Mais tarde, já perto do meio-dia, resolvi sair para o pátio enquanto a equipe trabalhava no descarregamento. O sol estava forte, e o vento trazia um leve cheiro de terra úmida, um contraste bem-vindo em comparação a esse calor. Acreditava que iria chover em breve. Eu me permiti alguns minutos de descanso, observando o movimento ao meu redor, quando ouvi passos atrás de mim. Meu corpo ficou tenso por um instante, mas relaxei ao me virar e ver Henrique se aproximando. Ele estava com sua camisa social ligeiramente desabotoada, um sorriso de canto que parecia me desmontar em segundos. — Resolvi passar para ver como você está. — Ele disse, segurando uma pasta em uma das mãos. — Espero não estar atrapalhando. — Nunca. — Respondi rápido demais, sentindo minhas bochechas corarem. — Quer dizer, estou no meio da entrega de materiais, mas nada que eu não possa lidar depois. Henrique sorriu, claramente percebendo minha tentativa de manter a compostura. — Você parece… preocupada. Acontec
Acordei com uma dor de cabeça terrível no dia seguinte. Queria ter passado mais tempo com Henrique, mas sabia que precisaria estar no casarão logo cedo. Por isso, não fui para BH com ele ontem à noite. Havia decidido adiantar a obra e, além disso, pegar o projeto do Henrique. Ele me ajudou com o divórcio; ajudar com a reforma parecia o mínimo que eu poderia fazer em troca. Sem contar que isso me daria a chance de passar mais um tempo com ele. Enquanto a obra estivesse em andamento, precisaria ficar em BH. Não dava para ir e voltar todos os dias. — Até queria te ajudar com alguma coisa, mas hoje não estou me sentindo bem — Ana disse, caminhando ao meu lado no casarão. — Não se preocupe, Ana. Entre e descanse um pouco — respondi, observando um carro se aproximar pela estrada. Ana entrou no casarão enquanto os trabalhadores continuavam avançando bem na obra. Do jeito que as coisas estavam indo, acreditava que tudo ficaria pronto até o fim de semana. O carro parou em frente à font
- Eles são muito bons com você — disse minha mãe enquanto remexia na comida com o garfo, sua voz baixa, quase hesitante. Estávamos sentadas em um pequeno restaurante no povoado, em uma mesa perto da janela, com vista para o movimento tranquilo da praça. O cheiro de comida fresca enchia o ambiente, mas o prato à nossa frente, peixe grelhado com salada parecia ser o menor dos nossos problemas. De pesado, já bastava o clima entre nós. — Eles sempre foram — respondi, tentando manter um tom neutro. Não queria provocar uma discussão, embora a vontade de apontar o óbvio quase escapasse dos meus lábios. Ela sabia que tinha me deixado, sabia que não estive sozinha porque outros assumiram o espaço que deveria ser dela. Não precisava repetir isso. Minha mãe levantou os olhos, buscando os meus, mas eu mantive o olhar firme na mesa. O silêncio que se seguiu foi denso, cheio de palavras não ditas. — Queria que você fosse lá em casa ver seu pai — disse ela, quebrando a tensão, sua voz mais
— Você não tocou em seu prato, Cíntia. — Henrique disse, sua voz suave, enquanto sua mão pousava delicadamente sobre a minha. Olhei para o prato à minha frente, mas ele parecia distante, como se não tivesse importância alguma. Minha mente estava em outro lugar, presa na confusão que minha mãe havia causado mais cedo. Ela mencionara que meu pai queria me ver. Por que ele simplesmente não veio? Não fui eu quem o abandonou, foi ele quem escolheu não fazer parte de minha vida. — Desculpe, Henrique, minha mente está a milhão. — Respondi, tentando focar nele, mas minhas palavras saíram mais como um suspiro do que uma explicação. Ele apertou minha mão de leve, o toque gentil e reconfortante. — O que eu faço pra te trazer pra mim? — perguntou, os olhos fixos nos meus, enquanto sua voz carregava uma mistura de preocupação e ternura. Pego a taça de vinho e tomo um gole, tentando acalmar o turbilhão dentro de mim. O ambiente ao nosso redor era acolhedor, luz baixa, uma música tranquila
