O cigano caminhou até o carro com os passos lentos, não parecia ameaçador, ainda assim, Ive sentiu a barriga gelar.
Ela não se mexeu. Os braços ainda em torno do encosto de couro. Queria o cheiro de Antônio.
Ficou pensando em como a vida parecia injusta.
O rosto do homem era duro, queimado de sol. O cabelo preto e comprido, preso num rabo baixo. Olhos astutos.
— Não te assustei, moça bonita? O que faz parada aqui?
Ela se afastou do encosto.
— Nada. Eu... estou de saída, vim trazer um amigo.
Ele não se afastou.
Ao contrário segurou o braço dela, logo acima do cotovelo. Forte. Um aperto que a impedia de se afastar.
— Calma. Vai embora por quê? Tem medo da nossa gente? Tem preconceito?
Ela não gostou da acusação.
Antônio era cigano e era a pessoa mais gentil que ela conhecia.
Tinha essa certeza, mesmo que também soubesse que tinham acabado de se conhecer.
— Não. Eu não tenho.
O sorriso expôs dentes fortes, alguns de ouro, outros com marcas escuras, mas todos desproporcionalmente grandes.