Angel
O prédio cheirava a mofo e desesperança. Cada degrau que subimos rangia sob nossos pés, como se protestasse contra nossa presença. Eu deveria estar com medo. Com raiva. Mas tudo o que sentia era um vazio gelado no peito.
O apartamento era pequeno, mas surpreendentemente arrumado. Móveis velhos, mas limpos. Livros alinhados numa estante torta. Uma xícara de café pela metade sobre o balcão, como se alguém tivesse sido interrompido no meio da rotina.
— Sentem, — Raul disse, indicando o sofá desgastado.
Leonardo e Lucas obedeceram, mas eu fiquei encostada na parede. Eu precisava daquele apoio físico para não desmoronar.
Raul me olhava como se eu fosse um fantasma. Seus olhos estavam vermelhos agora.
— Eu sonhei com esse momento tantas vezes… — Sua voz quebrou. — Mas nenhum sonho chega perto da dor de saber que você cresceu sem saber quem eu era.
Apertei os braços contra o peito.
— Eu sabia quem era meu pai.
Ele fechou os olhos por um instante, como se aquelas palavras do