Camille
A água do chuveiro caía sobre mim, escorrendo pelo meu corpo e se misturando com a espuma do sabonete, antes de desaparecer pelo ralo.
Eu encarava aquele movimento, quase hipnotizada, como se a corrente pudesse levar embora o peso que carregava nos ombros, junto com o vazio que habitava dentro de mim. Mas era apenas uma ilusão. Nada parecia ser suficiente para preencher o buraco que se abriu na minha alma desde aquele dia.
Ainda assim, algo estava mudando. Talvez fosse a forma como Javier se aproximava de mim agora, como se finalmente entendesse a profundidade da dor que dividíamos. Sua presença parecia um bálsamo, mesmo que ainda carregasse o peso da mágoa pelo que ele escondeu de mim.
Talvez, apenas talvez, sua dor fosse tão genuína quanto a minha, e isso criava um terreno comum onde ambos podíamos tentar nos equilibrar.
Desliguei o chuveiro e vesti o roupão, deixando a toalha sobre o cabelo molhado. Enquanto saía do banheiro, vi Javier no quarto, caminhando de um lado para