CamilleO silêncio na mansão era algo que nunca havia me incomodado tanto quanto naquele momento.Depois de tudo o que aconteceu no convento, ver Javier andando de um lado para o outro, com o celular colado na orelha, me deixava inquieta. Ele estava diferente; mais atento, mais preocupado. Talvez fosse apenas a tensão de saber que agora tinha três vidas sob sua responsabilidade — a minha e as dos gêmeos. Ou talvez fosse algo mais.Sentada na sala, com Sofia adormecida em meus braços, observei Javier falar em um tom baixo e firme com alguém do outro lado da linha. Eu não conseguia ouvir exatamente as palavras, mas era óbvio que ele estava coletando informações sobre o ataque ao convento. A cada telefonema que fazia, parecia mais determinado.Mesmo assim, eu não conseguia evitar o sentimento de incerteza que corroía meu peito.Ele desligou e ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos na janela. Alejandro, que estava no carrinho ao meu lado, soltou um pequeno gemido, mas continuou
CamilleOs gêmeos estavam adormecidos em seus assentos no carro, embalados pelo suave balanço da viagem de volta para casa.Eu ainda sentia o coração apertado pelo que havíamos acabado de fazer. Levar Sofia e Alejandro para ver a mãe de Javier foi uma decisão impulsiva, mas algo dentro de mim dizia que era o certo a fazer. Mesmo em coma, ela era a avó deles, e eles tinham o direito de conhecê-la, ainda que ela não pudesse vê-los.A clínica onde ela estava era tranquila, mas a atmosfera era carregada de melancolia. Ver aquela mulher ali, presa em um estado de sono eterno, foi mais difícil do que eu esperava. Seus traços lembravam os de Javier — a força nas feições, mesmo em repouso, e a serenidade que parecia contrastar com a intensidade dele.Sofia e Alejandro haviam permanecido tranquilos enquanto eu me sentava ao lado da cama dela, falando em voz baixa, mesmo sabendo que ela provavelmente não podia me ouvir.— Eles são seus netos — eu disse, tentando manter a voz firme. — Sofia e Al
CamilleA tarde estava fria, o vento soprando levemente, fazendo as árvores dançarem de um lado para o outro.Estava sentada à mesa de um café pequeno e aconchegante, em um canto isolado do salão, com Eleonora à minha frente. Ela estava calma, seus olhos penetrantes como sempre, mas havia algo no seu olhar que me fez sentir uma tensão indescritível no ar.O silêncio entre nós era pesado, como se houvesse algo que eu não estivesse entendendo.Eleonora sempre teve uma presença única, difícil de decifrar, e eu sabia que quando ela me procurava, era por um motivo. Ela não era alguém que fazia algo sem um plano por trás. Seus cabelos escuros estavam bem arrumados, e sua postura rígida, elegante. O café era uma tentativa de normalidade, mas eu sabia que, em breve, tudo mudaria.Ela me olhou com um sorriso suave, que não alcançou seus olhos.— Camille — começou ela, sua voz calma, mas firme. — Eu precisava conversar com você sobre algo importante. Você sabe o que está acontecendo com o Clube
CamilleO som do carro desacelerando à medida que me aproximava da mansão me deu uma sensação de desconforto. O bairro estava tranquilo, como sempre, mas algo parecia fora de lugar naquele momento. Cada curva da rua, cada rua em que passava, parecia aumentar o peso dentro de mim. Meus pensamentos estavam em uma tormenta constante, e a cada quilômetro percorrido, a culpa aumentava como uma avalanche prestes a me consumir.Sabia que a escolha que fizera não tinha volta. O que fizera para proteger meus filhos, para garantir sua segurança, me deixava com o estômago apertado, uma sensação de angústia que parecia corroer minha alma. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em mim que me dizia que eu não tinha alternativa. Eu havia sido pressionada, manipulada, e agora estava pagando o preço por isso.O motorista estacionou o carro na entrada da mansão, e saí rapidamente, sem dizer uma palavra. O som da porta batendo atrás de mim parecia distante, como se o mundo estivesse em um silêncio absoluto, e
