Ao chegar ao restaurante do hotel, avistei Carol acenando em uma mesa no canto, cercada por risos e taças reluzentes. As luzes do ambiente refletiam nos tecidos brilhantes e minúsculos que adornavam os corpos ao redor, um espetáculo de luxo e ostentação. Era um universo que eu não estava habituada, e minha própria roupa, ainda que bonita, parecia discreta demais para o cenário.— Oi, querida! Estou tão feliz que você veio! — Carmem se levantou, me envolvendo em um abraço caloroso.— Obrigada pelo convite — respondi com um sorriso educado, enquanto Rogério também me cumprimentava com um aperto de mão amigável.Carol, sempre atenta, inclinou-se para frente com aquele ar travesso que só ela tinha.— Fiquei sabendo da confusão com os quartos.— Espero resolver esse problema logo — retruquei, forçando um sorriso.Ana, que estava sentada ao lado, deu um leve toque no banco ao seu lado. Aceitei o gesto e me sentei. Fernando, do outro lado da mesa, olhou para mim com um sorriso malicioso, cl
Ana e eu decidimos não nos aventurar nas mesas de jogo ou nas máquinas reluzentes. Em vez disso, seguimos para o bar do cassino. — Só uma água para mim, por motivos óbvios. — Ela disse, apontando para a barriga, ainda discreta, mas suficiente para justificar sua escolha. — Eu, por outro lado, preciso de algo forte. — Respondi, enquanto nos acomodávamos nas banquetas em frente ao balcão. Ana deu uma risadinha enquanto se acomodava ao meu lado. — Parece que a noite está exigindo demais de você. — Só um pouco — respondi, forçando um sorriso enquanto olhava para o bartender. — Um bourbon, por favor. Enquanto o bartender preparava minha bebida, observei o movimento ao redor. As risadas, os brindes, as pessoas se movimentando entre as mesas com fichas reluzentes nas mãos. Um universo onde o risco e a recompensa eram a base de tudo. — Você está bem mesmo? — Ana perguntou, com aquele tom que só uma amiga de verdade usa. Virei-me para ela, hesitando por um segundo. — Estou… a
Ouço as desculpas do Henrique, mas sinto que algo está faltando. Alguma coisa está fora do lugar, não faz sentido. É como se ele estivesse escolhendo as palavras a dedo, ocultando o que realmente importa. — Henrique, alguma coisa não está batendo… — digo, levantando-me e colocando a taça de vinho sobre a mesa de centro. Minhas mãos tremem, mas eu cruzo os braços para disfarçar. — Por que você realmente se afastou de mim? Ele suspira profundamente, os ombros caindo como se carregassem o peso de uma verdade que ele não queria dividir. Seu olhar, normalmente firme, agora escapa do meu, encarando qualquer lugar que não seja o meu rosto. — Não é tão simples, Cíntia. — Não? Então explica, porque pra mim parecia bem simples antes de você sumir — retruco, minha voz um pouco mais elevada. Há um nó em minha garganta, mas eu me recuso a demonstrar fraqueza. Henrique passa a mão pelos cabelos de maneira nervosa, o gesto denunciando que ele está prestes a soltar algo importante. Ele fica
Acordei na manhã seguinte como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Não me sentia bem, e a sensação de cansaço parecia interminável. Era como se tivesse carregado o peso do mundo durante a noite. O reflexo no espelho me revelou o que eu já sabia: eu estava exausta. Minha aparência estava distante da imagem de força que eu queria passar, especialmente naquele dia, com o casamento da Carmem e do Rogério acontecendo e todos os olhos voltados para a felicidade deles. Enquanto me preparava, tentei não pensar em Henrique, mas minha mente insistia em voltar àquela conversa. A sinceridade dele me pegou de surpresa. Embora ainda me sentisse chocada, também senti um alívio ao perceber que ele não estava tentando me esconder nada. Não que isso aliviasse a dor que eu sentia, mas, pelo menos, a verdade estava ali, nua e crua. Desci para o café da manhã no hotel e, ao me olhar no espelho do elevador, percebi que, apesar da maquiagem, ela só tinha escondido parcialmente como eu realme
