Javier
Pela primeira vez desde que nos casamos, Camille não fez questão de criar um abismo entre nós.
Ela simplesmente deitou de barriga para baixo na cama, o rosto voltado para o lado oposto ao meu. Vestia um pijama novo, de tecido macio e delicado, que contrastava com os curativos discretos em sua testa. A suavidade de seus movimentos, apesar do que havia passado, era quase desconcertante.
Eu me sentei na beirada da cama, ainda vestindo a calça social e uma camisa limpa, mas com as mangas arregaçadas. Não conseguia tirar os olhos dela, incapaz de ignorar o que tinha acontecido. Me perguntei, mais uma vez, se o que vimos no banheiro era real ou fruto de um delírio, um reflexo do caos da noite.
— Tem como parar de me olhar? Estou sentindo seus olhos em mim. — A voz dela cortou o silêncio de forma inesperada, um pouco rouca, mas firme.
A surpresa me fez sorrir automaticamente. Desviei o olhar por um instante, um gesto que raramente fazia para qualquer pessoa. Era impressionante como el