- Nosso casamento também terá altos e baixos, meu amor. Mas o que sentimos um pelo outro é inexplicavel. Não vamos deixar com que a rotina esfrie o que sentimos um pelo outro. Vamos superar cada obstaculo. Essa foi uma das frases dos votos do meu marido no nosso casamento. Eu acreditei piamente em cada palavra dos seus votos. Eu sabia que enfrentariamos dificuldades, mas nunca imaginei que seria no nosso terceiro ano de casamento. Há um mês atrás, o Fernando me comunicou que nos mudariamos temporariamente de São Paulo, para Minas Gerais. Inicialmente, eu não achei a ideia tão ruim, apesar de ter me pego de surpresa, achei que a mudança de ares não pudesse ser de todo mal, hoje sinto como se eu estivesse prestes a assinar os papéis do nosso divórcio.É certo que todo casamento tem seus altos e baixos, com o meu não seria diferente. Eu só tenho 25 anos e conheci o Fernando quando tinha 20, há cinco anos atrás, no aniversário de um amigo que temos em comum. Ele chegou em mim naquela n
Morar em uma fazenda em Minas Gerais, com certeza seria uma experiência única na minha vida, não que não estivesse habituada a uma vida pacata, afinal, morei até os meus 19 anos no interior de São Paulo.- Carol, amor. Você está acordando muito tarde, não acha que poderia me acompanhar nos compromissos da manhã na transportadora? - Meu marido pergunta quando me junto a ele no escritório da fazenda. - Fê, você sabe que tenho ficado em reunião até tarde da noite com os funcionários da loja. Não é fácil administrar uma empresa estando longe, sabia? - Pergunto dando-lhe um beijo carinhoso nele. Eu havia notado que o Fernando andava muito irritado, desde que nos mudamos para cá. Eram muitos problemas na administração da fazenda e ele estava tentando colocar as coisas no lugar. - Eu sei, meu amor, me desculpe. Não quero te encher com os problemas da fazenda. - Ele diz mal olhando para mim. Saio do escritório e acho que o Fernando nem nota, eu sabia que ele estava cheio de trabalho. Seu
No dia seguinte, eu estava de pé bem cedo. Estava disposta passar mais um tempo com o meu marido e acompanhar sua rotina de trabalho na fazenda. Eu havia delegado algumas funções pra as funcionarias da minha loja em São Paulo e me ausentaria um pouco enquanto estivesse aqui, mas, ainda assim gostaria de estar a par de tudo que estivesse acontecendo por lá.- Bom dia, meu amor. - Falo quando o Fernando chega a mesa para tomar café. Ele parece realmente surpreso ao me ver acordada tão cedo, até eu estoou surpresa com esse feito.- Não te encontrei na cama quando acordei, pensei que estivesse trabalhando em algum projeto. - Ele diz se sentando ao meu lado e me dando um beijo carinhoso nos lábios. - Não, vou descansar um pouco do atêlie, por alguns dias. Quero te acompanhar hoje, vê algum problema? - Pergunto e ele sorri. - Claro que não, linda. Fico feliz que vá me acompanhar hoje. - Ele diz e sorrio. Quando o Fernando confirmou que já tinha se relacionado com a Júlia, mil coisas se
Com o passar dos dias eu já estava cada dia mais habituada com as coisas da transportadora, as coisas estavam melhorando e os negócios estavam indo de vento em polpa. O irmão do Fernando tinha vindo para cá passar um tempo aqui juntamente com a sua esposa, Ana, que era uma amiga que eu adorava. O que tornou as coisas mais leves por aqui, pois eu não me sentia mais tão sozinha sem uma amiga. - Carolzinha, quando pretende ir em São Paulo? - Ana pergunta enquanto almoçamos. - Não sei, Ana, mas acredito que não vá demorar muito, eu preciso checar como vão as coisas no ateliê. - Ela diz e não deixo de notar que está usando um lindo vestido da minha marca - E obrigada pelo apoio de sempre, esse vestido é realmente lindo. - Falo e ela sorri. - Está brincando? Eu amoo essa marca. - Ela diz e me recosto na cadeira tomando um pouco de suco. - Fiquei sabendo que o Fernando namorou com a Júlia durante um período. - Comento como quem não quer nada, mas a verdade é que a falta de detalhes sobre