Lucas
O escritório estava silencioso, apenas o leve zumbido do computador quebrava o vazio. Eu me concentrava nos relatórios na tela, mas os números se misturavam, sem fazer sentido. Mas voltar ao trabalho depois de tudo parecia a única forma de manter minha sanidade. A rotina, o sistema, a ordem do dia, tudo isso sempre foi meu abrigo. Meu jeito de não sentir o que não podia sentir.
Herdeiro.
A palavra ecoava na minha cabeça, mas ainda não soava real. Eu repeti mentalmente algumas vezes, mas soava estranho. Quase indecente. Porque não bastava o sangue. Havia a história. E a história… tinha sido escrita com outras palavras até agora.
Estava focado em números, prazos, margens, quando ouvi três batidas breves na porta. Nem tive tempo de responder. A maçaneta girou e ele entrou.
Leonardo.
Meu corpo enrijeceu automaticamente. Ele parou na entrada, os olhos escaneando o ambiente como se estivesse revendo cada detalhe do meu espaço.
— Desculpe entrar assim, — ele disse, a voz mais baixa do