Perdido em suas Curvas
Perdido em suas Curvas
Por: Nieves G.D.
Capítulo 1 – O novo eu

- Sou uma mulher independente, forte e corajosa. Sou uma mulher independente, forte e corajosa. Sou uma mulher independente, forte e corajosa.

De pé, nua, em frente ao enorme espelho de corpo inteiro do banheiro, repeti meu novo mantra para mim mesma várias vezes, gaguejando, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Eu já tinha tomado banho, mas o som da água corrente me ajudou a me acalmar, o vapor que saía da água parecia calmante. Além disso, meus gemidos eram menos audíveis.

A batida repentina na porta do banheiro me fez reagir com um pequeño sobressalto.

- Sim, sou eu.

- Filha, sou eu? Você está bem? – Reconheci a voz do meu avô Chester do outro lado da porta. Tentei me acalmar, respirei fundo e limpei minha garganta.

- Sim… Sim, Abu, obrigada. – Os passos de meu avô podiam ser ouvidos atravessando a sala. – Há algo errado? – perguntei nervosa, tentando parecer natural.

- Não, filha, não é nada sério, é que eu bati várias vezes na porta do seu quarto e você não respondeu, fiquei surpreso e por isso me atrevi a entrar, com licença. – Meu avô falou um pouco mais alto. Fechei a torneira do chuveiro para ouvi-lo melhor.

- Ah, sim, Abu, eu estava no chuveiro e tinha uma música tocando, por isso não o ouvi. – Menti para ele, me sentindo culpado, fechei os olhos com força. – Por que estava me procurando?

- Querida, eu queria lembrá-la de que hoje à noite teremos um jantar com nossos novos parceiros.

“Jantar?!”, eu havia me esquecido completamente e, justamente naquele dia, não estava em minha melhor forma para enfrentar um grupo de empresários que certamente discutiria negócios, o futuro de suas empresas, seus filhos, seus netos e faria piadas de mau gosto.

Sempre fui sincero com meu avô, pode-se dizer que temos uma ligação, um carinho muito especial um pelo outro, mas se eu contasse a verdade sobre o que estava acontecendo comigo naquela noite, o principal motivo pelo qual eu não queria ir ao jantar, eu tinha medo de acabar decepcionando-o novamente e não queria passar por isso de novo, pelo menos não no momento.

Eu tinha que perder aquela tortura, no estado em que eu estava, não conseguiria suportar. Então, não tive escolha, tive que mentir para meu avô Chester novamente.

- Desculpe, Abu, eu me esqueci e já fiz planos para esta noite com… - pensei nervosamente e o primeiro nome que me veio à mente saiu. – Mike! – Frustrado, dei um tapa na testa: “Não consegui escolher outra pessoa?

- Ah, sim, que bom! Posso saber quais são seus planos? – Ele parecia muito interessado.

- Nada importante, um jantar. – Eu inventei, não queria alimentar suas expectativas.

- Claro! Agora me lembro, não é nesta semana que você faz aniversário? – Meu avô continuou a perguntar do outro lado da porta, enquanto eu implorava mentalmente para que ele parasse de perguntar.

- Mmmm, sim.

- Fico feliz, filha, são dois anos juntos… Sabe de uma coisa? Aposto que ele vai me pedir em casamento hoje à noite. – Ele comentou encorajadoramente.

Essa simples frase foi um punhal em meu coração. Agarrei-me ao balcão da pia, respirei fundo para impedir que as lágrimas voltassem a escorrer e engoli com força para me livrar do nó que se formou em minha garganta novamente.

- Não exagere, vovô. – Tentei me esquivar, o que eu poderia dizer a ele para tirar essa expectativa de sua mente.

- Você verá, filha! Tenho certeza disso! – Ele me garantiu animadamente. Não respondi, não me atrevi a continuar com essa farsa. Como não houve resposta de minha parte, meu avô decidiu interromper a conversa por enquanto. – Bem, vou deixá-lo para terminar de se arrumar, provavelmente chegará em casa bem tarde hoje, então espero vê-lo amanhã cedo na empresa com as boas notícias, lembre-se de que temos uma reunião.

- Boa noite, vovô. – murmurei, ainda tentando reunir forças para soltar meu aperto.