A manhã seguinte chegou como um lembrete brutal das escolhas que fiz e das consequências que agora enfrentava. Passei a noite em claro, andando de um lado para o outro na recepção do hotel, revivendo cada palavra dita para Cíntia. Eu sabia que tinha feito o certo ao contar a verdade, mas a maneira como ela me olhou… doía. A mágoa em seus olhos estava gravada na minha mente, me deixando inquieto. Não importava que fosse algo irrelevante pra mim, tampouco que eu estivesse livre de qualquer sentimento por Júlia. O fato de ela ter entrado em nossas vidas, era suficiente para destruir qualquer tentativa de algo entre mim e Cíntia. O hotel ainda continuava sem vagas, o que tornava tudo mais embaraçoso, pois eu tinha que esperar a Cintia sair do quarto para poder tomar banho e não receber seus olhares cortantes em minha direção. Subo para tomar um banho, imaginando que a Cintia já tenha se arrumado e saído do quarto, mas encontro ela vestindo um roupão e se maquiando. - Desculpe, pens
Acordei com a luz fraca da manhã atravessando as cortinas. A primeira coisa que senti foi a maciez do colchão e um cheiro doce, familiar. Abri os olhos devagar e percebi o corpo de Cíntia aninhado ao meu. Estávamos quase enroscados um no outro. Ela estava vestindo um roupão, o que me fez pensar que provavelmente havia acordado no meio da madrugada e tomado um banho, enquanto eu já dormia. Sua perna estava entrelaçada ao meu corpo, e sua mão descansava em meu peito, tão leve quanto a respiração calma que eu podia sentir contra minha pele. Fiquei imóvel por alguns segundos, sem saber o que fazer. Meu coração começou a bater mais rápido, como se ela pudesse sentir cada batida através da proximidade. Antes que eu tomasse qualquer atitude, senti um movimento leve, e seus olhos se abriram lentamente. Por um instante, ela me encarou, como se ainda estivesse tentando se situar. Sua expressão oscilava entre surpresa e constrangimento, enquanto o silêncio preenchia o quarto. — Bom dia…
Nós nos enrolamos em roupões secos e voltamos para o quarto, o som suave de nossos passos ecoando pelo piso. A água ainda escorria de nossos cabelos, mas o calor do quarto ajudava a dissipar o frio que vinha de dentro e de fora de mim. Henrique parecia calmo, mas eu sabia que por trás daquela expressão controlada havia pensamentos que ele também tentava esconder. Eu sentei na beira da cama, puxando o roupão ao redor do corpo como se fosse um escudo contra as emoções que me dominavam. Não era só o desconforto do que tinha acontecido, mas o que eu sabia que estava por vir. Estava cansada de lutar contra os meus sentimentos, cansada de me manter distante de tudo o que sentia por ele. Havia tanto tempo que eu me negava a sentir qualquer coisa por alguém que agora tudo parecia vir à tona de uma vez. Eu olhei para Henrique, que se apoiava na moldura da janela, as mãos cruzadas na frente do corpo, olhando para o lado de fora. Ele estava tentando me dar espaço, mas sabia que eu não podia
Depois de nos vestirmos, descemos juntos para o restaurante do hotel. O buffet era tentador, com panquecas, frutas frescas, ovos mexidos e café quentinho. Preparamos nossos pratos e caminhamos até a mesa onde nossos amigos já estavam. O som de risadas e conversas animadas enchia o ambiente, e era impossível não se contagiar pela energia deles. — Finalmente! — Carol comentou com um sorriso acolhedor, acenando quando nos sentamos. — Dormiram bem? — Bem demais até. — Respondi, ajustando a xícara de café à minha frente. — Achei que acordaria péssima depois de ontem. — E quem não achou? — Carmem riu, balançando a cabeça. — Mas acho que é o charme de Vegas, né? Exageros são quase regra. — Só quase? — Rogério completou, com uma risada. — Ontem foi um festival, e acho que ninguém saiu ileso. — Ei, eu saí! — Ana protestou, erguendo a mão com uma expressão orgulhosa acariciando a barriga. — E o Henrique também. Estamos na lista dos sobreviventes. Henrique deu um sorriso discreto e