Um estava com uma camisa social roxa e outro com camisa social preta..
— Prazer, Princesa. — Disse o que estava na frente. — Meu nome é Ricardo.
— Digo o mesmo, sou o Henrique. — O que estava do meu lado estendeu a mão para me cumprimentar.
Eles eram ruivos, foi aí que eu comecei a perceber que cada um dos irmãos tinham cores de cabelo diferente. Comecei a me perguntar se eram irmãos de fato ou se eram filhos de mães diferentes.
— Vamos te levar pro escritório do nosso pai, seja simpática. — O Ricardo, que foi quem disse aquilo, era mais seco, o Henrique, o que me estendeu a mão, era mais simpático.
— Certo. — Meu certo saiu um pouco arrastado. Como se eu ainda estivesse processando tudo o que eles estavam dizendo, na minha cabeça eu gostava de pensar quer aquilo não passava de uma aventura e que em breve eu estaria bem em casa e tudo mais.
Na verdade aquilo era um pouco da minha tensão de morte freudiana, o desejo de autodestruição me corroía praticamente desde que eu fiquei sozinha nesse mundo. Quando um câncer de mama levou minha mãe e consequentemente meu pai morreu em seguida tomado pela depressão que o definhou, eu não tinha mais ninguém.
Talvez meus amigos, mas amigos não são como família, por mais que se assemelhem com uma.
Então me meter numa enrascada dessas simplesmente por dinheiro me fazia pensar que eu ou ninguém perderia com isso afinal, porque se eu morresse numa dessas pelo menos estaria mais próxima dos meus pais.
O caminho durou em torno de doze minutos, até que não demorou muito. Saí do carro com aqueles dois homens me cercando enquanto entrávamos no prédio e subíamos até o tal andar.
Parecia que eu ia explodir de tanta adrenalina, era simplesmente surreal tudo o que eu estava sentindo. Ao chegar no andar percebi que só havia uma porta, entramos.
Era um salão enorme com um homem mais velho, o mesmo da pintura a óleo sentado num canto, a parede era toda de vidro e dava para ver a cidade toda dali.
— Benvenuta, signorina. — O homem me saudou, levantando da mesa e abrindo os braços. Olhei ao redor, os quatro filhos, dois de cada lado da porta, com as mãos unidas na frente do corpo.
— Parece que o Príncipe encontrou uma advogada para resolver nossos problemas, certo? — O velho disse, dessa vez em português, vindo em minha direção.
— Por que o senhor chama ele de príncipe? — Perguntei por curiosidade, já que ele era o único que vi sendo chamado de algo além do nome. O homem riu, parou na minha frente e começou a apontar para os filhos.
— Nero. Porque ele é o mais velho, incendiário, o perigoso, aqueles que todos deveriam temer. — Ele disse se referindo ao Vitor — Rômulo e Remo. Meus meninos alimentados por uma loba, os pioneiros, aqueles que fazem acontecer — Se referindo aos gêmeos. — Príncipe. Porque é o meu caçula, meu menino de ouro e futuro herdeiro e estrategista do meu império, meu nome é Stefano, mas pode me chamar de César, como o imperador.
— São codinomes então? — Ele saiu da minha frente, indo em direção a janela, com as mãos para trás do corpo.
— Sim, e agora a senhorita também ganhou um: Serpente. — Esse velho está me chamando de cobra? De falsa?
Virei a cabeça para o lado curiosa com aquilo.
— Mas os meninos estavam me chamando de “princesa”. — Olha, eu sei que princesa está diretamente ligado ao Lucas, mas era melhor que ser chamada de cobra.
— Eu sei que meu filho te escolheu para ser a dama dele, mas por aqui tratamos negócios e entre o nosso negócio você é a Serpente. Você é sagaz, direta ao ponto e rasteja atrás do melhor para nós.
— Entendi.
Pior que eu era isso tudo mesmo.
— Então a senhorita aceita fazer parte como membra convidada da família Falcone? — César disse virando de costas para a janela e me olhando bem no olho, percebi que os olhos dele eram iguais aos dos de Lucas.
— O que eu preciso fazer e quanto vou receber por isso?
Sr Falcone riu.
— Não disse que ela era direto ao ponto? — E continuou rindo, os meninos sorriram, mas em específico o Lucas sorriu de lado e me encarou de canto de olho, enquanto todos encaravam o pai. Nesse momento eu percebi como ele era lindo. Mas antes que eu pudesse pensar qualquer coisa sobre isso, fui puxada de volta por César. — De entrada eu posso te fazer uma transferência bancária de cem mil reais, um honorário bobo adiantado. Mas conforme você for trabalhando para nós, mais podemos te dar, eu diria que em torno de cinquenta mil por semana, está bom para você?
Eu apenas acenei positivamente com a cabeça.
— Ótimo, tudo o que você precisa agora é estudar esse caso aqui. — Ele foi até a mesa e me entregou uma pasta. — O Príncipe estará cuidando de você e dos detalhes do seu trabalho. Quero que você abandone todos os outros casos que está envolvida e trabalhará apenas para nós.
— Certo.
Eu não pensava em nada, apenas no dinheiro.
Um dinheiro que ia fazer minha vida.
E vinha acompanhado de adrenalina.
Tudo o que eu queria.
— Ótimo. Príncipe, leve-a para casa. Acompanhe-a enquanto ela lê esse documento e traga-o de volta para mim.
— Certo, pai.
Nesse momento Lucas saiu da posição que estava e foi em direção a porta, me pegando pelo ombro e me guiando em direção a saída.
Durante todo percurso ficamos em silêncio, mas eu sentia minha mão suar contra a pasta, tentei segurar com mais firmeza para ela não escorregar.
Ao invés de descermos no térreo descemos no estacionamento. Lá ele foi andando até uma Mercedes, onde abriu a porta da frente para mim e entrou do lado do motorista.
Ficamos em silêncio até a descida da rampa quando ele tornou a falar:
— Ou você é muito inocente ou é mais do que louca.
— Sou pior do que louca.
Ele me encarou com os olhos arregalados enquanto eu simplesmente dava de ombros e nem olhava naqueles malditos olhos verdes.
— Não duvido, mas você não está fazendo isso por minha causa, não é?
Dei uma risada sonora.
— Mal te conheço, se toca.
Ele ficou emburrado. Pelo visto era o tipinho seminarcisista que gostava de se sentir o maioral perto das mulheres, do meu lado esse tipo de pessoa não se cria, simples assim.
— Além do dinheiro, tem mais algo que esteja interessada?
“Em mil e uma noites de sexo violento contigo, talvez?” pensei, mas não falei, na verdade disse:
— Na adrenalina.
Lucas pareceu satisfeito com a resposta.