JavierEstava andando pelos corredores da mansão, como de costume, sempre com a mente ocupada. As semanas passavam como um borrão, e eu tinha tanto para gerenciar, tantas coisas pendentes, mas nada parecia mais importante do que ela. Camille. A mulher que, ao lado dos meus filhos, se tornou a minha razão de viver. Mesmo que as circunstâncias a rodeassem com tanta dor, eu não podia deixar de sentir um amor imenso por ela, algo que ultrapassava o medo e as complicações.Quando cheguei ao quarto, a cena à minha frente me paralisou. Camille estava no chão, os braços ao redor dos joelhos, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ela estava tão absorta em sua dor que nem percebeu minha chegada. O ar estava pesado, e eu sabia que algo não estava certo.Ela, sempre tão forte, sempre tão determinada, agora parecia totalmente quebrada, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.Parei na porta, sem saber o que dizer.Por um instante, uma onda de culpa me invadiu, me fazendo quest
JavierO silêncio do meu escritório era apenas aparente. A tensão no ar, quase palpável, parecia sussurrar segredos não ditos. Os papéis espalhados sobre a mesa, junto com os relatórios da segurança, não me davam respostas. Era como se todos os esforços para manter o controle tivessem desmoronado em questão de segundos.Minha mãe estava desaparecida, sequestrada debaixo dos meus olhos. O sentimento de impotência era algo que eu não tolerava, ainda mais agora, quando minha família estava diretamente ameaçada.Minhas mãos estavam cerradas em punhos sobre a mesa. Olhei para o telefone, esperando por qualquer notícia que pudesse me dar uma pista. A cada segundo que passava, o ódio fervilhava dentro de mim. Quem quer que tivesse cometido esse ato sabia exatamente o que estava fazendo.Levaram minha mãe, a mulher que há anos estava presa no limbo entre a vida e a morte, com o único propósito de me atingir. E estavam conseguindo.A porta do escritório se abriu com força, fazendo um estrondo
CamilleEstava no quarto, embalando um dos gêmeos enquanto Carmen mantinha o outro entretido com um brinquedo de pelúcia.O dia tinha sido relativamente calmo, mas eu sabia que a paz era algo fugaz na vida que levávamos. Desde o sequestro da mãe de Javier, a tensão na casa tinha se intensificado, e, mesmo que ele tentasse esconder, eu podia ver a exaustão estampada em seus olhos.Quando ouvi o leve deslizar de um envelope sendo empurrado por baixo da porta, meu coração parou. Coloquei o bebê no berço e, com mãos trêmulas, caminhei até a porta. Peguei o envelope, sentindo o peso da ameaça que ele carregava antes mesmo de abri-lo.O bilhete tinha a mesma letra fria e meticulosa de Juan Carlos. Apenas uma frase, curta e cruel, que me fez sentir como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés:“Descubra o galpão onde Javier guarda a mercadoria ou os seus filhos serão os próximos.”Minhas pernas fraquejaram, e me apoiei na beirada da cama para não cair. O papel tremia nas minhas mãos enqu
Camille A noite estava silenciosa, mas eu não conseguia ouvir nada além do tumulto dentro da minha mente.Desde o bilhete de Juan Carlos, minha cabeça girava em busca de uma solução. Agora, com um plano em mente, sentia o coração bater forte, cada pulsação ecoando nas paredes do quarto escuro.Javier estava em uma reunião com os homens da segurança, ocupado demais para notar meus movimentos. Essa era minha única chance. Se esperasse mais, poderia perder o pouco controle que ainda tinha sobre a situação.Os gêmeos dormiam tranquilamente nos berços, suas respirações suaves contrastando com minha ansiedade crescente. Acariciei o rostinho de cada um, memorizando suas feições inocentes, como se precisasse de forças para o que estava prestes a fazer.— Eu amo vocês — sussurrei, minha voz embargada. — Tudo isso é por vocês.Peguei uma pequena bolsa onde já havia colocado algumas roupas e itens essenciais para os bebês. Carmen estava de folga naquela noite, então não havia ninguém no andar p