- Boa noite, filha.

Ouvi uma porta se fechar ao longe, meu avô tinha ido embora, eu podia voltar a sofrer sozinha, em meu próprio buraco pessoal.

Que horror, eu me senti péssima! Não apenas menti para meu avô sobre meus planos para esta noite, mas também menti para ele sobre meu relacionamento, pois, na verdade, Mike havia terminado comigo naquela mesma manhã.

Eu costumava pensar que, depois de tantas decepções amorosas e ao longo do tempo, a pessoa acabaria se tornando imune à dor de um rompimento, mas, pelo menos no meu caso, não era esse o caso.

Na verdade, minha decepção foi ainda maior quando, após dois anos de relacionamento, no dia do nosso aniversário de namoro, Mike combinou de me encontrar em um café agradável, algo muito incomum, o que me fez supor que ele teria uma surpresa romântica ou um detalhe.

Fiquei de boca aberta, é verdade, eu estava esperando uma surpresa e fiquei bastante surpresa quando Mike chegou com sua nova assistente, Lisa, uma jovem deslumbrante, magra e bonita. Ali, na frente dela, ele terminou comigo, explicando que havia se apaixonado por ela, enquanto a garota segurava sua jaqueta e sorria satisfeita. Pelo menos não lhes dei o prazer de chorar na frente deles.

Tomei coragem e larguei o balcão, peguei a toalha com a intenção de sair do banheiro, mas antes de me enrolar, virei-me e olhei novamente para minha silhueta no espelho, os rolos, a gordura, a flacidez, a celulite. As lágrimas caíram por conta própria.

- Não!”, falei para mim mesma em frente ao espelho, enxugando as gotas que acabaram de escorrer de meus olhos. – Chega, Ava! Acabou! Não dá mais! Sinto muito pelo meu avô, nunca quis decepcioná-lo, mas não vou passar por isso de novo, juro para mim mesma. – Coloquei minha mão no espelho, palma sobre palma, e limpei minha garganta. – Eu, Ava, juro para mim mesma que não vou me apaixonar novamente, não vou me envolver em outro relacionamento, de agora em diante, serão apenas encontros casuais, sem sentimentos incluídos, porque não há nenhum, de agora em diante não tenho nenhum. – Fechei os olhos esperando que o fluxo de minhas lágrimas parasse de vez, abri-os novamente para me observar mais uma vez. – Sou uma mulher independente, forte e corajosa. – Repeti meu novo mantra mais uma vez.

Lavei o rosto e saí do banheiro, muito pronta para começar minha nova vida, porque, a partir de agora, eu seria um novo eu.

Havia alguma verdade na desculpa que dei ao meu avô, eu tinha planos para aquela noite. Eu me encontraria em uma boate com um grupo de amigos, que me convidaram naquela mesma manhã, assim que souberam do meu rompimento.

Mas eu não podia dizer ao meu avô que estava indo para a festa para não ir ao encontro com os sócios, isso seria inaceitável. Foi por isso que menti para ele, só que não pensei bem na mentira, Mike não era minha melhor opção quando se tratava de uma desculpa.

Enfim.

Cheguei ao clube com uma mudança em minha perspectiva, embora minha mente ainda estivesse cheia de inseguranças, eu havia feito uma promessa a mim mesma e gritei mentalmente meu novo slogan para mim mesma.

“Sou uma mulher independente, forte e corajosa”, disse em meus pensamentos, enquanto entrava na boate, com meu vestido azul-celeste justo, minúsculo e com lantejoulas, de pé, séria, um pouco desajeitada, mas fingindo estar confiante, como se me sentisse uma deusa.

Porque, embora eu não tivesse as medidas ideais de uma modelo, embora fosse verdade que eu não tinha um corpo perfeito e não podia negar que tinha alguns quilos a mais, pelo menos eu ainda tinha minhas curvas, só que mais voluptuosas do que as de outras garotas.

Ao me ver chegar com um visual tão ousado, deixando as pernas à mostra, com aquela maquiagem profunda e aqueles saltos altos, todas as minhas amigas deram um grito estrondoso em uníssono, que quase ofuscou a música, fazendo com que todos os olhares do lugar se voltassem para mim.

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