Ele ficou emburrado. Pelo visto era o tipinho seminarcisista que gostava de se sentir o maioral perto das mulheres, do meu lado esse tipo de pessoa não se cria, simples assim.
— Além do dinheiro, tem mais algo que esteja interessada?
“Em mil e uma noites de sexo violento contigo, talvez?” pensei, mas não falei, na verdade disse:
— Na adrenalina.
Lucas pareceu satisfeito com a resposta.
— Você sabe que eu posso te dar muito mais que dinheiro e adrenalina se você me pedir, não é?
Dei uma risadinha baixa.
— Você está me prometendo o mundo desde o primeiro dia. Me diz, príncipe, o que você tem para me oferecer? — Ele riu. Pelo visto gostava de ser desafiado.
— Proteção, viagens, carros, motos, uma casa na Itália e outra no Brasil, conforto, aventuras. Tudo que você pedir.
— Você sabe que tudo isso, o dinheiro e a proposta que seu pai vai me pagar me dá, não é? Eu quero saber o que você tem a me oferecer além disso. — Nessa hora ele travou. Apertou o volante com força e deu uma freada brusca no carro. A sorte é que estávamos num beco e eu estava de cinto.
— O que você quer além disso, Serpente?
— Você está dirigindo para minha casa, certo? — Ele virou o corpo na minha direção.
— Sim.
— Então eu quero que chegando lá você me foda. Aí eu vejo se eu fico com você por fora da proposta ou não. — Ele deu aquele sorrisinho de novo e posso jurar que naquele momento eu senti coisas dentro de mim que eu nunca tinha sentido antes.
— Eu não vou te foder na sua casa.
Me senti ofendida nesse momento.
— Está fazendo desfeita da minha casa?
— Não, só acho que nossa primeira vez merece mais. — Ah que fofo, além de tudo ele é romântico.
— Ah é, você vai me levar para onde? — Ele riu.
— Você vai ver, primeiro vamos resolver esse problema. Tenho um compromisso com minha família.
Capítulo três: o acordo
Terminei de ler o documento, Lucas estava atrás de mim, vigiando como se eu fosse fugir a qualquer momento. Mas como eu iria fugir da minha própria casa se eu moro sozinha?
Enfim.
O caso era realmente complicado, o réu estava sendo acusado do estupro de uma filha de político. O acusado era sobrinho do Stefano, que havia vindo morar no Brasil, e poderia ser deportado.
— Ele realmente fez isso? Se ele fez, eu não vou defender.
Lucas começou a negar com a cabeça e com a mão.
— Meu primo jamais faria isso, é contra as regras da nossa família. — Eu sabia que algumas famílias da máfia, tal qual como algumas facções criminosas no Brasil, não toleravam esse tipo de crime.
— Como você sabe que ele não fez? — Fui incisiva, olhei bem firme nos olhos dele. A expressão dele era quase de desespero, era como se ele precisasse levar um “sim” para o pai.
— Vitor estava com ele na noite que está no inquérito. Ele tem álibi, inclusive fotos do dia. Mas não podemos usar essas fotos, as armas aparecem e tem prostitutas envolvidas.
— As prostitutas não podem testemunhar? — Perguntei, era uma pergunta quase inocente da minha parte, confesso.
— Não, elas foram pagas pelo pai da moça.
— Putz, ok a gente se vira, acho que tenho uma ideia de como vou resolver isso. — Lucas deu um sorriso aberto, comecei então a arrumar os papéis e quando me virei de volta o sorriso de Lucas tinha desaparecido.— O que houve?
— Você tem certeza que vai querer pegar esse caso? Você vai mexer com gente muito poderosa.
Dei de ombros.
— Tanto faz. Não tenho amor a vida mesmo. — Dei uma risadinha no final, mas ele ficou ainda mais sério.
— Não diga isso. Estou aqui para te proteger.
Sorri de leve, a vida toda fui negligenciada. Meus ex namorados eram uns frouxos, faziam o mínimo e ficavam por isso mesmo. Me recordo de quando meus pais morreram, eu estava em um relacionamento, o meu ex foi super insensível comigo.
Ele disse que eu era forte e que já tinha lidado com coisa pior.
E realmente tinha.
Mas isso não vinha ao caso naquele momento.
— Você nunca teve um homem como eu, não é? — Lucas disse, parecendo que lia minha mente. Aquilo me chocou um pouco, talvez ele tinha visto no meu olhar.
— Não.
— Eu te disse que daria o mundo. — Ele deu um sorrisinho presunçoso, revirei os olhos e joguei a pasta no peito dele.
— Vamos? Precisamos dar o sim pro seu pai. — Ele riu, mas não falou nada, apenas pegou o celular e foi para longe. Não sei exatamente o que ele queria se afastando de mim para falar a sós com o pai.
Talvez porque ele sabia que falar italiano não era discreto o suficiente na minha presença.
Odiava que mantivessem segredos de mim, principalmente quando eu estava envolvida.
Mas pensando bem se eu soubesse demais talvez eu pudesse acabar morrendo, e eu não poderia morrer sem pelo menos sentir o cheirinho do dinheiro.
Me joguei no meu próprio sofá, aguardando a dama voltar da sua ligação super secreta.
Pouco tempo depois ele retornou, ainda com o telefone na orelha.
— Tem certeza que quer entrar nessa? — Acenei positivamente com a cabeça, ele confirmou com o pai em italiano o pai falou outra coisa do outro lado da linha que foi inaudível para mim.
— Meu pai quer saber se você tem carteira de bitcoin. — “Como é que é?”, foi meu primeiro pensamento. Depois eu raciocinei um pouco, só um pouco, de que um envio de cem mil no pix seria muito suspeito.
— Não. — Foi tudo o que eu consegui dizer, enquanto abria o computador e tentava procurar a porcaria de uma carteira de bitcoin para criar.
— Deixa isso comigo.