, que a versão dele seria perfeita e isso, se ela acordasse após rolar as escadas.Kassandra começou a chorar e implorar baixinho para ele não fazer nada com ela. Naquela hora, ela viu que estava correndo muito perigo. Ele a soltou e disse:
— Vai embora, Kassandra. Se você voltar aqui, da próxima eu juro que te jogo!
Ele não tinha mais respeito algum por ela, não se importava. Kassandra foi para casa muito mal, tomou remédio para dor e pegou no sono. Acordou com Andy gritando para ela sair de casa. Ele puxou a coberta, jogou no chão e disse:
— Você vai ter que sair, vou receber visitas e não te quero aqui.Kassandra respondeu sonolenta:
— Não vou sair do quarto, não estou bem, estou com uma cólica estranha.
Andy respondeu:
— Não quero ver você aqui, se vira, você foi no meu trabalho me ameaçar e achou que eu iria ficar de boa com você. Anda logo!
Ele saiu batendo a porta, dizendo que ela tinha meia hora para sair. Kassandra levantou tomou banho, colocou agasalho, tênis. Pouco antes de sair, acabou passando mal e vomitando tudo o que comeu. A vontade dela era de chorar, não estava aguentando mais, e a dor só piorava desde que levantara.Ela saiu sem falar nada, foi a um mercado no bairro mesmo, levando apenas o celular. Chegou lá, pegou uma água e ficou olhando a rua à toa. Passou mais de uma hora e ela ainda estava com dor, suando frio. Mandou uma mensagem para Andy perguntando que horas poderia voltar, dizendo que podia entrar pelo elevador de serviço, que só queria deitar porque estava com muita cólica.
Ele respondeu:
— Se está com dor, vai no médico.
Ela deu um tempo, depois ligou duas vezes enquanto voltava para casa. Foi pegar seus documentos para ir ao médico. Ligou pela terceira vez e ele rejeitou a chamada. Kassandra começou a chorar assim que entrou no prédio. Subiu pelo elevador de serviço, entrou na lavanderia e ouviu vozes e risadas. Foi para seu quarto, que ficava na lavanderia, pegou a bolsa com os documentos, mas precisava de dinheiro para ir até o hospital.
Estava desesperada, agoniada de tanta dor, cada passo era uma pontada mais forte.Abriu a porta da lavanderia que dava para a cozinha. Não estava mais pensando em nada além de pedir dinheiro a Andy e ir logo para o hospital. Quando abriu a porta, levou um susto: o futuro sócio de Andy, Valentino, estava sentado a mesa, com uma mulher no colo abraçada, trocando carinhos, beijos no pescoço. Ao abrir a porta, os dois se assustaram.
— Desculpa, eu não sabia que tinha alguém aqui — Kassandra disse desconcertada.
A moça perguntou a Valentino:
— Quem é ela?Ele respondeu sério:
— A empregada.
Ele afastou a moça de perto dele, tirando do colo. Kassandra foi entrando, passou pela cozinha e foi até a sala. Lá, Andy estava com outra beijando-se e amassando-se, e não a viram. Kassandra recuou, já chorando, tanto pela dor física quanto pela raiva. Cruzou com Valentino e a moça no corredor e saiu por onde entrou, mal conseguindo ficar de pé.Ligou para uma amiga e disse que estava passando mal sozinha, perguntou se ela podia levá-la ao hospital. Foi para a portaria e abaixou-se, meio sentada ao lado de fora. Ela não sabia o que era, mas estava com muito medo. Sentiu uma mão em seu ombro, nem viu ninguém se aproximar, estava de cabeça baixa. Assustou-se, levantou a cabeça: era Valentino, o futuro sócio de Andy.
— Você precisa de ajuda? Tudo bem? — ele perguntou.
Kassandra balançou a cabeça que não, chorando. Ele abaixou na frente dela e falou:
— Você quer que eu chame o Andy? Ou alguém?Ela levantou, quase sem conseguir, por causa da dor, e respondeu:
— Não precisa. Estou esperando uma amiga, ela vai me levar no hospital.
Ele perguntou se ela estava com dor e onde. Kassandra respondeu que uma cólica insuportável, e ele imediatamente disse que a levaria, que podia ser algo grave, e que ela estava muito pálida. Ela balançou a cabeça que sim. Viu que ele estava saindo do estacionamento e largou o carro no meio da calçada para falar com ela. Kassandra foi andando devagar até o carro. Ele abriu a porta para ela e fechou. Ela ficou quieta e mandou uma mensagem para a amiga, avisando que já estava a caminho. Ele disse:
— Kassandra, acho que você não deveria estar lá... Não é?
Ela respondeu:
— Não precisa se preocupar, não vou falar nada à sua esposa. Também provavelmente nunca mais vou ver você ou ela.
Ele perguntou por que ela tinha tanta certeza. Kassandra disse que tinha pedido a conta. Ele sorriu e respondeu irônico:
— Você não trabalha lá, você mora e era muito mais do que uma empregada!
— Tanto faz, não importa! — Kassandra falou.
Ele ficou quieto. Chegaram ao hospital. Kassandra estava pior. Ele a ajudou a entrar. Ela parou na recepção e disse:
— Obrigada. Pela carona!
Ele perguntou se ela não ia chamar ninguém, se ficaria bem sozinha. Kassandra disse que sim e agradeceu novamente a carona. Ele lhe desejou melhoras e se despediu.